Imigrantes e refugiados contam a sua vida, em palco
Lisboa, 07 mai 2022 (Ecclesia) – A peça teatral ‘Une histoire bizarre’, que é apresentada hoje e domingo no Auditório de Santa Joana Princesa, em Lisboa, leva ao palco as histórias de um jovem médico num campo de refugiados.
Em cena, 14 participantes, refugiados e imigrantes de oito países, falam oito línguas diferentes, protagonizando uma peça teatral que quer ser um grito de liberdade, de denúncia, mas também de esperança e convicção que as diferenças não dividem, mas enriquecem.
A ideia nasceu em Lesbos (Grécia), onde Sebastião Martins se encontrava como voluntário num campo de refugiados.
O jovem médico atendia uma refugiada que, após longo tempo em silêncio, lhe confidenciou, em francês: “Vou contar-lhe uma história bizarra” [une histoire bizarre].
Este testemunho de uma vida de sofrimento mas também de esperança, despertou no jovem médico português um desejo: “Gostava de ter um sítio cá em Lisboa, onde estas pessoas, como estas que eu vi lá, pudessem ser livres para contar a sua história”.
Júlio Martín é encenador e foi desafiado a abraçar o projeto.
Reconhece que não é fácil fazer teatro com quem nunca o fez e não fala uma palavra de português mas, ao fim de nove meses, sustenta que a experiência construiu um “santuário de humanidade”.
“O projeto foi construído com eles, partiu das memórias deles, das experiências que quiseram partilhar, dos seus sonhos” sublinha o encenador, em declarações à Agência ECCLESIA.
Entre as histórias reais que passam pelo palco está a de Huwaida Sorag que veio do Sudão para fugir à guerra e possibilitar às suas filhas o acesso à educação.
“No Sudão falei sempre acerca das mulheres porque elas são muito importantes na sociedade. Eu era diretora de uma organização que ajudava mulheres e crianças, gostava muito de poder continuar esse trabalho aqui” refere.
Há três anos em Portugal, no entanto, ainda aguarda pela regularização da situação escolar das filhas.
Marina Burdieieva, vem da Ucrânia e é refugiada de guerra; foi o último elemento a entrar no elenco e conta a sua história: “Todas as minhas manhãs começam com mensagens de texto que envio ou recebo deles. ‘Bom dia, estamos bem’, e é o que basta neste momento”.
Terapeuta da fala em Kiev, a refugiada reconhece que a guerra deu outro valor às palavras e aos sentimentos.
“Hoje, quando pergunto ‘olá, como estão?’, significa muito mais. Quando alguém te diz ‘estamos bem’, significa realmente que estamos vivos, que as nossas casas permanecem de pé e nós continuamos a existir”, refere Marina Burdieieva.
A reportagem está no centro da próxima emissão do Programa ‘70X7’, este domingo, na RTP2, pelas 17h30, apresentando a peça, os atores e as suas histórias de vida.
HM/OC