Padre Carlos Godinho, diretor da Obra Nacional da Pastoral do Turismo
O turismo é, inequivocamente, uma das atividades humanas em maior expansão em todo o mundo. Se atendermos simplesmente ao ano de 2011, verificamos que o número global de turistas foi, na generalidade, de 980 milhões, registando um acréscimo de 4% relativamente ao ano anterior, de 2010, pois este ano havia contado com um total de 935 milhões de turistas.[1] Mas se considerarmos a sequência temporal, constatamos que o número de turistas passou de 528 milhões, em 1995, para os 980 milhões em 2011, como acabamos de indicar.[2] Portugal, neste contexto, também não é exceção: em 2011 registou um total de 14,0 milhões de turistas, dos quais 7,4 milhões (53%) eram estrangeiros[3], sendo os restantes nacionais; gerando uma receita global de 8,1 mil milhões de euros, correspondente a um acréscimo de 7% no montante total da receita, por comparação com o ano de 2010.[4]
Mas, se estes são dados imediatos da mais-valia do turismo, enquanto produto económico, não podemos ficar reféns desta visão, olhando para o turismo como uma atividade verdadeiramente humana e de promoção da pessoa. Assim, um turismo humanizador tem de corresponder a uma séria conceção antropológica que lhe sirva de suporte. O turismo, pela sua natureza, tem de estar ao serviço do desenvolvimento integral da pessoa humana, numa visão integrada de todas as suas dimensões – física, psíquica, afetiva, cognitiva, social e espiritual. Ora, é aqui que a Igreja se situa, não exclusivamente na promoção da vida espiritual – tarefa que lhe é imprescindível -, mas igualmente com a preocupação de promover um turismo verdadeiramente digno da pessoa humana, pois, como afirma o Concílio Vaticano II, «tudo o que existe na terra deve ser ordenado para o homem, como para o seu centro e vértice» (GS. 12). Neste sentido, a pastoral do turismo move-nos a iluminar esta atividade dos homens com a palavra do Evangelho e a promovê-la à luz das orientações da Doutrina Social da Igreja, para que, em todas as suas dimensões, sirva, de facto, o bem da pessoa e de todas as pessoas.
O esforço de iluminação desta realidade, por parte da Igreja, inicia-se logo no pós-Vaticano II, obedecendo ao princípio estabelecido pelo próprio Concílio, que afirmava: «promovam-se métodos pastorais convenientes, para proporcionar a assistência religiosa àqueles que se deslocam por algum tempo a outras regiões para passar férias» (CD. 18). Sem nos podermos deter na história subsequente das determinações pastorais, para esta área da atividade humana, diremos apenas que se afirmou uma vasta solicitude da Igreja para com o turismo, desembocando na última referência do Papa Bento XVI, que convida a Igreja a inseri-lo na sua «pastoral orgânica e ordinária»[5].
Na verdade, o turismo manifesta-se, nos tempos hodiernos, como um verdadeiro sinal dos tempos, que urge interpretar à luz do Evangelho, como meio de responder às grandes interrogações sobre a vida presente e futura (cf. GS. 4). É um meio privilegiado para consciencializar o homem da sua condição de «homo viator», à procura de novas respostas para si, para os outros e para o mundo, na abertura a novos horizontes que o turismo também proporciona. É nesta perspetiva abrangente, traduzida, depois, em objetivos claros, que se coloca a Obra Nacional da Pastoral do Turismo, recentemente criada em Portugal. Visa, na sua ação, responder às inquietações mais profundas da pessoa humana, iluminando a sua existência, com recurso aos meios que são colocados ao seu dispor e de que pode usufruir na prática da atividade turística. Aprofundar valores; preparar meios humanos e técnicos; abrir novos horizontes, que passem do temporal ao eterno; serão, por certo, critérios da ação que agora nos move. Essencialmente, pretendemos criar um turismo de rosto verdadeiramente humano, enquanto portador de uma resposta global às inquietações sobre o sentido pleno da vida. Isto é, um turismo que, na imanência do agir humano, abra ao homem dimensões profundas de transcendência. É nesta perspetiva que nos colocamos, com uma vontade firme, na senda de um contributo futuro que possa potenciar o que de bom já se realiza.
Pe. Dr. Carlos Alberto da Graça Godinho
Diretor da Obra Nacional da Pastoral do Turismo
[1] Cf. Organização Mundial do Turismo. [Cons. 11 de julho de 2012]. Disponível em: http://www2.unwto.org/en
[2] Cf. Ibidem.
[3] Cf. «Estatísticas» in Turismo de Portugal. [Cons. 11 de julho de 2012]. Disponível em: http://www.turismodeportugal.pt
[4] Cf. Ibidem.
[5] PAPA BENTO XVI – Mensagem do Papa Bento XVI por ocasião do Congresso Mundial da Pastoral do Turismo. Cancún, 23 – 27 de abril de 2012.