Frei Daniel Teixeira, da Ordem dos Frades Menores (Franciscano), foi este ano responsável pela trezena preparatória para o dia 13 de junho, na igreja de Santo António em Lisboa. Em entrevista à Agência ECCLESIA, aborda a importância da devoção popular a um dos santos mais famosos da Igreja Católica.
Agência ECCLESIA (AE) – De que forma se vive este dia, com tanta gente na rua?
Frei Daniel Teixeira (DT) – Vive-se com expressões que são de ordem social, de convívio, de grande alegria, mas também com a dimensão religiosa, a devoção do povo a Santo António, seja em busca do milagre, apenas, seja com uma fé mais profunda, procurando que ele seja um estímulo no caminho espiritual. Claro que há necessariamente um clima de grande festa entre os habitantes de Lisboa.
AE – Esta é uma devoção que se estende um pouco por todo o mundo…
FT – Santo António é de facto um santo do mundo inteiro, como lhe chamou o Papa Leão XIII. Vive-se a expressão de uma fé e de uma confiança neste homem que conseguiu no seu tempo, através da sua pregação, da sua presença tão gentil e tão caridosa, atrair e começar a fazer imensos milagres – é porventura o santo a quem se atribuem mais milagres no mundo católico.
Foi sempre um homem rodeado de gente para o escutar – todos os seus sermões, as pessoas a quem abençoava – e chegava-se a fechar os comércios e parar zonas da cidade onde se sabia que Santo António ia falar. Do seu tempo até hoje, as pessoas veem em Santo António um homem próximo, Deus que se aproxima através da sua palavra, da sua presença, do seu testemunho.
AE – Que marca fica desta religiosidade, em Portugal?
FT – A marca é sempre a do alento, da confiança, do estímulo. Já fiz referência ao termos porventura uma religiosidade mais natural, mais popular, em que o Santo António é sobretudo aquele a quem se recorre, mas temos com certeza um grupo de gente mais madura, em termos de fé, que procura aproximar-se de Deus também através do testemunho de entrega que viveu António de Lisboa, que continua a atrair e apaixonar as gentes de Lisboa e pelo mundo além.
AE – Que atividades distinguem dia de festa?
FT – As ruas estão engalanadas, necessariamente, e as pessoas reúnem-se à volta da mesa, das sardinhas, em festa, um aspeto exterior que motiva o convívio. Vive-se também a nível espiritual, com várias celebrações eucarísticas, na igreja de Santo António, procurando permitir aos fiéis esta celebração em termos de fé. A relíquia do santo está exposta, como sinal mais palpável da presença do santo, que é também importante para o povo.
AE – O momento alto será a procissão (13 de junho, 17h00)…
FT – Sim, de facto. É uma procissão longa, que devia ser para o cristão sinal de que a vida é uma peregrinação, só estamos aqui de passagem, à medida que vamos mudando de um para o outro lugar devíamos tomar consciência disso. O percurso pelas ruas de Lisboa, mais do que uma manifestação exterior, deveria ajudar cada um a sentir-se peregrino neste mundo, a caminho da pátria, da fraternidade junto de Deus.
Esta igreja tem permanentemente grupos a chegar, da Ásia à América Latina, com um carinho muito grande, com preces para si e a sua família, mas também agradecendo milagres, desde curas físicas à transformação da sua própria. Temos imensos ecos da ação de Deus através da figura de Santo António.
AE – Como é que se explica que Santo António toque o coração de tantas pessoas?
FT – Eu creio que qualquer homem de Deus consegue marcar e aproximar-se dos outros e entrar pelo seu coração. Santo António, no contexto da espiritualidade franciscana, assumiu esta atitude de reconhecimento numa comum paternidade de Deus, que faz de todos irmãos. Ele teve a capacidade de viver a interioridade com Deus e passar a comprometer-se concretamente com situações de muita dificuldade das pessoas, tornou-se quase alguém da casa, que as pessoas acolhem com enorme ternura, devoção e esperamos também com fé.
AE – Nestes tempos de crise, essa mensagem é ainda mais forte?
FT – Este tempo faz despertar a inquietação, por causa das preocupações económicas e outras que existem na vida das pessoas, e leva a que a religião seja quase como que o último reduto, a tábua de salvação. Portanto, também através de Santo António o povo procura saciar-se um pouco e creio que Deus se serve destes momentos…
MD/OC