V CEN: «Na Eucaristia nada é automatismo nem magia» – Irmã Luísa Almendra

Trabalhos apresentaram testemunhos de movimentos eucarísticos, de âmbito nacional e internacional

Foto: Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Braga, 31 mai 2024 (Ecclesia) – A irmã Luísa Almendra, docente da UCP e especialista em estudos bíblicos, disse hoje no V Congresso Eucarístico Nacional (CEN) que o gesto de “repartir o pão” é central na vida das comunidades católicas.

“Na Eucaristia nada é automatismo nem magia. A escuta e a compreensão das Escrituras iniciam o processo do reconhecimento”, assinalou a religiosa.

A conferência que encerrou o primeiro dia de trabalhos do V CEN abordou uma passagem do Evangelho segundo São Lucas (24,35), que inspira o tema dos trabalhos (‘Reconheceram-n’O ao partir o pão), usando a nota tradução divulgada pela Conferência Episcopal Portuguesa: “Então eles contaram o que acontecera no caminho, e como Ele se lhes dera a conhecer na fração do pão”.

“É o dom de Deus que se dá a conhecer”, precisou.

A especialista falou num extraordinário “centro literário” na narrativa sobre a ressurreição, no Evangelho de Lucas, observando que “reconhecer uma pessoa pressupõe uma relação pessoal com ela”.

Os dois companheiros de Emaús, que tinham deixado Jerusalém após a morte de Cristo, são após o encontro com Ele “discípulos sem nostalgia, movidos por uma compreensão nova do Senhor Jesus”.

A intervenção destacou a centralidade do “gesto do partir o pão”, antecipado por São Lucas na narrativa da multiplicação dos pães.

“No gesto da escuta da palavra e no do partir o pão, cada cristão torna-se um cristão da primeira geração”, indicou.

A irmã Luísa Almendra realçou que a narrativa aponta já à “dimensão social” deste gesto.

“Os que se alimentam são também chamados a distribuir o alimento”, sustentou.

Um painel com diversos testemunhos de movimentos eucarísticos – Apostolado da Oração, Confraria do Santíssimo Sacramento e Reparadoras de Nossa Senhora de Fátima – marcou o arranque dos trabalhos da tarde.

Margarida Barroso, da Paróquia de São Julião da Lage (Vila Verde/Braga) apresentou a Liga Eucarística e explicou que na teoria sabem que “Jesus Cristo eucaristia é grande alimento” mas, na rotina, no cansaço, acabam “por esquecer e a Liga é este alerta, este lembrar, não só na hora da Missa mas fora dela”.

Para a Liga Eucarística, que tem como pilar o “amor a Jesus sacramentado”, os sacramentos são “muito importantes”, especialmente a Eucaristia e a confissão, os seus membros participam “em diversas atividades, nas Missas semanais e diárias” e têm “grande devoção a Maria, as consagrações é algo que distingue”, procuram consagrar-se a Maria e chegar “mais perto de Jesus”.

A Liga Eucarística, Movimento Eclesial de Leigos, chegou a Portugal em 1948, pelo padre João Augusto Gonçalves, da Companhia de Jesus (Jesuítas), destinada inicialmente aos homens; em 1954, a Liga foi oficialmente aprovada pela Autoridade Eclesiástica.

Margarida Barroso realça que procuram “servir melhor a paróquia, servir verdadeiramente na comunidade”, os jovens da Liga Eucarística na sua paróquia têm como exemplo beato Carlo Acutis, que faz “a ponte entre futuro, presente e passado”.

A jovem de 19 anos pertence ao Grupo Jovem Mundo Novo, da Paróquia de São Julião da Lage, e recordou a participação na Jornada Mundial da Juventude, a JMJ Lisboa 2023, que tentam que “continuem atuais e parte do dia-a-dia”, porque essa semana teve “muita importância” e permitiu, mesmo enquanto membro Liga Eucarística “viver a fé de outra forma”: “Vivenciamo-la de forma inesquecível”.

Mário Silva apresentou a Confraria do Santíssimo Sacramento de Mafra, fundada na sequência do Concílio de Trento, e salientou que a primeira referência que têm é de “março de 1597”.

Segundo o membro da confraria, os “pontos essenciais da espiritualidade” da Real Irmandade do Santíssimo Sacramento de Mafra, de acordo com o primeiro compromisso, são o “culto eucarístico, o culto da paixão do Senhor, o sufrágio das almas dos falecidos, e a ajuda mútua da vida cristã”.

