Responsável católica espera «influência positiva» de Portugal nos próximos seis meses
Lisboa, 06 jan 2021 (Ecclesia) – A diretora da Obra Católica Portuguesa de Migrações (OCPM) espera que a presidência portuguesa do Conselho da União Europeia (UE) “seja uma influência positiva” para implementar e “influenciar no melhor” o novo pacto das migrações, entre outras “preocupações”.
“Apesar de algumas fragilidades, notamos um esforço urgente de que a UE consiga funcionar ao nível das migrações. Sabemos que há países que são mais relutantes, são mais fechados e de facto esta preocupação desta presidência em defender uma Europa aberta é muito importante e esperamos que consigam caminhar nesse sentido”, disse hoje Eugénia Costa Quaresma à Agência ECCLESIA.
A diretora da OCPM refere que uma das prioridades da presidência portuguesa do Conselho da UE passa pelo novo Pacto das Migrações, que “está a ser negociado e que teve um período aberto de consulta pública”, no qual as Conferências Episcopais dos vários Estados-membros deixaram os seus contributos.
“Aquilo que esperamos neste seis meses é que a posição de Portugal seja uma influência positiva para implementar e influenciar no melhor sentido este programa”, destaca.
Segundo Eugénia Costa Quaresma, a presidência portuguesa tem também como preocupação “o combate ao terrorismo, os discursos de ódio”, que “é importantíssimo combater” e vencer.
Os valores democráticos têm de ser defendidos e temos estados que aderiram que neste momento não estão a defender estes valores democráticos e penso que é isto que está a ser sublinhado e tem de ser relembrado, recordado e defendido. Sem justiça não conseguimos alcançar a paz e não conseguimos conviver como irmãos com defende a Igreja e como é defendida na última encíclica da ‘Fratelli tutti’”.
Eduardo Cabrita, ministro da Administração Interna, indicou que o Governo vai trabalhar, aos nível político e técnico, num conceito de “solidariedade obrigatória flexível”.
A diretora da OCPM alerta que a “crise da solidariedade europeia” passa pela “falta de solidariedade com os Estados de fronteira”, que ficam “muito sobrecarregados e que se sentem abandonados pelos outros”.
“A gestão das migrações é muito mais do que barrar a entrada e a passagem. É preciso trabalhar esta gestão das fronteiras, e há duas coisas: O acolhimento humano das pessoas e o combate ao crime organizado”, precisa
As associações, a Igreja e as organizações da sociedade civil no terreno estão mais empenhadas nesta narrativa, de não criminalização dos migrantes ou das organizações que ajudam os migrantes, que salvam vidas. Crime é matar as pessoas, crime é condenar, é impedir que as pessoas procurem novas formas de subsistência e isto tem de ser uma preocupação”, desenvolve.
Neste contexto, recorda que a Igreja “sempre defendeu o direito a procurar novas formas de subsistência, formas de realização pessoal e a proteção da família” e é legítimo também “esta proteção”.
“Portugal tem uma proteção privilegiada para dialogar com os outros continentes, nomeadamente africano e com alguns países, até porque tem de haver esta preocupação externa, com o desenvolvimento dos países de origem porque as pessoas têm o direito a não migrar. Há pessoas que estão a ser forçadas a migrar, é preciso trabalhar também a causa das migrações forçadas”, acrescenta a entrevistada.
A diretora da Obra Católica Portuguesa de Migrações salienta que a promoção dos canais legais e seguros para as migrações são também “uma forma de combater o tráfico de seres humanos” e vive-se “num tempo muito importante para promover as mudanças estruturais, as mudanças de fundo”, e é fundamental “repensar o desenvolvimento com as pessoas e incluir os migrantes neste desenvolvimento”
‘Tempo de agir: por uma recuperação justa, verde e digital’ é o lema da presidência portuguesa do Conselho da União Europeia, que foi assumida a 1 de janeiro e tem a duração de seis meses.
“Ao nível das comunidades cristãs, que às vezes se sentem muito pequeninas, mas podem fazer muito, iluminadas por esta fé que defende a fraternidade universal, espero que sejamos capazes de construir comunidades esta igualdade e fraternidade e amizade social, nos nossos locais de trabalho, nas escolas, nas. