UE/Refugiados: Cáritas aponta «aniversário amargo» do tratado com a Turquia

Em causa estão milhares de pessoas que merecem mais do que «medidas de segurança e dissuasão», frisa a organização católica

Bruxelas, 16 mar 2017 (Ecclesia) – A Cáritas Europa assinalou hoje o primeiro ano do acordo entre a União Europeia e a Turquia relativamente à crise dos refugiados, considerando-o um “aniversário amargo” para milhares de pessoas em necessidade.

“A União Europeia não pode continuar a delegar a gestão deste problema. Colocar o foco na segurança interna e na dissuasão não é solução. É preciso um novo modelo e parar de criminalizar a migração. Temos de salvaguardar o direito a cada pessoa de viver a sua vida com dignidade, na linha dos valores europeus”, realça o secretário-geral do organismo católico.

Num comunicado enviado à Agência ECCLESIA, Jorge Nuño Mayer recorda as inúmeras pessoas que hoje batem à porta da Europa, em busca de uma realidade diferente, mais segura e acolhedora, que já não conseguem encontrar nos seus países.

Porque são provenientes de nações que estão em guerra, como a Síria ou o Iraque, porque sofrem a perseguição étnica e religiosa no Médio Oriente ou na Ásia, ou porque vivem na pobreza e na opressão, sobretudo no continente africano.

Milhares de pessoas e famílias, que chegadas à Europa estão agora “entregues a si próprias e a condições desumanas e degradantes na Grécia”, o que “tem levado inevitavelmente a que outros optem por rotas alternativas, e mais perigosas, em busca de proteção na UE”, aponta o secretário-geral da Cáritas Europa.

O tratado entre a União Europeia e a Turquia foi firmado a 18 de março de 2016, com o objetivo de controlar o fluxo de entrada de refugiados e migrantes na Europa, sobretudo através da Grécia.

No texto do acordo está estabelecido que todas as pessoas que cheguem ilegalmente a território grego serão recolocadas na Turquia, com os custos a serem assumidos pela UE.

A burocracia e a indefinição que tem envolvido este processo levou no entanto a que muitos refugiados e migrantes estejam agora como que a viver “num limbo na Grécia”, sem saberem quando irão seguir o seu destino.

É o caso de uma família iraquiana, constituída pelo pai, a mãe e três filhos pequenos, que chegaram à ilha grega de Lesbos via Turquia.

De acordo com a Cáritas Europa, “ficar no Iraque – eles viviam lá sem água nem eletricidade – era demasiado perigoso pelos problemas com o Estado Islâmico”.

Eles atravessaram a pé as montanhas até solo turco onde permaneceram durante dois meses. Agora, depois de terem sido recolocados na Turquia, “estão no campo de refugiados de refugiados de Kara Tepe, na esperança de seguirem para a Alemanha onde têm alguns familiares”.

“Apesar de todas estas dificuldades e provações, o pai desta família permanece otimista, e quer encontrar trabalho para tomar controlo sobre a sua vida e poder colocar os seus filhos na escola outra vez”, conta Irene Loukidou, a assistente social da Cáritas que está a acompanhar esta situação.

Para a organização católica, é fundamental que a União Europeia e os seus Estados-membros se comprometam “a encontrar soluções de longo prazo para estas pessoas”.

De acordo com a mesma fonte, dos cerca de 106 mil refugiados e migrantes que a UE se comprometeu a recolocar, falta ainda definir o futuro de mais de 92 mil.

JCP

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