Um Papa na praça pública

O Arcebispo de Viena, Cardeal Christoph Schönborn, assinalou na apresentação do novo livro de Bento XVI, que o Papa sai, com “Jesus de Nazaré”, para a praça pública. “O seu livro está agora na «praça pública», oferece-se ao debate nos areópagos de nossa sociedade. O simples desejo do seu autor não é, em primeiro lugar, suscitar debates (..) o que deseja é uma só coisa, que o leitor «possa crescer uma relação vital com Ele, com Jesus do Nazaré»”, apontou. Falando ontem, no Vaticano, o Cardeal austríaco disse que não surpreende que o Papa fale de Jesus, dado que é esse o seu primeiro dever. “Surpreendente é o modo como o faz. Na capa do livro não está escrito em primeiro lugar Bento XVI, mas simplesmente Joseph Ratzinger”, referiu, para assinalar que “não fala aqui o Papa nem o Cardeal, Bispo, professor ou sacerdote, mas sim o simples fiel, o cristão Joseph Ratzinger”. Depois de estabelecer que “o ponto de gravitação, o centro interior do seu livro sobre Jesus” é “a amizade íntima com Jesus” da qual “tudo depende”, o Cardeal Schönborn lembrou que o Papa escreve que qualquer pessoa é livre de discutir e contradizer o conteúdo do livro. Lamentando as várias “teorias da conspiração” que têm surgido ao longo dos últimos anos, o Arcebispo de Viena referiu-se, em particular, à ideia tão em voga de que “a fé da Igreja em Jesus Cristo aparece como uma «divinização» posterior de um Jesus de Nazaré, sobre cuja realidade não se sabe quase nada ao certo”, algo que o Papa considera “uma situação dramática para a fé”. Para o Cardeal Schönborn é importante estar atento “ao mercado mediático, em que se colocam à venda, sem parar, descobertas aparentemente novas, que supostamente revelam uma história completamente diferente da de Jesus de Nazaré”. Este responsável, antigo aluno de Ratzinger, fez questão de sublinhar que “a representação bíblica, bem como a eclesial, da figura de Jesus” não é uma invenção de padres ou um imbróglio da Igreja. A este respeito, gracejou mesmo com as últimas teorias levantadas por obras como o “Código da Vinci”, em que a verdade sobre Jesus “é sufocada por conspiradores obscuros, localizados, de preferência, no Vaticano”. “Demonstrar a credibilidade histórica dos Evangelhos e a sua imagem de Jesus” é, pelo contrário, a principal missão deste livro de Bento XVI. “As inumeráveis imagens fantasiosas de Jesus como um revolucionário, um reformador social moderado, o amante secreto de Maria Madalena, etc. podem ser tranquilamente depositadas no ossário da história”, apontou o Cardeal austríaco, numa outra alusão às mais recentes polémicas em volta de Jesus Cristo. Num registo pessoal, o Arcebispo de Viena disse sobre actual Papa que “nos muitos anos em que foi meu professor, bispo e depois prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, nunca o vi sem ter debaixo do braço a edição crítica do Novo Testamento, em grego. Nunca conheci nenhum outro professor de teologia que tenha tido uma tão grande intimidade com a Bíblia”. O Papa “sabe do que fala”, referiu o antigo aluno de Joseph Ratzinger, “o seu livro testemunha, em cada página, quanta familiaridade tem com o trabalho das ciências bíblicas”. O Cardeal Schönborn sublinhou que Bento XVI cita uma obra do rabino Jacob Neusner intitulada “Disputa imaginária entre um rabino e Jesus”. Este texto, além de ser importante para o diálogo judeu-cristão, é utilizado pelo Papa para ter sempre presente a identidade de Jesus Cristo como Filho de Deus, como Deus feito homem. “É esta a temática central do livro. Trata-se da pergunta de Jesus em Cesareia de Filipo: «E vós, quem dizeis que Eu sou?» (Mt 16, 15)”, frisou.

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