Um lugar para a Eucaristia (IV)

Podemos dizer, em certo sentido, que os princípios programáticos da Igreja, também para o 3º milénio, se concentram na Eucaristia. De facto, nela se encerram, para ela caminham e dela partem todas as demais acções eclesiais. Com isto, não queremos significar uma redução de tudo à Liturgia, nem, de modo algum, um auto-suficiente panliturgismo, mas tão só fazer ressaltar que o resto nada é, sem esta marca indispensável. Esta acção de Cristo que associa a Si a sua Esposa e que, pelo Espírito Santo, a convoca e reúne, a vivifica e fortalece, põe-na em movimento e a transfigura, caracterizando todas as demais acções e fecundando-as, sejam as dos indivíduos, sejam as da comunidade. A Eucaristia configura a Igreja, faz dela um sinal vivo, presente e actuante, de Cristo no mundo. Uma pastoral verdadeira que não passe pela Eucaristia, não chegará sequer a ser pastoral. A evangelização e a catequese, o testemunho e o serviço, para ela se encaminham e dela partem. Por isso, a Igreja, uma vez mais pela voz do Papa João Paulo II, nos orienta para que a Eucaristia (especialmente a Missa dominical) constitua, neste 3º milénio, o centro do todo o agir da Igreja: cume e fonte. Assim, na Carta Apostólica Novo millennio ineunte [=NMI], insiste: “«Há-de pôr-se o máximo empenho na liturgia, «a meta para a qual se encaminha a acção da Igreja e a fonte donde promana toda a sua força». No século XX, sobretudo depois do Concílio, a comunidade cristã cresceu muito no modo de celebrar os Sacramentos, sobretudo a Eucaristia. É preciso prosseguir nesta direcção, dando particular relevo à Eucaristia dominical e ao próprio domingo, considerado um dia especial de festa, dia do Senhor ressuscitado e do dom do Espírito, verdadeira Páscoa da semana. Há dois mil anos que o tempo cristão é marcado pela recordação daquele «primeiro dia depois do sábado» (Mc 16,2.9; Lc 24, 1; Jo 20,1), quando Cristo ressuscitado trouxe aos Apóstolos o dom da paz e do Espírito (cf. Jo 20,19-23). A verdade da ressurreição de Cristo é o dado primordial, sobre o qual se apoia a fé cristã (cf. 1 Cor 15,14), um facto que está situado no centro do mistério do tempo, e prefigura o último dia em que Jesus voltará glorioso. Não sabemos os acontecimentos que nos reserva o milénio que está a começar, mas temos a certeza de que este permanecerá firmemente nas mãos de Cristo, o «Rei dos reis e Senhor dos senhores» (Ap 19,16); e, celebrando precisamente a sua Páscoa não só uma vez por ano mas todos os domingos, a Igreja continuará a indicar a cada geração «o eixo fundamental da história, ao qual fazem referência o mistério das origens e o do destino final do mundo». (NMI, 35). A preparação do lugar, a formação dos ministros, a educação das assembleias, o cuidado, o esmero, a nobreza, simplicidade e fulgor, verdade e beleza nos gestos e nas atitudes, nos paramentos e objectos, na realização das acções e nos ritos, implicam a nossa sensibilidade e o desenvolvimento de uma espiritualidade incarnada (no sentido dos antigos mestres que requeriam aquela concordância do espírito com a acção litúrgica). A acção litúrgica é um dom que se acolhe e a que se adere e não uma invenção de um qualquer “iluminado”. O perigo de a transformar em espectáculo aliciante, mas vazio e infrutuoso é grande. Aqui, o que parece, pode não ser… é o ser que deve parecer e operar! A fidelidade à Eucaristia é indissociável da fidelidade à Igreja. “Por isso, desejo insistir, na linha do que disse na Carta apostólica Dies Domini, em que a participação na Eucaristia seja verdadeiramente, para cada baptizado, o coração do domingo: um compromisso irrenunciável, abraçado não só para obedecer a um preceito mas como necessidade para uma vida cristã verdadeiramente consciente e coerente. Estamos a entrar num milénio que se anuncia caracterizado por uma profunda amálgama de culturas e religiões mesmo nos países de antiga cristianização. Em muitas regiões, os cristãos são – ou vão-se tornando – um «pequenino rebanho» (Lc 12,32). Isto coloca-os perante o desafio de testemunharem com mais força, muitas vezes em condições de solidão e hostilidade, os aspectos específicos que os identificam. Um deles é a obrigação de participar todos os domingos na celebração eucarística. Ao congregar semanalmente os cristãos como família de Deus à volta da mesa da Palavra e do Pão de vida, a Eucaristia dominical é também o antídoto mais natural contra o isolamento; é o lugar privilegiado, onde a comunhão é constantemente anunciada e fomentada. Precisamente através da participação eucarística, o dia do Senhor torna-se também o dia da Igreja, a qual poderá assim desempenhar de modo eficaz a sua missão de sacramento de unidade”. (NMI, 36) Secretariado Diocesano de Liturgia do Porto

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