Urgências: «Centralizar serviços» é um meio para acabar com a «insegurança permanente» no atendimento das grávidas e dos recém-nascidos, afirma bispo de Setúbal

«Escutem-se uns aos outros e encontrem soluções», pede D. Américo Aguiar aos que participam «de forma ativa» no mundo da Saúde

 

Setúbal, 11 abr 2025 (Ecclesia) – O bispo de Setúbal afirmou hoje que “centralizar serviços” é um meio para acabar com a “insegurança permanente” no atendimento das grávidas e dos recém-nascidos e partilhou quatro ideias “úteis e assertivas” para as urgências de Obstetrícia e Ginecologia.

“O facto de receber no telemóvel as indicações relativas à rotatividade das especialidades em urgência nos hospitais da Península de Setúbal permite-me partilhar muita da insegurança que se sente, perante uma situação que, até ao dia de hoje, não se consegue resolver”, explica D. Américo Aguiar, numa nota enviada, esta sexta-feira, 11 de abril, à Agência ECCLESIA.

O responsável católico afirma que “pessoalmente, e como Bispo da Diocese de Setúbal”, onde vive cerca de um milhão de pessoas, “a Saúde é um tema prioritário, porque a defesa da vida é prioritária”, e lembra os idosos, “que vão morrendo aos poucos, nas suas casas”, as mães grávidas que procuram um hospital perante o nascimento do seu bebé.

“Estejamos a recordar a criança que partiu um braço no intervalo da escola ou o trabalhador que se magoou numa fábrica, ou tantos outros casos que surgem com caráter de urgência na vida de todos, todos, todos”, acrescentou.

Na Nota Episcopal ‘A propósito do Dia Mundial da Saúde’, o cardeal D. Américo Aguiar observa que não há “condições para oferecer aos utentes, todos os dias, em todos os hospitais, todas as especialidades médicas”.

“Não temos médicos, nem enfermeiros, nem pessoal auxiliar… Sendo esta a realidade, seremos capazes de chegar a algum acordo que nos liberte de uma insegurança permanente, que exige pesquisas diárias para que cada pessoa, cada família que vive deste lado do Tejo, descubra onde se deve dirigir, de acordo com os sintomas que apresenta?…”, questionou.

D. Américo Aguiar não coloca em causa “o trabalho e a dedicação” de todos os agentes envolvidos na vida de um hospital, afirma que é preciso “ser claros nas palavras e firmes na verdade” e partilha quatro ideias que “parecem úteis e assertivas” no caso específico das grávidas e dos recém-nascidos, a partir de informações que recebeu de “pessoas experientes”.

  1. Devemos olhar para tantos exemplos, desde os regionais até aos internacionais, onde foram implementados modelos de urgências metropolitanas e urgências regionais. Assim foi possível concentrar recursos, prever o trabalho, e encontrar uma resposta eficaz e segura aos utentes. Replicar bons exemplos na Península de Setúbal seria um bom começo.
  2. Os exemplos já citados implicam a existência de um ou dois polos de urgência obstétrica com condições logísticas, clínicas e assistenciais; só assim se podem prestar cuidados capazes de responder à complexidade que implicam.
  3. Este tipo de decisões são muito exigentes e vão para lá dos compromissos das tutelas e da gestão local; na verdade, atingem o âmago da decisão de trabalhar no mundo da Saúde. Falaram-me de palavras como «altruísmo, generosidade, espírito de grupo, colocar o bem comum e a saúde das grávidas e dos recém-nascidos à frente dos seus próprios interesses», na certeza do reconhecimento social e material implícito.
  4. Tudo deverá ser pensado, planeado e executado, partindo da certeza de que não estamos perante uma situação temporária ou passageira. A falta de ginecologistas e obstetras vai muito para lá da Península de Setúbal, do Centro, do Norte, do Sul ou das ilhas de Portugal. É uma crise global, que exige uma adaptação por parte de todos. Centralizar serviços faz, assim, todo o sentido.

O Dia Mundial da Saúde assinala-se, anualmente, desde 1950, no dia 7 de abril, o cardeal Américo Aguiar, na nota episcopal, pede “que se sentem à mesma mesa” as pessoas que participam de forma ativa no mundo da Saúde e “escutem-se uns aos outros e encontrem soluções”.

O cardeal D. Américo Aguiar, enquanto bispo de Setúbal, já participou numa vigília em defesa do Serviço Nacional de Saúde, junto ao Hospital de São Bernardo (2023), esteve presente no 33º aniversário do Hospital Garcia de Orta, em Almada, na inauguração da nova Unidade no Hospital da Luz de Setúbal, e visitou os serviços de Pediatria e Cirurgia Geral do Hospital de São Bernardo, e a Unidade Local de Saúde da Arrábida, entre outros.

CB/PR

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