Uma visita rara: peregrinos de São Tomé e Príncipe estiveram em Fátima

O bispo diocesano, D. Manuel António dos Santos, fala dos desafios colocados a uma Igreja crioula

Um grupo de peregrinos de São Tomé e Príncipe participou nas celebrações do 13 de Outubro em Fátima, uma visita rara mas que corresponde a uma devoção muito enraizada naquela diocese.

“Não é fácil realizar uma peregrinação são-tomense a Portugal, devido aos condicionalismos económicos da população. Por isso ela acaba por ser algo original”, reconheceu o bispo diocesano, D. Manuel António dos Santos.

Esta terá sido a primeira viagem de um grupo oriundo de São Tomé à Cova da Iria depois da celebração dos 500 anos de evangelização do país, explicou o prelado à Agência ECCLESIA.

Em Maio de 2011, a imagem peregrina de Fátima vai visitar as duas ilhas da costa ocidental africana com o objectivo de “ajudar a aprofundar a fé daquele povo na relação com Nossa Senhora”.

“Creio que é a primeira vez que a imagem vai a São Tomé depois da independência [1975]”, referiu D. Manuel dos Santos, que sublinhou a influência do catolicismo português na Igreja local: “Quando vemos as procissões, eucaristias e ritos religiosos daquela gente apercebemo-nos que por trás está uma cultura religiosa portuguesa muito forte”.

Ao olhar para a história da diocese, o bispo de 50 anos nascido em Lamego fala de uma Igreja que passou por “muitas vicissitudes”, em parte resultantes do encontro entre a mensagem evangélica e as crenças indígenas: “Há uma presença religiosa cristã mas também com muito da cultura africana, alguma dela um pouco supersticiosa”.

“É uma Igreja crioula aquela que nós encontramos em São Tomé”, descreve o prelado: “Grande parte do povo afirma-se católico e baptiza os filhos” mas vive a religiosidade de uma maneira nem sempre “aceitável em alguns aspectos com a moral cristã”.

No entender do prelado, a acumulação de tradições ao longo de cinco séculos pode tornar-se um obstáculo para a renovação espiritual: “As comunidades com um cristianismo antigo não são as mais fáceis de trabalhar porque se habituaram a determinadas estruturas de vivência religiosa que se tornam difíceis de mudar e de adequar a formas mais consentâneas com as nossas verdades da fé”.

D. Manuel dos Santos já conhecia a realidade de São Tomé antes de ter sido ordenado bispo, em Fevereiro de 2007, dado que trabalhou no território ao serviço dos Missionários do Coração de Maria (Claretianos), congregação a que pertence.

“A maior dificuldade do país é a sua situação de pobreza”, que além de se reflectir no aspecto económico conduz também “à pobreza moral”, patente em “casos de alcoolismo muito marcantes” e na “desagregação familiar”, assinala o prelado.

Segundo D. Manuel dos Santos, o catolicismo é professado por cerca de 80% da população e a Igreja corresponde a essa presença com uma acção religiosa e social, embora limitada pela escassez de recursos.

“Procuramos investir na formação dos nossos líderes religiosos, na Pastoral Familiar, na educação. Temos vários lares de meninas, já que apostamos muito na promoção da mulher porque acreditamos que é por aí que passa muito do futuro da sociedade de São Tomé”, refere.

A maior parte dos cerca de 15 padres ao serviço da diocese pertence aos Missionários Claretianos e entre o total de sacerdotes encontram-se três portugueses.

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