A Igreja Católica em Portugal prepara-se para celebrar o Dia Nacional da Cáritas, precedido durante esta semana que o antecede por um conjunto de actividades diversas em todas as Dioceses. A iniciativa tem como tema geral “Erradicar a Pobreza. Radicar a Justiça”.
Em entrevista à Agência ECCLESIA, D. Carlos Azevedo, presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social, destaca a importância de um esforço conjunto para a erradicação da pobreza e perspectivando as implicações que a visita de Bento XVI poderá trazer para esta área. Cada um deve também reequacionar o seu posicionamento face ao mundo do trabalho, adverte, frisando também que “o combate contra a pobreza e a exclusão social depende muito de comportamentos pessoais, na relação com o outro, mas também de empresas para que assumam com mais atenção a sua responsabilidade social”.
Quanto às políticas públicas, o Bispo auxiliar de Lisboa assinala que “por um lado é necessário providenciar o socorro imediato para quem precisa, mas é preciso também dar condições para que essas pessoas saiam da pobreza, porque é possível erradicar a pobreza”.
“A sociedade civil, nomeadamente alguns movimentos na Igreja – Cáritas, Misericórdias, a Sociedade São Vicente de Paulo, entre outras organizações –, têm feito um bom trabalho, mas o seu trabalho não é visto. Os políticos não gostam do trabalho que exige muito esforço e pouco rendimento. Formar pessoas é lento, exige paciência, com fracassos, desânimos, resistências pelo meio”, acrescenta.
Além da entrevista, para o dossier que a Agência ECCLESIA apresenta foram desafiados dois economistas a respeito do tema escolhido pela Cáritas Portuguesa.
Manuela Silva escreve que “o reconhecimento de que a pobreza material involuntária constitui uma violação de direitos humanos, tanto mais que, no actual estádio de desenvolvimento económico, a produção mundialmente alcançada é suficiente para permitir a satisfação das necessidades básicas de toda a população do Globo”. “Se tal não acontece, isso fica a dever-se à grande desigualdade que caracteriza a repartição do rendimento e do progresso material e às demais disfunções do funcionamento do sistema económico actual”, prossegue.
Já João César das Neves assinala que “a pobreza, tal como a doença, o crime e a corrupção, é um mal humano profundo, que teremos sempre de atacar e vencer, sem nunca completamente o erradicar. Os meios de combate têm de compreender esta evidência”.
“As entusiásticas proclamações política de erradicação da pobreza têm embatido contra algo mais profundo e influente que a realidade produtiva”, sublinha.
Programa
O presidente da Cáritas Portuguesa, Eugénio Fonseca, apresenta as diversas iniciativas que darão vida à semana dedicada a esta organização católica. Entre os dias 4 e 7 de Março, gente voluntária percorrerá as ruas a pedir o donativo monetário para os mais pobres. Além das celebrações eucarísticas de 7 de Março, Dia Cáritas, nas várias dioceses, são também promovidos ainda colóquios, exposições fotográficas e de trabalhos, dádivas benévolas de sangue e de medula, feiras socioculturais, concertos musicais, entre outros.
No dia 2 de Março, na estação do Metro do Alto dos Moinhos, em Lisboa, entre as 10h00 e as 18h00, serão convidados cidadãos com responsabilidades públicas e todos os demais a subscreverem uma Petição Europeia, “pedindo que redobrem as suas preocupações, na erradicação da pobreza infantil, no assegurar um nível mínimo de protecção social para todos, no aumento da protecção de serviços sociais e de saúde e, ainda na garantia de emprego digno para todos”. A nível europeu pretende-se conseguir, pelo menos, um milhão de assinaturas. Em Portugal, 30 mil.
Eugénio Fonseca sublinha, contudo, que “tudo o que está programado só valerá a pena se conseguir a adesão dos cidadãos e cidadãs, em particular, dos cristãos e cristãs, independentemente da missão que desempenhem na Igreja, e se as mensagens difundidas foram acolhidas no coração de cada um/a para que cheguem às consciências em ordem à sua transformação”. “Só assim se alcançará uma Nova Ordem, marcada pela radicação da justiça e pela erradicação da pobreza”, conclui.