O Natal vai comovendo e alterando rotinas. Mas o que é feito do presépio que provoca? O tempo que vamos atravessando, e nos vai formatando, é tomado pela linguagem visual. Dizem-nos estudos científicos que a esmagadora maioria do que apreendemos, absorvendo no espaço e nas experiências vividas, é da ordem dos estímulos visuais, da “imagem”. Mas a percentagem e as variáveis são outras na medição do impacto real da informação apreendida. O que verdadeiramente “fica”, de tudo o que “entra”, é o que nos faz “dizer” e “fazer” a experiência adquirida, seja ela qual for. Os natais que absorvem a contemporaneidade estão recheados de “imagem”. Na plasticidade das iluminações, construímos a magia das ilusões. O brilho das luzes arranca-nos do “real” e remete-nos para o extraordinário valorizando o ciclo da “emoção”. A necessidade mais intrínseca ao “ser” humano invade-nos por uns tempos, porque do “ventre” viemos e num “berço” nos começámos a entender com o mundo. Estes natais criaram, e já são, uma época especial para concentrar ternuras. Construídos sobre a lógica dos símbolos religiosos, concretizam-se no imediato de um tempo específico. Estes natais representam a universal crença nos sentimentos mais puros, atraente e encantadora, mas espoliada do transcendente que atenua a espiral consumista. É importante viver também estes natais que penetraram na esfera do inevitável. Mas a própria história destes natais não se conta sem o Natal que tem um “Menino” no presépio. Um “Menino” que valoriza a dádiva porque é oferta. Se o “pai natal” é fantasia que se concretiza na generosidade momentânea, o “Menino” do presépio é esperança para moldar os andarilhos de cada dia. Se o “pai natal” é o “fim de linha” numa noite de sonho, o “Menino” do presépio interpela, provoca, indica caminhos a quem os procura, é continuidade na vida real. Independentemente do contexto da fé, a narrativa d’Aquele “Menino” no presépio torna-se acontecimento porque contraria os “medos”. O nascimento do menino Jesus é rodeado por muitos obstáculos. Mas também por um desafio frontal aos impossíveis que atormentam – “não tenhas medo”, confia. (…) Há sempre algo ou alguém que se coloca no caminho. (…) Uma oposição, silenciosa e invisível, à força de vontade. Mas há também (…) uma resistência no âmago do desespero. Um sinal, uma teimosia, uma presença (…) quando prevalece o desalento. O menino Jesus é o culminar de uma espera. Exemplo para a humanidade, porque vence a conjugação dos obstáculos. As narrativas da infância de Jesus não começam – recomeçam a história de um projecto. Retomam a sensibilidade como linguagem. Revelam e antecipam a experiência de um testemunho. Com ou sem rigor histórico, em romance ou livro sagrado, construção emotiva ou relato iluminado, o presépio é a disponibilidade renovada para despedaçar a incoerência. Um escândalo que alimenta utopias. O Natal tem um nome que é um “Menino”. E o presépio que O acolhe é um livro aberto na história de cada ser humano, emancipado na Procura de um Encontro… Joaquim Franco, Jornalista