Uma árvore frondosa

50 anos a ler a «Além-Mar» Nos últimos anos do segundo quartel do século XX, dois anos após o termo da Segunda Guerra Mundial, chegaram à diocese de Viseu uns simpáticos missionários italianos, que, de longas batinas e crucifixo à cinta, ostentavam ou grandes e «farfalhudas» barbas ou uns simpáticos «cavanhaques»: naquela altura, chamavam-se Filhos do Sagrado Coração de Jesus; hoje são conhecidos por Missionários Combonianos. A dinâmica da palavra falada por poucos não chegava. Havia necessidade de a fazer chegar a muitos. Assim, a Além-Mar nasceu em Janeiro de 1956, fazia eu 17 anos. O nome da revista havia sido escolhido num concurso feito então entre os alunos de teologia do Seminário Diocesano de Viseu. O seu primeiro número, num formato de 12 por 16,5 centímetros, foi o de Janeiro-Fevereiro de 1956, tinha 26 páginas, e a assinatura custava 12 escudos. O director era o superior do Seminário das Missões, padre Ernesto Calderola e o redactor o padre Ézio Sório. O número um foi impresso na Casa Nun’Álvares, em Gouveia. A temática, deste e dos números que se lhe seguiram, até era variada e destinava-se tanto a adultos como a jovens. Versava o recrutamento vocacional em Portugal, dava notícia do trabalho missionário no Norte de Moçambique (Nampula) e no Brasil (Maranhão), da difusão do cristianismo e da obra missionária no Mundo, da abertura a uma liturgia de inculturação; mas também dos usos e costumes dos povos africanos, da fauna e da flora características da África, de concursos de filatelia e da criação do grupo de «Voluntários e Andorinhas Missionários». No segundo número (Março-Abril de 1956) surgiu a secção de anedotas; no terceiro, um romance em pequenos episódios intitulado «Furacão no Deserto», da autoria de D. Ângelo Negri; e a partir daí o número de páginas passou a 34. No mês de Janeiro surgiu o número sete, com a indicação de que a sua publicação passaria a ser mensal, o seu custo anual de 15 escudos. Recebia também um segundo redactor – o padre Albino Meneguzzo (recentemente falecido e que muitos cristãos de Lisboa e Ilhas recordam com saudade) e o passatempo das palavras cruzadas. No seu número oito (Fevereiro de 1957) surgiu a página dos leitores. Viseu e as suas gentes, que receberam bem os Missionários Combonianos, receberam também muito bem a sua revista. Só um grande amigo e vizinho do Seminário, o Senhor David Dias de Almeida, angariara 103 assinaturas, pelo que recebeu o prémio de uma viagem a Fátima. Mas, nessa altura, já ela estava difundida por todo o País. Falei dos primeiros pequenos passos da pequena-grande revista. Mas não de como sempre me foi indispensável. Devorei o primeiro número e os restantes 543 que se lhe seguiram até ao dia de hoje. Foi com a leitura da Além-Mar que eu fiz uma parte da minha formação missionária e alarguei os meus horizontes de catolicidade, ecumenismo, cidadania, protecção aos mais desfavorecidos, que aprofundei os caminhos da Justiça e da Paz, a ideia de que é preciso defender a integridade da Obra do Criador. São 50 anos na companhia desta preciosa revista, que foi crescendo em conteúdo – cada vez mais valorizado e sempre aberto – e tamanho, numa dinâmica pós-conciliar. De pequeno embrião tornou-se em frondosa árvore que, à sua benéfica sombra abriga todos aqueles que querem a construção de um Mundo mais justo, próspero e feliz. Joaquim Valente da Cruz, Professor jubilado

Partilhar:
Scroll to Top