A certeza de que «é preciso uma aldeia inteira para educar uma criança» é lei em várias latitudes. Contraria a determinação de qualquer Governo querer educar todas as crianças
Apresentado o tema sem qualquer referência temporal, dir-se-ia que o debate sobre a liberdade de ensino, em Portugal, não é uma “história” do início do terceiro milénio.
A progressiva conquista de todas as liberdades e do exercício democrático nos variados palcos que se vão erguendo na sociedade portuguesa esbarra com a impossibilidade familiar de escolher modelos educativos e com o limite imposto a pessoas e instituições de participarem no processo educativo das novas gerações.
Ao contrário das tendências sociais e políticas da actualidade, que rejeitam afirmações singulares e propostas únicas e que adiantam as mais variadas teses relativistas para justificar comportamentos, atitudes e mesmo histórias de vida cada vez mais diferenciadas, a educação em Portugal quer afirmar-se a partir de um modelo único, imposto pelo legislador do momento.
Mesmo que o debate actual se prenda a questões económicas, elas não são a problemática fundamental. Isso mesmo tem sido afirmado pelas associações que representam o sector, nomeadamente a APEC (Associação Portuguesa de Escolas Católicas) e AEEP (Associação de Estabelecimentos de Ensino Particular e Cooperativo). Num diálogo com a sociedade e com as entidades públicas, defendem a implementação de modelos de ensino baseados na liberdade de escolha por parte das famílias, acontecendo aí, nas famílias, o apoio financeiro para o percurso escolar.
Argumentos económicos, políticos, sociais, pedagógicos e sobretudo vocacionais poderiam ser arrolados em favor deste modelo. E muitos outros…
A certeza de que “é preciso uma aldeia inteira para educar uma criança” é lei em várias latitudes. Contraria a determinação de qualquer Governo querer educar todas as crianças.
Em Portugal, parece ser esse o propósito político: querer educar, a partir de modelos únicos, todas as alunas e todos os alunos. Não apenas no que se refere à transmissão de conhecimentos. Também na imposição de princípios éticos e modelos comportamen-tais fortemente discutíveis ou mesmo reprováveis.
À necessidade de um debate técnico da questão acrescente-se a sabedoria geracional e o conhecimento que propôs modelos democráticos às sociedades da actualidade: que a escola seja o primeiro laboratório da liberdade e não seja apenas uma a educação imposta a todos.
Paulo Rocha