Uma família missionária

Homilia de D. Filomeno Vieira Dias, Bispo de Cabinda, na peregrinação espiritana a Fátima Irmãos e irmãs, Agradeço o convite para presidir esta peregrinação que é uma distinção para a Igreja que está em Angola e prestigia a memória de muitas e muitos missionários. Tanto os que partiram para a linha da frente como os que daqui, como retaguarda, se entregam igualmente de várias formas à missão. I. Família Missionária Hoje estamos aqui como peregrinos, estamos no mundo em peregrinação, a nossa vida é um caminhar para o Pai: sim para Ele caminhamos. Mas na verdade ninguém peregrina sozinho, há sempre um irmão de caminhada. Hoje estamos aqui como Família Espiritana que vem colocar aos pés da Mãe o seu compromisso missionário, o seu compromisso com o anúncio de Cristo – depositar neste coração do mundo, que é Fátima, as canseiras e desafios da missão, do ser e sentir-se missionário. E não podia ser de outra forma, pois, servir o Evangelho não deve ser considerado uma aventura solitária, mas um compromisso compartilhado por todas as comunidades. (Bento XI) Somos família peregrina em busca de novos céus e nova terra, nos seus membros pelo mundo afora e mediante os diferentes grupos e movimentos laicais; na sua oração, no seu testemunho, no seu apostolado e no serviço multifacetado. Família que sente o chamamento para a missão para ser no mundo chama que ilumina e aquece vidas e corações. Família que quer com todos os povos dizer como o salmista: “Eu vos louvarei, Senhor, porque me salvastes” (Sl. 29). É isto que como Igreja percebemos do que vivemos e recebemos ao longo dos mais de cem anos de presença espiritana em Angola. É este o testemunho unânime que nos chega de outros pontos do mundo, de África e das Américas, da Ásia e da Europa, experiência de doação e entrega gratuitas, de vidas que se consomem na comunicação da Vida; de sonhos que se concretizam na oblação altruísta aos irmãos, não importa de onde, de que terra, língua, cor, e até mesmo religião. É uma chama imensa… que em nome de Cristo se acende no coração dos povos, no coração do mundo e a todos envolve. II. Contínuo Pentecostes É, irmãos, a perpetuação do Pentecostes na Igreja. O atear o fogo que é a chama do amor de Deus feito serviço a favor dos irmãos. Chama que invade silenciosamente o mundo passando o testemunho de serviço a várias gerações de homens e mulheres, de jovens e donzelas, na fidelidade ao mesmo Espírito que no Pentecostes anunciou novos céus e nova terra para todos os homens. Foi esta a grande paixão de Liberman quando no longínquo ano de 1841 pensou em fundar uma família religiosa dedicada a salvação dos negros, não porque os via como uma espécie rara, mas porque sentia no mais profundo da fé, na pureza de sentimentos que ela gera, a comum origem que a todos irmana. A mesma paternidade, a mesma dignidade, a mesma promessa, a mesma e única vocação: a de serem filhos no Filho, homens novos regenerados pela graça do divino Espírito Santo. Assim começa esta epopeia, esta aventura radicada na experiência viva de Jesus feita no evangelho. Partem, para a Guiné e depois para outros destinos homens e mulheres convictos de uma só coisa: servir Cristo nos homens (Cor. 8). Para que Cristo seja tudo em todos. Espalhar, fazer atear o fogo que Jesus veio trazer à terra. Fogo de uma nova humanidade, anúncio e princípio da humanidade renovada na força do Espírito do Pentecostes. III. Missão Sempre Actual Levar e acender esta chama do amor divino em todos ambientes humanos é o desafio da nova evangelização, é o nosso desafio, é o kairós da missão contemporânea. Missão que não é nova nos fins, mas nos métodos, agentes e destinatários. Refontalizada na única Missão: a de Cristo, o redentor do homem. Por isso, também hoje sois enviados a repetir os gestos do Evangelho que acabamos de ouvir e a dizer, como Jesus, a cada homem, jovem ou pessoa que seja: “eu te ordeno: levanta-te!” (Mc. 5). Levanta-te em nome de Jesus. Levanta-te para a vida. Ele vem ao encontro do que estava perdido, morto, desencontrado e desconsolado, é este o significado último da cura da mulher que tinha um fluxo de sangue há vários anos e da ressurreição da filha do chefe da sinagoga. Jesus vem refazer e reconstruir as nossas