Uma vida que vale a pena

Intenção Geral do Santo Padre, confiada ao Apostolado da Oração, para Junho 1. Acolher os recém-nascidos. As estatísticas comprovam-no: a taxa de natalidade em Portugal é das mais baixas da Europa. Os motivos são variados, mas o facto permanece: sendo um bem precioso para qualquer sociedade, as crianças são, entre nós, um bem cada vez mais raro. E, mesmo assim, são frequentes os casos de abandono de recém-nascidos, de maus tratos a crianças, de exploração destas na mendicidade ou na prostituição, no trabalho clandestino… para não falar na praga moral do aborto, clandestino ou legalizado, que tantos se empenham em promover abertamente como um sinal de progresso, civilização e cultura – deixando para quem se opõe a tais práticas bárbaras e à sua legalização o epíteto de inimigos da liberdade e dos direitos das mulheres, gente prisioneira de tabus religiosos e preconceitos infundados sobre a origem e o valor da vida humana. A esta pandemia do «culturalmente correcto» urge opor a serenidade de um alegre e agradecido acolhimento de cada vida que é gerada e nasce, amando-a por si mesma e não por quaisquer cálculos ou interesses. Aos comportamentos criminosos de quem ofende a dignidade das crianças recém-nascidas ou já mais crescidas, urge opor atitudes corajosas de denúncia, acção firme das autoridades civis e generosa dedicação ao seu bem-estar, criando estruturas, disponibilizando meios. Sobretudo, disponibilizando-se para acolher, cuidar e amar aquelas sem lar ou que não encontram no próprio lar quem o faça. 2. Oferecer afecto aos enfermos e idosos. Também os idosos, na fragilidade própria dos seus muitos anos, se encontram, quase sempre, à mercê de quem cuida ou devia cuidar deles. E tal como com as crianças ainda por nascer, vai-se difundindo uma mentalidade utilitarista que vê o idoso como um peso – particularmente quando, à idade, se junta a doença incurável. Neste caso, e com a justificação de ser para bem deles, são cada vez mais numerosas as vozes a promover a legalização da eutanásia, para pôr fim a uma vida considerada sem dignidade, sem utilidade e sem sentido, ainda por cima carregada de sofrimento – e já se vai mesmo ao ponto de pretender aplicar a eutanásia a crianças com doenças graves e, em princípio, incuráveis, para serem poupadas ao sofrimento! A esta «cultura da morte», na sua lógica assassina não assumida, cada vez mais enraizada no «senso comum», importa opor a capacidade humana de afecto que leva a dar-se aos outros, em particular aos mais frágeis. Haverá, certamente, um trabalho cultural a fazer, para mostrar as contradições desta «cultura da morte» – mas este só será eficaz quando for acompanhado de um efectivo serviço à vida, seja em favor das crianças, ainda não nascidas ou já nascidas, seja em favor dos doentes e dos idosos, seja, em geral, em favor de quantos se encontram em situação de necessidade. 3. Tarefa das famílias cristãs. Diz-se, por vezes, que os cristãos têm as mesmas obrigações dos outros cidadãos. É certo… até certo ponto. Há, sem dúvida, deveres de cidadania comuns, exigências de humanidade partilhadas por todos. Os cristãos, porém, mesmo quando fazem o comum, hão-de fazê-lo com uma consciência particularmente apurada, fruto da sua condição de discípulos de Jesus. E além das obrigações comuns, há, para os cristãos, um mundo de valores e atitudes a descobrir e viver, fruto da sua adesão ao Evangelho! No caso das famílias cristãs, pode dizer-se o mesmo. Como deve ser igual e, ao mesmo tempo, tão diferente a família cristã no acolhimento à vida gerada e nascida no seu seio! Sem falar no aborto e na eutanásia, que deveriam ser impensáveis para qualquer família cristã, há toda uma gama de compromissos com a vida, em particular, com a vida humana nos seus estados mais frágeis, aberta ao empenho das famílias cristãs: visitar os doentes ou os idosos, prestar-lhes pequenos (ou grandes) serviços que ajudem a melhorar o seu quotidiano, testemunhar-lhes um afecto profundo, próprio de quem encontra Cristo no irmão sofredor ou desamparado… A forma mais eficaz de enfrentar a «cultura da morte» não é a denúncia – embora esta seja necessária. É o compromisso quotidiano com a vida, uma vida de qualidade humana e cristã que vale a pena ser vivida, apesar de todas as penas que possa trazer consigo. Eis o que de mais original as famílias cristãs podem trazer à sociedade: valores partilhados com todas as outras famílias mas repletos de um sentido novo, porque enraizados num contexto mais vasto, próprio da fé que as anima. Elias Couto

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