Uma Missão para todas as idades

O Verão oferece experiências missionárias que se transformam em percursos interiores de descoberta Tempo de Verão, tempo de férias. É uma verdade para uns, mas que vai mudando. O número de voluntários que partem em missão assim o dita. Jovens estudantes, jovens licenciados, mais velhos e mais novos, procuram viver uma experiência, que passando de boca em boca, vai contagiando e enviando portugueses para terras de missão. Pela primeira vez parte Jefrey Capitão. Tem 19 anos e dia 8 de Agosto parte rumo a Cabo Verde. Junta-se a mais oito jovens, da Apúlia, Esposende, para uma experiência de 21 dias. “Achei que era uma boa altura para expandir os meus horizontes da fé e partilhá-la num país africano”. O projecto em Pedra Badejo, na Ilha de Santiago, foi já iniciado por outros jovens. Por isso, dando continuidade, vão trabalhar em várias tarefas. Jefrey, particularmente, vai ensinar música, outros vão trabalhar em ateliers com crianças. Antes da partida, os jovens que repetem a experiência partilham “a alegria das crianças”, refere. A expectativa de uma nova cultura, muito diferente de Portugal não o assusta. “Se respeitar as pessoas, acredito que tudo correrá bem”. Está prestes a realizar um sonho. “Este trabalho é fundamental para qualquer pessoa”. No regresso “espero vir mais aberto, mais desperto e ter crescido na fé” e poder partilhar a experiência com outros. Outra experiência tem Ana Laura Guedes. Em 2000 partiu para uma pequena experiência de voluntariado. Na altura, ainda trabalhava como professora do ensino básico, e com apenas um mês de férias, era esse o tempo disponível para partir. Em Angola trabalhou com a Sociedade Missionária Boa Nova e com as Escravas do Coração de Jesus, as primeiras que a acolheram. A partir daqui, todos os Verões a experiência repetia-se. Durante um mês ia para Luena, a 1300 quilómetros de Luanda, em Angola, para trabalhar nas escolas e a partir daqui surgiu o contacto com os Salesianos. Ainda em tempo de guerra, Ana Laura recorda as primeiras viagens como experiências muito gratificantes. No final da guerra, levou sete voluntários consigo, em experiências de um mês, novamente. Em 2004 foi o único ano em que não pode voltar. “Com muita pena, custou-me muito ficar”, acrescenta. Em 2005 rumou ao Brasil, para Belém, onde esteve com os Salesianos, a trabalhar num bairro com os sem terra. Em 2006, voltou a Angola. Mas ficou em Luanda, juntamente com outro voluntário, por um período de 50 dias, numa experiência com meninos de rua, numa paróquia que tem duas casas para crianças – “uma para os adaptar a regras e outra de uma família com cinco filhos, que acolhe 13 meninos de rua, que estão já a estudar”. Este ano a experiência em Luena repete-se, mas por mais tempo. Na realidade, está em Portugal por um período de poucos dias, pois amanhã, dia 4, volta para África para retomar o projecto que iniciou em Janeiro deste ano, que findará só em Dezembro, porque a reforma e os seus 57 anos assim o permitem. Não está directamente a dar aulas, mas se assim houver necessidade também o faz, nas áreas do português e matemática. Trabalha directamente com os professores na organização pedagógica da escola. Mas “faço tudo aquilo que é preciso”. Dá aulas aos professores também, sejam eles italianos ou indianos. O importante é levar “o espírito aberto e estar disponível para o que nos pedem”. O sonho de partir em missão há muito que Ana Laura o sentia, apesar da sua concretização apenas em 2000. Recorda que nesse ano ficou de “tal forma apaixonada pelos missionários” e contagiada pela alegria e forma de estar mostrando enorme dedicação ao povo angolano, “que enfrentam situações muito precárias, leva-me constantemente a querer partir e a levar pessoas comigo”. As mudanças, sabe que não as vai fazer, “nem podemos ir com esse espírito”. Mas foi contagiando todos os que percebem o seu entusiasmo pelo trabalho que faz em Luena. Em Aveiro esteve ligada ao Secretariado Diocesano de Animação Missionária, onde participava na formação de voluntários de curta duração, por isso sente que também contribuiu para entusiasmar outras que vão partindo. Quando regressa a Portugal “venho muito feliz, porque também já vou feliz”. Não esconde as saudades, mas que são sentidas em terras africanas e portuguesas. Admite que não pode decidir ir definitivamente, mas “talvez gradualmente vá ficando por lá”. Com maior disponibilidade para estar em África, “continuo a ter em Portugal a minha família, que me entusiasma para ir, mas a quem eu me sinto ligada, claro”. Os missionários com quem convive “e que acompanha o crescimento”, os sorrisos e a forma de viver daquele povo, são sempre motivos para voltar. As experiências de um mês são importantes, mas Ana Laura sublinha que ficar mais tempo permite “conhecer e acompanhar o desenvolvimento” de uma forma mais frutífera. “Tenho feito grandes amigos, que todos os anos encontro, constantemente me recordam e partilham situações que vivemos”. A alegria nas ruas, as crianças a brincarem, confiança que estabelece, a descoberta que faz das pessoas são momentos que Ana Laura guarda e que a leva constantemente a Luena. Quem vai pela primeira vez, mas não nega a possibilidade de voltar por mais tempo é o Tiago Marques. Com 24 anos parte hoje para Angola, para duas missões – Nzeto e Tomboco, no Norte de Luanda, que os Missionários do Verbo Divino mantêm em Angola. Parte por um mês. Pela quarta vez alguns membros do grupo Diálogos, partem em missão. Em terras africanas vão dar formação a professores, a catequistas, podendo também dinamizar as actividades de tempos livres e acompanhar escuteiros. Mas o trabalho, é a realidade local que o dita. Seis leigos e um sacerdote acompanham o Tiago. A vontade de partir não é recente. A experiência em si, o conhecimento de uma nova realidade sempre foram atractivos, “principalmente pela vontade de dar algo aos outros”, garante. Desenvolver um projecto no local de missão, “apesar de ser uma curta missão, pode ser benéfico quer para eles, quer para nós, que acredito, será muito enriquecedor”. Essa mesma partilha é feita por quem já esteve em missão e acalenta voltar. “Dar continuidade ao que outros começaram” e relatos de “que se receber mais do que aquilo que se dá”, entusiasmam o Tiago. Recordações de “pessoas puras que dão o pouco que têm” levam o Tiago a querer “descobrir o verdadeiro sentido da vida. Em Portugal damos significado a coisas pequenas, a futilidades e acredito que lá vou valorizar muitas coisas”. A disponibilidade de quem parte “é de quem quer dar o que tem aos outros”, na esperança de poder fazer crescer e crescer também. São estas as experiências de voluntariado missionário que jovens e menos jovens desejam abraçar. Voluntariado que se transforma em missões interiores.

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