O povo de João Paulo II não faltou à chamada O povo de João Paulo II não faltou à última chamada: mais de 300 mil pessoas encheram por completo a Praça de São Pedro, participando na Missa exequial pelo Papa defunto, figura verdadeiramente universal. A comprovar essa dimensão do pontificado, mais de 200 delegações oficiais, muitas de relações cortadas entre si, uniram-se em torno do gigante do século XX. Antes da Missa, o corpo do Papa foi depositado num caixão de madeira de cipreste, na presença de um grupo restrito de pessoas, com a face coberta por um véu branco e uma bolsa contendo as medalhas do Pontificado a seu lado. Em cima do caixão foram gravadas as armas e a cruz do pontificado. “A sua memória permanece no coração da Igreja e de toda a humanidade”, pode ler-se no Rogito, uma breve biografia papal em latim que também foi colocada no caixão, dentro de um tubo selado. O texto assinala que o Papa polaco exerceu o seu ministério “com um incansável espírito missionário”. “Mais do que qualquer dos seus predecessores, foi ao encontro do Povo de Deus e dos responsáveis das nações”, em celebrações, audiências gerais e particulares, e nas visitas pastorais. O seu “amor pelos jovens” também é destacado na biografia, sendo ilustrado pela criação das Jornadas Mundiais da Juventude, “convocando milhões de jovens de várias partes do mundo”. O Rogito recorda ainda que João Paulo II “promoveu com sucesso o diálogo com os Judeus e os representantes de outras religiões, convocando-os várias vezes a encontros de oração pela paz”, especialmente em Assis. O féretro de João Paulo II foi transportado em procissão para a Praça de São Pedro, onde foi recebido sob um forte aplauso da multidão, e colocado sobre um tapete diante do altar, com um livro dos Evangelhos por cima. Os Patriarcas das Igrejas de ritos Orientais e 165 Cardeais concelebraram a Missa presidida pelo Cardeal Joseph Ratzinger, Decano do Colégio Cardinalício. Este, na sua homilia, classificou o Papa como uma “testemunha incansável do amor de Deus”. “O amor foi de Cristo foi a força dominante do nosso amado Santo Padre”, sublinhou. Aos fiéis, que por várias vezes o interromperam com salvas de palmas, assegurou: “podemos estar seguros de que o nosso amado Papa, agora na Casa do Pai, nos vê e abençoa”, indicou. “Sim, abençoa-nos Santo Padre!”, pediu. O Decano dos Cardeais falou ainda na devoção mariana do Papa e da sua juventude difícil de seminarista clandestino sob o regime nazi. Aos jovens deixou uma saudação especial, sublinhada por uma longa salva de palmas, lembrando que João Paulo II via neles o futuro da Igreja. Treze salvas de palmas sublinharam a homilia, que terminou ao som de “Santo subito, Santo subito” (Santo depressa) atirado por milhares de fiéis. Cartazes com a mesma frase eram empunhados pelos milhões de pessoas distribuídos pela cidade de Roma que acompanhavam as cerimónias através de ecrãs gigantes. O cortejo da apresentação dos dons foi iniciado por um casal polaco, com trajos tradicionais da região montanhosa de Tatras, particularmente querida ao Papa. No final da oração após a Comunhão, diante do féretro de João Paulo II, o Decano do Colégio Cardinalício cumpriu o rito da última Commendatio e da Valedictio. Em seguida, o Cardeal vigário de Roma orientou a oração da Diocese pelo seu Bispo. Num momento particularmente significativo, coube depois aos Patriarcas, Arcebispo maiores e Metropolitas das Igrejas Metropolitanas “sui iuris” orientais católicas juntarem-se em torno do caixão, virados para o altar, recitando a súplica das Igrejas Orientais do Ofício dos Mortos da Liturgia Bizantina. O último adeus do mundo foi ensurdecedor, abafando mesmo o som dos sinos da Basílica de São Pedro. Foi ao som de aplausos que Roma – e nela todo o mundo – se despediu de João Paulo II: após a missa exequial, o caixão do Papa foi exposto aos fiéis uma última, vez num momento emocionante, antes de seguir para a Cripta da Basílica para a sepultura. O féretro, transportado às costas por 12 “sediários pontifícios”, fez uma volta de 180 graus: o aplauso da multidão durou mais de cinco minutos, seguido de um último pedido dos peregrinos – “Santo”, “Santo”, “Santo”, a pedir a canonização imediata de João Paulo II. O Papa foi sepultado na cripta da Basílica de São Pedro às 14h20 locais (menos uma em Lisboa). A cerimónia de tumulação do Papa era reservada a um número muito estrito de pessoas: o Cardeal Camerlengo, os primeiros Cardeais de cada ordem (diaconal, presbiteral e episcopal), o Cardeal Arcipreste da Basílica de São Pedro, o Cardeal Secretário de Estado, o Cardeal vigário de Roma, o substituto da Secretária de Estado, o prefeito da Casa Pontifícia, o vice-Camerlengo e uma representação dos cónegos vaticanos. O caixão que continha os restos mortais do Papa foi ligado com fitas vermelhas, nas quais estavam impressos os selos da Câmara Apostólica, da Prefeitura da Casa Pontifícia, do Ofício de Celebrações Litúrgicas do Sumo Pontífice e do Capítulo Vaticano. Em seguida foi colocado num caixão de madeira zincada, imediatamente selado. Por cima dele foram impressos os selos referidos anteriormente. Na tampa do caixão ficaram a cruz e as armas do Pontífice defunto. O notário do capítulo da Basílica de São Pedro redigiu a acta da tumulação e leu-a perante os presentes. João Paulo II foi sepultado a poucos metros do túmulo do apóstolo São Pedro, no local anteriormente ocupado pela sepultura do Beato João XXIII. De acordo com a vontade manifestada no seu testamento, foi enterrado directamente na terra e não num sarcófago, sendo que um saco de terra de Cracóvia foi misturado com a que foi escavada na cripta. A “última morada” de João Paulo II manifesta, de forma clara, a sua simplicidade e austeridade. Após a tumulação, foi colocada uma lápide simples, onde está escrito “João Paulo II 1920-2005”. Milhões de pessoas no Vaticano, em Roma e em todo o mundo despediram-se assim do Papa, num dos momentos mais emocionantes dos últimos tempos. Na Missa exequial participaram, de acordo com os dados do Vaticano, 10 Soberanos reinantes; 57 Chefes de Estado; 3 Príncipes herdeiros; 17 Chefes de Governo; Chefes de 3 Organizações Internacionais e representantes de outras 10; 3 consortes de Chefes de Estado; 8 Vice-chefes de Estado; 6 Vice-primeiros ministros; 4 Presidentes de Parlamento; 12 Ministros dos Negócios Estrangeiros; 13 Ministros e Embaixadores de 24 Nações. As delegações religiosas, num total de 140 pessoas, incluíam representantes de outras Confissões Cristãs, do Judaísmo, de Religiões não cristãs, Sikh, Muçulmanos, Budistas, Hindus e Organizações para o Diálogo Inter-Religioso.