“Em 2017, os estatutos da Irmandade forma reformulados, foram atualizados, com o objetivo de, cada vez mais, dar resposta aos desafios dos desafios dos dias de hoje, que põem à vida do cristão e a nós membros da irmandade, os seus fins foram redobrados em 10”, desenvolveu, onde se destaca o “ajudar os seus membros no crescimento da fé católica, subsidiando e intensificando o culto do Santíssimo Sacramento”, fomentar o exercício da caridade crista entendida no mais amplo sentido, como manifestação de amor, promover a festa do Corpo de Deus”.

Mário Silva começou por indicar que fazem parte da Confraria do Santíssimo Sacramento de Mafra muito sacerdotes nacionais e estrangeiros, destacando o núncio apostólico em Portugal, D. Ivo Scapolo, o cardeal D. Manuel Clemente, e o cardeal D. José Tolentino Mendonça, D. Rui Valério, patriarca de Lisboa, e D. Nuno Brás, bispo do Funchal.

A irmã Amália Saraiva apresentou as Irmãs Reparadoras de Nossa Senhora de Fátima e partilhou o “testemunho da vida eucarística” destas religiosas a partir do seu fundador, o padre Manuel Nunes Formigão, que, há 100 anos, participou no 1.º Congresso Eucarístico Nacional.

A interveniente começou por refletir sobre três questões do seu fundador – o que pensa da Eucaristia? Como a vive? Como a transmite? – e explica que “ele mesmo se surpreende e exclama: Quem impeliu Jesus a instituir essa maravilha do amor”.

“Experimenta na Eucaristia o incomensurável amor de Deus por nós, encontra na Eucaristia a luz para amar o próximo em todas as circunstâncias”, realçou a irmã Amália Saraiva, indicando que os escritos do padre Manuel Nunes Formigão são “atravessados com referências constantes à Eucaristia”.

A Congregação das Irmãs Reparadoras de Nossa Senhora de Fátima foi fundada, a 6 de janeiro de 1926, com a “ideia da reparação como fim principal”, uma vida que se alimenta “principalmente na Eucaristia onde Jesus Cristo se oferece pela humanidade”.

“A participação neste mistério é o momento mais importante do nosso dia: oferecemos ao Pai o trabalho, a oração, sofrimentos e alegrias, por todas as pessoas; A Eucaristia que celebramos e a adoração que fazemos não são atos isolados ou ritualistas, mas atitude ativa de solidariedade com o mundo e com os seus emergentes conflitos e problemas”, desenvolveu irmã Amália Saraiva, salientando que na adoração eucarística diária têm “um horizonte de esperança”.

De Chaves, na Diocese de Vila Real, Odete Alves apresentou o Apostolado da Oração, a atual Rede Mundial de Oração do Papa (RMOP), e o Movimento Eucarístico Juvenil (MEJ), ligados aos Jesuítas.

Na Paróquia flaviense de Santa Maria Maior, o Apostolado da Oração estava “moribundo” e a renascida ROMP inicialmente encontrou “alguma resistência”, destaca-se “alegria pela novidade e jovialidade da rede”.

A parte juvenil, o MEJ, nasceu em Chaves este ano, a 7 janeiro de 2024, no Domingo da Epifania, numa paróquia com mais de 550 catequisandos onde percebem “a insuficiência da catequese semanal” e sonharam “um caminho de aprofundamento da fé, integrado na caminhada catequética e desejo de responder”.

“O MEJ é o espaço, o momento, a oportunidade das crianças, adolescentes e jovens estarem com aqueles com quem se identificam em termos de valores cristãos; caminharem na fé com quem deseja ser acompanhado pelos irmãos, celebrarem a fé em Igreja, em comunidade”, disse Odete Alves, sobre um movimento juvenil “atual e fascinante”.

CB/OC

Foto: Samuel Mendonça/Folha do Domingo

O programa prossegue na manhã de sábado, com celebração da Missa; em seguida, o padre Carlos Carneiro, jesuíta, apresenta a conferência “Alimentar a Esperança”.

A partir das 15h00 realizam-se sete workshops sobre os temas hospitalidade, jovens (JMJ e Eucaristia), família, pobres, ecologia, espiritualidade eucarística e confrarias do Santíssimo Sacramento.

No domingo, a partir das 07h00, os participantes são convidados a fazer-se peregrinos, a pé, até ao Sameiro onde decorre a Eucaristia de encerramento do V Congresso Eucarístico Nacional.

No Fórum Braga foi instalada um espaço de adoração eucarística, pelo Apostolado da Oração.

 

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