Paulo Rocha, Agência Ecclesia

A eleição de um Papa traz sempre surpresas: pelo cardeal que os seus pares escolhem, pelo nome para sucessor de Pedro, pelas primeiras palavras… Mas não só!
A primeira surpresa que anoto não veio do interior da Capela Sistina, da votação dos 133 cardeais, do homem escolhido. E foi talvez a maior surpresa destes dias, porque comum a tantos e tantas, jovens e menos jovens, crentes, não crentes e até descrentes, peregrinos e turistas: todos os que se encontravam na Praça de São Pedro (e eram muitos, 150 mil), viveram um momento indescritível quando olharam de frente a luz que se embrulhava com o fumo branco, já na espera da vocação seguinte e em modo de pausa, de descanso para quem estava sempre a ver alto e longe.
Estes dias, desde o início do Conclave e até antes, também nos dias de homenagem e de despedida ao Papa Francisco, habitaram as ruas de Roma rostos claramente religiosos, com hábitos que a tradição romana impõe, mas não só… Terão sido muitos mais os que, mesmo distantes de rituais de interiores dos templos, povoam a experiência crente a partir dos princípios evangélicos de que a cultura continua ser sinal, porque claramente plasmados no que o humano tem de bom e belo. Também os que habitam uma proximidade a um estilo de ser Igreja em torno de uma pessoa, o Papa Francisco, que emergiu de uma cidade Estado, o Vaticano, e escolheu a empatia, o gesto e a força da palavra como o local principal para erguer a Cadeira de Pedro. Com tudo o mais, é certo!
Depois, a presença de tantos meios de comunicação social, tantos media, tantos comunicadores, de todas as geografias e em muitas línguas. Aconteceu no funeral do Papa Francisco e também durante o conclave: pela longa avenida que liga o Rio Tibre à Praça de São Pedro, multiplicavam-se as contas de quantos votos seriam necessários para eleger o Papa, os números para dois terços, os tempos de cada votação e de cada “fumata”, como chamam os romanos ao fumo branco ou negro que sai da chaminé da Capela Sistina.
A Praça de São Pedro experimentou um tempo de gravidez, de espera de uma notícia eminente, numa expectativa crescente a tal ponto de, aos primeiros sinais de fumo branco, explodir de emoção, alegria, choro… Porquê: porque muitos dos que não permanecem indiferentes a um modo de ser Igreja em saída e que vai encontro de quem precisa de acolhimento, proposto e vivido de forma modelar pelo Papa Francisco e em tantas outras pessoas e iniciativas, sentiram a necessidade de ir ao encontro do próximo Papa, do sucessor do mesmo Pedro, do vigário de Cristo na terra. Foi a primeira grande surpresa!
Depois, a surpresa da eleição de um Papa natural da América do Norte, que fora bispo no Peru, coordenador de uma Congregação Religiosa, o Padres Agostinhos, em todo o mundo, e depois homem da Cúria, escolhido pelo Papa Francisco também para cardeal. O nome não estava escondido nos dossiers de alguns jornalistas que preparavam biografias de uns poucos “papáveis” para imediatamente divulgar o perfil do eleito (como aconteceu na Agência ECCLESIA). Mas era genericamente desconhecido na Praça de São Pedro, em muitos daqueles que explodiram de alegria quando se viu o fumo branco e mesmo quando se ouviu o nome do cardeal Prevost. O que não fez diminuir o entusiasmo, o querer estar próximo do Papa, da palavra que estaria para chegar, do missionário que assumia o leme de uma barca em aparente deriva, tais são os tumultos que acontecem em tempos de mudança de época.
A surpresa da eleição foi-se transformando em assombro na medida em que chegava o conhecimento de um percurso de vida que passou por largas geografias, presenças entre homens e mulheres crentes de muitos contornos, nas duas Américas, do norte e do sul, e em todos os continentes quando assumiu as responsabilidades, durante 12 anos, como superior-geral dos padres agostinhos, congregação a que pertence e a que permanece ligado. Um percurso de vida que transformou o desconhecimento em espanto, em esperança, aquela que vai além de qualquer otimismo e certifica que está em curso a concretização de algo bom!
Entre tantas pessoas que viveram e conviveram com o atual Papa, e com quem foi possível falar nestes dias, impressionou a forma como se referiam a um líder, o padre, o superior-geral, o bispo, que se afirmou pela serenidade, prudência e forma sustentada como tomava decisões. Distante de confrontações, de esquecimentos deste ou daquele. Sem preconceitos ou construções redutoras de quem é a favor ou contra, desta ou daquela fação.
Depois, a terceira surpresa: a escolha do nome Leão. Foi surpresa também na Praça de São Pedro, entre tantos que conviveram com o Papa Francisco, o Papa Bento e também João Paulo II. E pouco mais. O último Papa Leão terminou o pontificado em no alvor do século XX. E hoje são velhas as “coisas novas” que quis trazer para as urgências da Igreja Católica, naquele tempo. Neste tempo, são outras as coisas novas e é também a essas que o Papa Leão XIV quer estar próximo, agir, transformar. Ele mesmo, o Papa Leão XIV, o afirmou no primeiro discurso, de pendor programático e aos seus mais diretos colaboradores, os cardeais, um dia depois de ser eleito.
Surpresas de uma eleição que se vão transformar em tantas outras surpresas ao longo do pontificado? Que vão fazer emergir uma nova voz na América? Ou fazer acontecer de forma cabal a receção do Concílio Vaticano II? Só as páginas deste novo capítulo da História da Igreja e da Humanidade o vão mostrar…
As linhas que se vão conhecendo mostram raízes em tantas geografias, as de sangue e de pertença religiosa, coragem para partir, como família emigrante e na liderança de tantos projetos, e ânimo no momento em que responsabilidades lhe eram apresentadas, tanto nos EUA, como em Chisclayo ou no Vaticano. Também no momento de dizer sim e assumir o pontificado de Leão XIV.
Tons de um percurso biográfico que convocam para a possibilidade de ser fiel de uma balança que tantas vezes pende ora para um lado ora para o outro, para gerar consensos tão essenciais à paz que o mundo precisa, para fazer pontes… Para ser pontífice, o nosso Papa!