Padre João Zuzarte, Diocese de Viseu
O momento que a Igreja está a viver sob o cuidado e guia do Papa Francisco é seguramente um tempo em que a comunidade eclesial se sente chamada à conversão e à mudança. A Igreja vê-se impelida a colocar no centro das suas preocupações a discussão e a reflexão teológico-pastoral das formas, ações, estilos, modelos e estruturas pastorais que impedem a abertura à renovação e ao realismo que os tempos atuais exigem.
Permanecer em escuta do presente, da cultura, das interrogações, das aspirações dos homens e das mulheres de hoje, não é tarefa fácil para a Igreja. Contudo, parece ser a via razoável e acertada para realizar o mandato de discernir a voz do Espírito Santo no sensus fidei do povo e nos “sinais dos tempos” do nosso mundo em acelerada transformação. Chamando a si a Gaudium et spes, o Papa Francisco relança esta necessária tarefa da Igreja e, portanto, de toda a comunidade eclesial: «Com efeito, juntamente com todo o povo cristão, o teólogo abre os olhos e os ouvidos aos “sinais dos tempos”. Está chamado a ouvir, discernir e interpretar as várias linguagens do nosso tempo, e julgá-las à luz da palavra de Deus» (G.S 44).
A necessidade de atenção aos “sinais dos tempos” para intuir os caminhos da missão, em cada tempo e em cada circunstância, é dos maiores desafios pastorais do Concílio Vaticano II, e pressupõe um olhar o mundo com amor e com esperança. Hoje como ontem, na tarefa da evangelização, a Igreja está chamada por Cristo a lançar as redes com coragem e a navegar mar adentro: «Faz-te ao largo; e vós, lançai as redes» (Lc 5, 4). Recordando assim, com bom grado o passado, vivendo com paixão o presente, e abrindo-se com confiança e esperança ao futuro, a Igreja tem de continuar aberta a decifrar o que o Espírito lhe inspira no aqui e agora da história.
É fundamental que a leitura hermenêutica e holística da realidade e do quotidiano cristão, se distancie da tentação de uma mera adaptação, evitando reduzir a fé a uma ideologia e a pastoral às “coisas” que precisa fazer. Esta leitura tem de se centrar na atualização da realidade, sem nunca perder de vista o imperativo da evangelização descrito na Carta aos Hebreus, que refere: «Jesus Cristo é o mesmo, ontem, hoje, e para sempre» (Hb 13,8).
Inspirado no Concílio Vaticano II, no magistério dos seus predecessores, nas proposições dos Padres Sinodais e na análise e experiência vivida em torno das «alegrias e esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje» (G.S 1), o Papa Francisco lançou em 2013 a Exortação Apostólica Evangelii gaudium para apresentar o seu programa de governo pastoral, indicando com clareza qual é a missão prioritária da Igreja assente na firme convicção que a Igreja não evangeliza se não se deixar evangelizar. Trata-se de assinalar a urgência de uma renovação e reforma da Igreja verdadeiramente sintonizada com o seu momento histórico, atenta aos “novos sinais” e em «permanente estado de missão», onde o paradigma não seja da «simples administração», mas a «conversão pastoral e missionária» (E.G 25).
O Aqui e Agora da vida da Igreja, apresenta a caminhada sinodal [“todos juntos”] como a resposta a esta mudança tão desejada e necessária, isto é, o estilo de ser Igreja. Sou convicto que nos estará a ser dito que esta será uma poderosa via que permitirá a abertura a novas leituras, e uma oportunidade para que sejam traçados novos percursos rumo a um novo tipo de cristianismo que salvaguarde a força e a alegria do Evangelho.
Pe. João Zuzarte
Diocese de Viseu