Luísa Gonçalves, Diocese do Funchal
Quando me pediram que escrevesse um artigo para este mês de fevereiro a minha primeira preocupação foi refletir sobre que acontecimentos vive a Igreja neste mês.
Consultei o calendário, não que precisasse realmente de o fazer, mas achei mais seguro. Nada! Continuava sem um tema concreto para partilhar com os leitores da Ecclesia.
Até que do nada me lembrei do velho ditado que diz “à mulher de César não basta parecer honesta…”. Transpondo a frase para os nossos dias, diria que ao cristão não basta parecer cristão, tem de o ser verdadeiramente.
No mundo sombrio em que vivemos, a frase ganha sentido a cada segundo. E a cada segundo, num qualquer lugar do mundo, um cristão é chamado a acolher, a ser justo e misericordioso. E este acolhimento faz-se antes de mais com o coração.
O coração do cristão, não se cansa de dizer D. Nuno Brás, Bispo desta Diocese do Funchal, é a “casa” que acolhe todos, que não exclui ninguém, onde todos podem encontrar o amor, a compaixão, a ternura e a misericórdia de Deus.
Infelizmente, a realidade mostra-nos mais vezes o outro lado da moeda, o que a mim me causa uma certa perplexidade, já que se dizia ou pelo menos se pensava que a pandemia, que a todos afetou, nos mostraria as nossas fragilidades e nos tornaria mais ‘humanos’.
É triste, frustrante mesmo, ver que em vez disso aconteceu, digo eu, exatamente o contrário. Ficamos mais egoístas, fechamos o coração e deixamos que a nossa fé fosse abalada. E a verdade é que não basta simpatia, admiração e devoção por Jesus. É preciso fé!
A fé que é uma espécie de fio de ouro, fino como aquele com que a aranha tece a sua teia, que nos liga ao Senhor, à pura alegria de estar com Ele, de estar unido a Ele; é o dom que vale a vida e que, em virtude do nosso Batismo, faz de nós «discípulos missionários».
Testemunhei esta fé nos olhos e nas mãos de uma idosa, que na hora de um ofertório, dos muitos a que tenho assistido, para além de entregar ao bispo diocesano aquilo que carregava, lhe acariciou a face, num gesto maternal, de um coração que está unido ao céu pelo tal fio de ouro.
Precisamos também nós de (re)encontrar esse fio. Não para acariciarmos a face uns dos outros, ou talvez até sim, mas para encontrarmos aquilo que tanto desejamos na vida, sem deixar o outro para trás: a verdadeira felicidade!
Naquele rosto enrugado, naquele corpo curvado, naquelas mãos de trabalho, juro que vi reluzir o tal fio de ouro, vi reluzir a fé…
Luísa Gonçalves. Jornalista