Uso do preservativo para evitar gravidez indesejada «não corresponde» ao pensamento do Papa

Congregação para a Doutrina da Fé defende que último livro de Bento XVI respeita «nexo indivisível» da «união e procriação» de cada acto sexual

A Congregação para a Doutrina da Fé esclareceu em nota divulgada hoje que o livro ‘Luz do Mundo’, entrevista de Bento XVI ao jornalista Peter Seewald, rejeita a utilização do preservativo para evitar a gravidez indesejada.

O organismo do Vaticano sublinha que é “totalmente arbitrária” e não corresponde” às “palavras” e ao “pensamento” do Papa a ideia de que ele considera ser lícito, “em alguns casos, recorrer ao uso do preservativo para evitar uma gravidez não desejada”.

Para a Congregação da Doutrina da Fé, “o Papa propõe caminhos” que “respeitam integralmente o nexo indivisível dos dois significados – união e procriação – inerentes a cada acto conjugal, por meio do eventual recurso aos métodos de regulação natural da fecundidade tendo em vista uma procriação responsável”, pelo que se mantém a “doutrina moral” e a “praxis pastoral da Igreja”.

O esclarecimento do departamento do Vaticano que já foi dirigido pelo Cardeal Joseph Ratzinger, hoje Bento XVI, surge na sequência de “diversas interpretações não correctas, que geraram confusão sobre a posição da Igreja Católica quanto a algumas questões de moral sexual”.

O livro ‘Luz do Mundo’ gerou conclusões que “apresentaram as palavras do Papa como afirmações em contraste com a tradição moral da Igreja; hipótese esta, que alguns saudaram como uma viragem positiva, e outros receberam com preocupação, como se se tratasse de uma ruptura com a doutrina sobre a contracepção e com a atitude eclesial na luta contra o HIV-SIDA”, contextualiza o texto.

A nota, intitulada ‘Sobre a banalização da sexualidade – A propósito de algumas leituras de «Luz do mundo»’, assinala que “não raro o pensamento do Papa foi instrumentalizado para fins e interesses alheios ao sentido das suas palavras, que aparece evidente se se lerem inteiramente os capítulos onde se alude à sexualidade humana”.

Para a Congregação, “é claro” o interesse de Bento XVI em “reencontrar a grandeza do projecto de Deus sobre a sexualidade, evitando a banalização hoje generalizada da mesma”.

A nota da Congregação para a Doutrina da Fé recorda a doutrina da Igreja sobre a regulação da natalidade afirmada na encíclica ‘Humanae vitae’, assinada em 1968 pelo Papa Paulo VI.

O número 14 daquele documento refere que “se exclui qualquer acção que, quer em previsão do acto conjugal, quer durante a sua realização, quer no desenrolar das suas consequências naturais, se proponha, como fim ou como meio, tornar impossível a procriação”.

Estas normas, salienta a Congregação, não são postas em causa por Bento XVI, que no livro ‘Luz do Mundo’ “não fala da moral conjugal, nem sequer da norma moral sobre a contracepção”, mas do tema “completamente diverso da prostituição, comportamento que a moral cristã desde sempre considerou gravemente imoral”.

“Quem sabe que está infectado pelo HIV” [SIDA] coloca “conscientemente” em “sério risco a vida de outra pessoa, com repercussões ainda na saúde pública”, indica a nota.

O texto da Congregação cita as palavras do livro-entrevista para explicar que, naqueles casos, o recurso ao preservativo “com a intenção de diminuir o perigo de contágio” pode “representar um primeiro passo na estrada que leva a uma sexualidade vivida diversamente, uma sexualidade mais humana”.

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Agência ECCLESIA

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