vidas e as nossas histórias, ele vem não só anunciar, como realizar a Salvação. Ele é a salvação! Por isso, “não temas; basta que tenhas fé”(Mc. 5). E este é o drama do nosso tempo, quase ninguém conta com Deus. Colocamo-nos como limite de nós mesmos. O homem contemporâneo perdeu a dimensão da transcendência e da sua contingência, tudo termina onde termina a sua inventiva e as suas possibilidades: “porque é que ainda incomodas o Mestre?” Mas não é assim. O Evangelho de hoje desmonta precisamente esta falácia e mostra-nos que a última palavra pertence a Deus: “Jovem, eu te ordeno, levanta-te”! Não é mero sentimento ou romantismo o que estou a dizer-vos, mas esta é a verdade sobre o homem. O anúncio da pessoa de Jesus Cristo, da sua Palavra e da sua centralidade, não é algo acrescentado acidentalmente à cultura humana, justaposto a ela. Existe no coração humano uma busca misteriosa de Cristo. Sim, Cristo é a verdadeira luz que ilumina cada homem que nasce neste mundo (cf. Jo.1,9); todo homem busca-o “às apalpadelas” (cf. Jo.1-9), movido por uma atracção interior, cuja origem nem mesmo ele conhece bem. É esta a história de Jairo, de Zaqueu, da Samaritana, do ladrão arrependido, e de muitos povos que ainda não conhecem a luz do evangelho. A missão é uma resposta a essa busca. É fazer com que todas as pessoas se tornem seus discípulos. IV. Fátima Aqui, deste altar do Mundo, deste centro de espiritualidade onde se entrecruzam homens de todas as línguas, tribos e nações; deste novo cenáculo, deste santuário querido por Deus, a ti, Virgem de Fátima, Nossa Senhora, Mãe de Deus e da Igreja, Estrela da Evangelização e Rainha das Missões, A ti, Rainha de Portugal, queremos pedir que animes com a beleza da tua vida, com a simplicidade do teu ser, com a ternura do teu coração, com a força dos teus gestos a Família Espiritana, todos e cada um dos seus membros: bispos, sacerdotes, religiosas, religiosos, leigos, os jovens, os jovens – esta chama de renovação e sinal de encantada esperança – a todos estes segmentos desta grande família missionária, anima e conforta continuamente, Ò Mãe de Deus, Nossa Senhora de Fátima. Realiza um novo Pentecostes e renovai em todos o fogo do Vosso amor. Queremo-los activos e apaixonados pela Missão. Uma paixão pela missão que seja sinónimo da grande Paixão por Cristo e pela humanidade que cativou o Venerável Liberman. Devem continuar hoje na história a sua grande paixão pelas minorias, pelos excluídos, os marginalizados, os deserdados…… do mundo e não são poucos, mesmo a começar pela Europa. Sejam também actualização constante da vocação missionária da Igreja que como diz S. Paulo: não pode fazer menos do que evangelizar, ser testemunha do amor que dá vida ao mundo, um amor capaz de resgatar toda criatura humana do mal e da morte. V. Fazer Memória Neste dia não gostaria de esquecer abnegados servidores de Deus e dos homens que depois de longas canseiras, dias e noites consumidas no sertão inóspito e agreste, hoje se encontram alquebrados pelos anos ou vencidos pela doença que lhes cortou o viço da juventude? A estes homens de fé, missionários pioneiros que se entregaram totalmente à causa do Evangelho vai a nossa admiração e homenagem. VI. LIAM: Acção Necessária Liamistas, JSF, Ases, Comunidades, Professores (Momip), Continuai a partilhar as vossas vidas, o vosso tempo, os vossos bens, pois a missão é obra de comunhão. È realização plena da Igreja que é e quer ser sempre mais escola e casa de comunhão. VII Comunhão com a Igreja em Cabinda Como sabeis sou bispo da diocese de Cabinda. Uma diocese evangelizada desde o início pelos missionários do Espírito Santo. Lá teve início a terceira etapa, etapa decisiva, da evangelização de Angola. No cemitério de Lândana repousam muitos dos melhores filhos de Portugal missionário, uns falecidos em idade avançada e vários um ano, seis meses e mesmo dias após a chegada… Rezai por aquela Igreja, pelos seus sacerdotes, religiosas, catequistas, e fiéis leigos. Pedi para aquela Igreja o dom da fortaleza e a graça da unidade e da Paz. Que a Virgem Santa Maria, Nossa Senhora de Fátima, a todos abençoe e conforte com o seu amor. Amem! D. Filomeno Vieira Dias, Bispo de Cabinda

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