Teresa Osório Gonçalves viu o Papa reconhecer o seu trabalho, ao nomeá-la consultora do Conselho para o diálogo inter-religioso A portuguesa Teresa de Jesus Osório Dias Gonçalves é, desde a passada Terça-feira, consultora do Conselho Pontifício para o diálogo inter-religioso (CPDIR), organismo da Cúria Romana no qual coordenou, entre 1988 e 2004, o grupo de trabalho sobre seitas e novos movimentos religiosos. A viver em Roma “há muitos anos”, após ter decidido abandonar Coimbra para ir estudar teologia, esta leiga é uma das vozes mais ouvidas pelo Vaticano quando o tema é a famosa “New Age” e foi mesmo uma das autoras do documento do CPDIR sobre este fenómeno, apresentado em Fevereiro de 2003: “Jesus Cristo, portador da água viva. Uma reflexão cristã sobre a New Age”, onde se refere que a “New Age” tem teorias sobre Deus, o homem e o mundo incompatíveis com a fé cristã. Em declarações à Agência ECCLESIA, Teresa Osório Gonçalves considera que a nomeação de Bento XVI foi um “reconhecimento” pelo trabalho que desenvolveu no referido Conselho Pontifício, ao longo de 17 anos. Reformada desde 2005, acolhe com naturalidade a missão de consultora, afirmando que “é normal que gostem de contar com a minha possível colaboração”, até porque se especializou num tema que “ainda não foi aprofundado por muita gente”. Curiosamente, quando chegou a Roma as Universidades Pontifícias não admitiam mulheres ao estudo da Teologia. Especializou-se, por isso, em Ciências Religiosas no Instituto Regina Mundi, uma instituição ligada à Universidade Gregoriana que se dedica exclusivamente à formação teológica de mulheres. Na capital italiana passou pela secção portuguesa da Rádio Vaticano e, posteriormente, pela Embaixada do Brasil junto da Santa Sé. O chamamento para o então Secretariado para os não-cristãos (o actual CPDIR foi criado por João Paulo II em 1988) aconteceu há mais de 20 anos, em 1986, com a missão particular de estudar as seitas ou novos movimentos religiosos. Na sua última obra, «In attesa di una “nuova era”. i percorsi alternativi della religiosità» (À espera de uma “nova era”. Os percursos alternativos da religiosidade – Città Nuova, Roma, 2007), a própria confessa que se encontrou perante “uma estrada por descobrir” e “muitas questões em aberto”, sobretudo a nível da sociologia religiosa. Uma das ideias que mais defende é a da dupla tendência, no mundo de hoje, perante o fenómeno religioso: a busca de unidade, expressa no movimento ecuménico e em muitas iniciativas de diálogo inter-religioso; o crescente pluralismo religioso, que se deve à criação e difusão de novas denominações, a nível internacional. No grupo sobre seitas e novos movimentos religiosos, Teresa Osório Gonçalves trabalhou em conjunto com membros de outros Dicastérios da Cúria Romana – os Conselhos Pontifícios para a promoção da unidade dos cristãos e para a cultura, a Congregação para a evangelização dos povos -, algo que classifica como “uma experiência muito rica e frutuosa”. Deste trabalho, além do documento de 2003, resultou ainda o livro “Seitas e Novos Movimentos Religiosos. Antologia de textos da Igreja Católica (1986 – 1994)”. A nova consultora do CPDIR destaca, destes anos, os vários “contactos pessoas”, seja com representantes dos “movimentos alternativos” seja com representantes diplomáticos, bispos ou leigos preocupados com a pressão a que eram submetidos pelas seitas. No prefácio do último livro de Teresa Osório Gonçalves, o Arcebispo Michael L. Fitzgerald, antigo presidente do CPDIR e actual Núncio Apostólico no Egipto, sublinha que a portuguesa se “dedicou, ao longo destes anos, ao estudo do fenómeno contemporâneo da religiosidade, com inteligência e perspicácia, adquirindo uma rara competência nesta matéria”. Por diversas vezes representou o Dicastério em encontros e congressos, tendo visto várias das suas intervenção publicadas na revista Pro Dialogo, do CPDIR, no jornal L’Osservatore Romano e em várias outras revistas e livros.