Uma cura milagrosa

Guilhermina de Jesus fala da «paz» que sentiu quando foi curada. Família Carmelita faz festa com a canonização do «seu» Condestável Guilhermina de Jesus foi curada por intercessão do Beato Nuno Alvares Pereira, milagre que teve o reconhecimento da Igreja. Esta católica, de 65 anos, vai estar presente no Vaticano, no dia 26 de Abril, quando Bento XVI canonizar o Condestável. Frei Francisco José Rodrigues, vice-postulador da causa da canonização do Beato Nuno de Santa Maria, aguarda confirmação da audiência com o Papa. Originalmente da diocese de Lisboa, Guilhermina de Jesus estava na diocese de Leiria quando o milagre aconteceu. A sexagenária natural de Vila Franca de Xira, que sofreu lesões no olho esquerdo por ter sido atingida com salpicos de óleo a ferver quando estava a fritar peixe. Depois de ter pedido a intervenção do Santo Condestável, foi observada por diversos médicos em Portugal e foi analisada por uma equipa de cinco médicos e teólogos em Roma, que a consideraram a sua cura miraculosa. Actualmente, com 65 anos, encontra-se num “lugar incerto”. “Desde o dia 7 em que fui curada, senti uma paz muito grande que não quero perder por nada”, explica. Ao saber que foi a sua cura que permitiu a canonização do Beato Nuno, esta portuguesa confessa: “Fiquei muito contente porque o Beato Nuno será mais conhecido e poderá ajudar mais pessoas como me ajudou a mim”. Segundo a entrevista divulgada pela postulação da causa de canonização à Agência ECCLESIA, a devoção ao Beato Nuno existe “desde pequena, desde a escola primária, com a minha professora Dona Branca, comecei a gostar dele e a ter confiança nele”. “Quando comecei a trabalhar em Ourém, mais o conheci e mais gostei dele. É um santo português muito perto de Deus e que nos pode ajudar muito”, acrescenta. O Condestável é, para Guilhermina de Jesus, “o Santo em quem confio muito e que me ajuda muito”. “Ele bem merece que façam como ele fez. Ele ajudou muito os pobres”, conclui. Missão de vida O Pe. Francisco Rodrigues teve desde 2001 a missão de recolher, analisar e enviar para Roma os documentos e o relato miraculoso que foram fundamentar o pedido de canonização. Agora, fica com “a alegria do dever cumprido”. O trabalho em favor desta canonização, “uma experiência ímpar”, é visto como uma missão de vida. Em declarações à Agência ECCLESIA, o sacerdote carmelita sublinha a fama de santidade de que goza o futuro Santo, em vários pontos do mundo, e fala da “humildade” e da atenção aos mais desfavorecido como as grandes lições do Condestável para os nossos dias. O trabalho foi “muito, longo, persistente” e o maior reconhecimento é ver o Beato Nuno no “catálogo universal” dos Santos da Igreja, no dia 26 de Abril. A celebração é particularmente simbólica para os Carmelitas, família religiosa a que aderiu o futuro Santo, reconhecido como o primeiro a criar uma “confraria do Escapulário”, à qual pertenceram o Rei, os príncipes e os irmãos de armas do Condestável. Depois de 100 anos, essa confraria transformava-se em Ordem Terceira. O vice-postulador não vê contradições entre a vida de militar e a fé do Condestável, considerando que “não podemos isolar”. “É uma vida toda, em que trabalho por Portugal, pelos valores”, assinala. “Ele é um homem de palavra, de coerência, e torna-se conhecido por ser não só guerreiro, mas principalmente defensor. Nunca fez guerra, digamos assim, sempre defendeu”, acrescenta, respeitando a dignidade de todos, independentemente de serem adversários no campo de batalha. O futuro Santo “não deixava que o exército desbaratasse, depois de ganhas as batalhas, respeitava as pessoas. Isso vai culminar nos nove anos de vida como carmelita, em Lisboa, trabalhando pelos pobres”. “Este é um homem completo, religioso e santo, que será reconhecido como tal”, prossegue. Para o Pe. Francisco Rodrigues, estamos na presença de “uma vida de muita fé, cimentada na Eucaristia e na devoção a Nossa Senhora”, fazendo do Beato Nuno um “modelo”. A sua formação na doutrina da Cavalaria levou-o a “querer viver puro e virgem, para se consagrar a Nossa Senhora”. O casamento aconteceu “por obediência” ao pai, mas a presença de Maria é constante, visível na bandeira do Condestável. Já o cronista Carmelita José Pereira Sant’Anna dizia que Nuno Álvares Pereira chorava “copiosamente” diante da imagem de Nossa Senhora, pedindo por ele e por todos os que se lhe recomendavam, pedindo graças. Uma tradição – que era repetida pela mãe da Irmã Lúcia – refere que quando o Condestável (que foi Conde de Ourém) passou pela Cova da Iria, os seus cavalos ajoelharam. “É uma história que se contava em Fátima, não se pode provar, mas fica como o registo de uma devoção particular”, indica o vice-postulador da causa da canonização. Carmelitas em festa O Padre Fernando Millán Romeral, Prior Geral da Ordem do Carmo, refere à ECCLESIA que a canonização é um “motivo de alegria”, porque implica “o reconhecimento oficial, por parte da Igreja, desta figura tão querida e tão importante na tradição carmelita”. “É um impulso, um incentivo para toda a Ordem do Carmo, especialmente nesta terra tão querida de Portugal”, acrescentou. Para este responsável, Nuno Álvares Pereira foi “uma figura importantíssima na história do Portugal medieval, um herói nacional, com muitos títulos e poder, que soube deixar tudo por ter encontrado o essencial da vida cristã”. Nesse sentido, ainda hoje surge como “um símbolo”, trazendo uma mensagem “importante, viva, actual”. Tal como no tempo do Condestável, hoje vive-se uma crise, “crise de valores, uma certa confusão, um período de convulsões”. “São precisas figuras como o Beato Nuno, que nos ajudem a encontrar o Norte, a descobrir os valores”, defende o Pe. Millán Romeral, mesmo que tenhamos de os viver “de outra maneira, com outras formas”. Para o sacerdote espanhol, não há qualquer tipo de ressentimento em relação à carreira militar do futuro Santo contra Castela. “É uma figura muito simpática, muito querida no Carmelo espanhol, embora não seja muito conhecida fora dos ambientes carmelitas”, admite. “Não existe nenhum problema, fico muito feliz por ser espanhol e celebrar a Eucaristia em honra do Beato Nuno”, diz, lembrando que o Condestável sempre foi um homem religioso, tendo passado por uma “segunda conversão”, que o levou a “viver o Evangelho mais de perto” e a deixar todas as honras. Se a nível popular, a canonização acontece desde o início, no Vaticano o processo foi muito longo, por diversos motivos. São Nuno de Santa Maria será, para o Prior Geral da Ordem do Carmo, um modelo “na devoção mariana, na devoção eucarística e no sentido da humildade”. A sua mudança radical “relativiza alguns dos ídolos que temos na nossa vida”.

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Agência ECCLESIA

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