Uma história de amor

Homilia do Arcebispo de Évora na profissão perpétua da Irmã Concepcionista Magda Maria da Cruz Estamos a chegar ao fim da grande semana da Páscoa, durante a qual a Igreja celebra a festa da Ressurreição do Senhor. Neste clima de alegria e de esperança, o Convento das Irmãs Concepcionistas de Santa Beatriz da Silva rejubila com a profissão solene da Soror Magda Maria da Cruz. É um acontecimento de profundo significado para a Ordem da Imaculada Conceição que se vê enriquecida com um novo membro que vai consagrar-se definitivamente ao Senhor nesta família religiosa. Mas não só para a Ordem; também Campo Maior tem razões especiais para participar do júbilo do acontecimento; com efeito, S. Beatriz é campomaiorense; é a sua filha mais ilustre. Volvidos cinco séculos sobre a fundação da Ordem, mais uma jovem portuguesa pronuncia a fórmula de entrega: “Eu me consagro”. Quantas jovens o fizeram já no passado, em Portugal, em Espanha e em muitos outros países! Estamos no início do séc. XXI, no início do terceiro milénio. Quando alguns porventura vaticinariam que as vocações de consagração tendem a desaparecer, eis que nesta comunidade, como aliás em muitas outras comunidades religiosas, surgem jovens que sentiram o apelo do Senhor e tiveram a coragem e a lucidez de dizer “sim”. O que hoje se celebra nesta igreja do Convento de Campo Maior é uma história de amor: amor de Deus aos homens e dos homens a Deus. Quem não for capaz de entender esta celebração como uma história de amor, dificilmente compreenderá porque é que uma jovem promete passar a vida dentro das quatro paredes deste velho e histórico edifício. As leituras bíblicas que acabam de ser proclamadas falam-nos do sentido da consagração religiosa, como dum acontecimento relacionado com o amor. Comecemos pelo trecho da carta de S. João. O Apóstolo, referindo-se ao amor que deve circular entre os discípulos de Cristo, escreve que a origem, a fonte deste amor é Deus. “Deus é amor”. Deus, Uno e Trino, Pai, Filho e Espírito Santo, são uma Comunidade de Amor. Esta é a grande definição de Deus. Todo o amor humano nas suas diferentes formas, tem a sua origem em Deus, nosso Criador e Salvador. Seja o amor dos pais pelos filhos e dos filhos pelos pais; seja o amor dos irmãos entre si ou o amor do marido pela mulher e da mulher pelo marido; seja o amor do padre pela sua comunidade ou da missionária pelas pessoas que evangeliza. Neste quadro amplo das diferentes formas de amor se situa o amor da religiosa, chamada por Cristo a uma vida de consagração. Como ouvimos há pouco, o Profeta Oseias compara o amor de Deus pelo seu povo ao amor conjugal: “Desposar-te-ei para sempre; desposar-te-ei conforme a justiça e o direito, com misericórdia e o amor” (Os. 2,22). É isto que acontece à jovem que se consagra. A jovem que se sente atraída à vida religiosa, começa por experimentar que é Jesus quem a chama. E chama-a por amor. Renuncia então a outras formas de amor; renuncia à vida conjugal e familiar. E consagra o seu coração a Cristo e à Igreja. Esta comunhão de amor e de vida, realizada sobe a acção da graça divina, marcará toda a sua existência e será um sinal luminoso e forte de Deus entre os homens. Foi este testemunho que nos deixou Santa Beatriz da Silva, o qual atraiu até aos dias de hoje, inúmeras Irmãs sedentas de paz e felicidade. As Irmãs Concepcionistas, filhas espirituais de Santa Beatriz da Silva, são chamadas à vida contemplativa. Outros institutos religiosos são chamados a testemunhar o amor de Deus através do serviço aos irmãos, em obras instituições de caridade, nos campos da educação e outros. A contemplativa serve a Igreja e os homens na oração prolongada, no silêncio, na vida comunitária. Nunca é demais pôr em relevo a importância desta vocação, orientada para a oração, o silêncio, a oferta de si mesma ao bem dos irmãos. A nossa sociedade descristianizada tem absoluta necessidade destes testemunhos, para encontrar o caminho da paz, do equilíbrio e da harmonia fraterna. Agradeçamos a Deus a graça desta Irmã, consagrada hoje definitivamente à vida contemplativa. Que a Imaculada Conceição a conduza pelos caminhos do amor filial. Convento de Campo Maior, 14.04.2007 + Maurílio de Gouveia, Arcebispo de Évora

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