Miguel Oliveira Panão (Professor Universitário), Blog & Autor
No mês de maio voltamos o nosso olhar, de modo especial, para Maria. Mas, curiosamente, é também o mês em que muitas crianças receberão pela primeira vez Jesus na comunhão. A comunhão torna-se possível através do sim de Maria. Mas se levarmos a sério o que significa realmente a comunhão para todo o católico, então, o sim de Maria possui implicações mais profundas do que poderíamos pensar à partida.
Cristificados
Quando devidamente preparados, e apesar da nossa finitude e limitações, receber Jesus na comunhão significa aceitar sermos transformados por Ele. Uma transformação que ocorre a um nível de interpretação da realidade que está para além daquilo que é material, sendo-o. E está para além daquilo que é espiritual, sendo-o.
Na primeira comunhão, se cremos realmente que Jesus está naquela hóstia em corpo, sangue, alma e divindade, então, inicia-se um processo de “cristificação” que termina apenas com a nossa morte, dando lugar a um outro processo.
A ressurreição do cosmos
Li e compreendi uma vez uma intuição de Chiara Lubich que deu um significado completamente novo à comunhão e que gostaria de te partilhar. Diz ela,
Se a Eucaristia é causa da ressurreição do homem, não poderá o corpo humano, divinizado pela Eucaristia, estar destinado a desfazer-se debaixo da terra para contribuir para a ressurreição do cosmos? Poderíamos então dizer que, em virtude do pão eucarístico, o homem torna-se “Eucaristia” para o universo, no sentido de que é, com Cristo, semente da transfiguração do universo.
Nesse caso, a Terra comer-nos-ia, como nós comemos a Eucaristia, não para nos transformar a nós em terra, mas para que a Terra se transforme em “céus novos e numa terra nova.”
O convite inesperado
Em cada comunhão de Si, Deus convida-te a seres “hóstia” para a criação. Só um imenso Amor nos faria um convite assim, tão grande e inesperado. Pois, como pode Ele pedir tanto a tão pouco. É que somos pequenos ao olhar do universo, mas grandes aos olhos de Deus.
Se aceitarmos este convite, e o vivermos bem ao longo da vida, pode ser que compreendamos cada vez mais e melhor o que Maria sentiu ao dar Jesus ao mundo, para que nós, pelos tempos, pudéssemos dar Jesus ao universo e, assim, transformá-lo.
Em quê? Não sei…