«Vai ser um 31»: A melodia dos gritos alegres das crianças felizes

Foto: Agência Ecclesia/CB

Não me lembro quando é que redescobri os gritos alegres das crianças felizes que brincam no recreio da minha escola primária, no Vale da Amoreira. E não percebi à primeira o que era realmente. A antiga Escola N.º 5, que vejo da janela da sala, tem, há vários anos, um jardim-de-infância, para além do Primeiro Ciclo do Ensino Básico, da 1.ª à 4.ª classe.

E que gritaria alegre vem dali quando eles estão nos intervalos, a correr de um lado para o outro, a jogar, principalmente quando tomam de assalto o baloiço de ninho. Eu estou a ficar velho e estes “miúdos” cada vez mais loucos, que destemidos a “voarem” a grande velocidade nas alturas, não devem ver o chão quando levantam poeira, e as nuvens no céu são traços contínuos, como se de sinalização horizontal se tratasse, como quando vamos a olhar para a estrada da janela do carro.

Os gritos alegres das crianças felizes, as suas brincadeiras e correrias, não estão circunscritos ao horário escolar da minha antiga escola primária, nem ficam silenciados após o toque de saída e limitados a uma muito pequena amostra que se aventurava pelas ruas, sem telemóveis, ou a fazer algum recado.

No dia 28 de janeiro deste ano, a União de Freguesias à qual pertence o Vale da Amoreira colocou à disposição das crianças um novo parque infantil, mesmo no final da minha rua, ao virar da equina do prédio, perto da antiga padaria/pastelaria ‘Princesa’.

‘Amigos do Fair Play’, é o nome deste espaço, com baloiços, escorregas, “casas”, escalada, um baloiço de ninho, e, claro, gritos alegres de crianças felizes, que, nas horas de utilização são ouvidas mais na janela da cozinha e do meu quarto.

O novo parque infantil tem 4 meses, a UFBBVA informa que funciona das 09h00 às 21h00, mas não tem grades, nem portas, por isso, não está só aberto todos os dias, como a qualquer hora, e é indicado para utilizadores dos três aos 12 anos. Porque o #valevaleapena

Na passada quarta-feira (28 de maio) foi o Dia Internacional do Brincar/World Play Day. A Convenção sobre os Direitos da Criança das Nações Unidas (ONU) tem no seu artigo 31º: “A criança tem direito a brincar, a descansar e ao seu tempo livre.”

No parque infantil ‘Amigos do Fair Play’ as crianças do Vale da Amoreira, e quem aparecer, encontram este artigo, ao contrário de outras crianças, como as que vivem na Palestina – Cisjordânia e Faixa da Gaza –, na Ucrânia, em Myanmar, no Sudão do Sul, e em vários outros países na Ásia, África ou da América Latina. Defender um Estado Palestiniano ou a paz na Ucrânia soberana, não é apoiar os ataques terroristas do Hamas ou tudo o que faz o governo ucraniano. É defender os Direitos Humanos no geral, neste artigo, em particular, os direitos das crianças, o direito a viverem em paz nas suas terras. Em falta, acho eu, vozes e manifs cristãs, católicas na defesa deste direito à vida.

Segundo a UNICEF, mais de 50 mil crianças terão sido mortas, ou feridas, no âmbito da ofensiva militar de Israel em Gaza, desde outubro de 2023. Desde 18 de março, quando o Estado Israelita terminou o cessar-fogo, com o movimento islamita palestiniano Hamas, 1309 crianças morreram e 3738 ficaram feridas. Números do Fundo das Nações Unidas para a Infância desta quarta-feira. Hoje, é o Dia dos Irmãos (31 maio), certamente todos vimos as notícias da morte de nove filhos, com menos de 12 anos, de uma médica palestiniana; ou de Yaqeen Hammad, a pequena influencer de 11 anos que partilhava vida em Gaza com 100 mil seguidores, que queria “trazer alegria a outras crianças”.

Em Portugal, nem tudo são brincadeiras no porque no infantil, segundo as Comissões de Proteção de Crianças e Jovens, o abandono e a exploração do trabalho infantil são as categorias que aumentaram mais nas comunicações de perigo. Em 2024, registaram-se 58 436 queixas de situações de crianças e jovens em perigo: Abandono subiu 32% (533 em 2023 para 702 em 2024) e exploração do trabalho infantil aumentaram 98% (40 casos em 2023 para 79 em 2024), revela a síntese do relatório anual de avaliação da atividade divulgado este mês.

Amanhã, 1 de junho, é o Dia Mundial da Crianças, na Igreja Católica celebramos também o Dia Mundial das Comunicações Sociais. ‘Partilhai com mansidão a esperança que está nos vossos corações ‘, é o convite da mensagem para o 59.º DMCS, a desarmar a comunicação.

“Dai espaço à confiança do coração que, como uma flor frágil mas resistente, não sucumbe no meio das intempéries da vida, mas brota e cresce nos lugares mais inesperados: […] na esperança das crianças que, mesmo no meio dos escombros das guerras e nas ruas pobres das favelas, conseguem brincar, sorrir e acreditar na vida” – Papa Francisco

Por um mundo melhor com mais melodia de gritos alegres das crianças felizes, onde os seus direitos são garantidos.

 

(Os artigos de opinião publicados na secção ‘Opinião’ e ‘Rubricas’ do portal da Agência Ecclesia são da responsabilidade de quem os assina e vinculam apenas os seus autores.)

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