Um «Pátio dos Gentios» em cada paróquia

Teólogo Bento Domingues lamenta predomínio das leis canónicas sobre o acolhimento aos não católicos

Lisboa, 24 Mar (Ecclesia) – O teólogo Bento Domingues considera que a Igreja católica portuguesa está a desperdiçar as ocasiões para a transmissão da fé proporcionadas pelos “ritos de passagem”, como o baptismo e casamento.

Diante de pessoas que pedem para receber os sacramentos “apresentam-se logo as condições, evidenciando-se o carácter administrativo” que caracteriza a visão dos responsáveis de algumas comunidades, salienta o religioso à Agência ECCLESIA.

“Pergunta-se se as pessoas vão ou não fazer o curso, se têm ou não crisma – acho isso horroroso”, diz o teólogo, para quem “a primeira das primeiras exigências nas paróquias é ter gente que ajude as pessoas a caminhar”.

“Parte-se de um catecismo e de um direito canónico” e “cumpre-se o ritual como se se tratassem de pessoas convertidas”, quando o que “elas precisavam era de serem ouvidas”, refere o religioso dominicano.

Depois de defender que um cartório paroquial constitui “um lugar de encontro e não um espaço para se dizer ‘tome lá e preencha a ficha’”, Bento Domingues lamenta que as ocasiões em que não católicos recorrem à Igreja estejam a ser “muito desprezadas”.

“Compreendo que é preciso obstar ao vale tudo. O que não posso admitir é que a norma não tenha a finalidade, que é a de ajudar as pessoas a caminhar e a serem bem recebidas, porque num diálogo a primeira exigência é sentir-se acolhido”, assinala.

“Tenho encontrado coisas desastradas”, conta o teólogo, para quem todas as paróquias devem ser um ‘Pátio dos Gentios’, designação do novo organismo do Vaticano encarregue do diálogo com os não crentes, que hoje e sexta-feira realiza em Paris o seu primeiro encontro internacional.

“O que se tem são directórios sobre o que é ou não permitido. Isto não é uma Igreja de nova evangelização, nem de encontro. É uma Igreja sem pátio”, diz Bento Domingues, que lamenta: “Perdemos tantas ocasiões de evangelizar e de ser evangelizados, de falar e de escutar… Tenho pena”.

O religioso recorda a “oportunidade” de transmissão da fé que se abre ao catolicismo no “refazer o caminho de pessoas que deixaram a Igreja e o querem reencontrar” ou no “número enorme de adultos que pedem o Baptismo”.

RM

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