Primeira mensagem de Natal de Leão XIV lamenta persistência de conflitos, lembrado vítimas de guerras «esquecidas»

Cidade do Vaticano, 25 dez 2025 (Ecclesia) – O Papa evocou hoje, no Vaticano, as vítimas das guerras no Médio Oriente e na Ucrânia, entre outras regiões, lamentando a persistência de conflitos que continuam a atingir a humanidade
“Jesus assume a nossa fragilidade, identifica-se com cada um de nós: com aqueles que não têm mais nada e perderam tudo, como os habitantes de Gaza”, declarou, na sua primeira mensagem de Natal, antes da bênção ‘Urbi et Orbi’ (à cidade [de Roma] e ao mundo), desde a varanda da Basílica de São Pedro.
Leão XIV assumiu preocupações com o Médio Oriente, recordando a sua recente viagem à região, com passagem pelo Líbano, e o sentimento de “impotência” das populações locais.
“Neste dia de festa, desejo enviar uma calorosa saudação paterna a todos os cristãos, em especial àqueles que vivem no Médio Oriente e que recentemente, na minha primeira viagem apostólica, desejei encontrar. Ouvi os seus receios e conheço bem o seu sentimento de impotência perante dinâmicas de poder que os ultrapassam”, declarou.
“De Jesus invocamos justiça, paz e estabilidade para o Líbano, a Palestina, Israel e a Síria”, acrescentou.
Perante milhares de pessoas reunidas na Praça de São Pedro, numa manhã de chuva, o pontífice citou o poeta israelita Yehuda Amichai (1924–2000) para rejeitar uma paz meramente burocrática.
“Não a paz de um cessar-fogo, nem a visão do lobo e do cordeiro, mas antes como quando no coração a excitação termina e apenas se pode falar de um grande cansaço. […] Venha de repente, como as flores selvagens, porque o campo precisa dela: paz selvagem”, disse, recitando o poema “Wildpeace” (Paz Selvagem).
O Papa abordou ainda a situação no leste europeu, apelando ao silêncio das armas.
“Rezemos de modo especial pelo povo ucraniano tão massacrado: que o barulho das armas acabe e que as partes envolvidas, apoiadas pelo empenho da comunidade internacional, encontrem a coragem de dialogar de modo sincero, direto e respeitoso”, exortou.
“Ao Príncipe da Paz, entregamos o inteiro continente europeu, pedindo-lhe que continue a inspirar um espírito comunitário e colaborativo, fiel às suas raízes cristãs e à sua história, solidária e acolhedora com quem passa necessidade”, acrescentou.
A lista de conflitos e crises humanas abrangeu vários continentes, com referência às “guerras esquecidas”, nomeando o Sudão, Sudão do Sul, Mali, Burquina Faso e a República Democrática do Congo.
Leão XIV deixou uma saudação aos que “sofrem por causa da injustiça, da instabilidade política, da perseguição religiosa e do terrorismo”.
Sobre a América Latina, o pontífice pediu aos responsáveis políticos que “deem espaço ao diálogo pelo bem comum e não a preconceitos ideológicos”, e solicitou orações específicas pelo Haiti, para que cesse “toda a forma de violência”.
O Papa apelou ainda à reconciliação em Myanmar e ao restabelecimento da “antiga amizade entre a Tailândia e o Camboja”.
Leão XIV deixou palavras de solidariedade a “quem está a braços com a fome e a pobreza, como o povo do Iémen” e aos que fogem da própria terra em busca de um futuro noutro lugar, “como os muitos refugiados e migrantes que atravessam o Mediterrâneo ou atravessam o continente americano”.
A intervenção recordou também os que perderam o trabalho e os que o procuram, “como tantos jovens que têm dificuldade em encontrar emprego”, além dos que “são explorados, como muitos trabalhadores mal remunerados”.
A mensagem de Natal estendeu-se aos que estão na prisão e, “muitas vezes, vivem em condições desumanas”.
A mensagem de Natal deixou com um apelo à responsabilidade individual e coletiva para travar o ódio e a violência.
“Jesus Cristo é a nossa paz porque, em primeiro lugar, nos liberta do pecado e, em segundo lugar, nos indica o caminho a seguir para superar os conflitos, quaisquer que sejam, desde os interpessoais aos internacionais”, referiu o Papa.
A bênção ‘Urbi et Orbi’ foi precedida pela execução dos hinos do Vaticano e da Itália, pelas bandas da Gendarmaria Pontifícia e dos Carabinieri, com as saudações militares da Guarda Suíça e das Forças Armadas italianas.
OC
«Urbi et Orbi»: «Não nos deixemos vencer pela indiferença em relação a quem sofre» – Leão XIV
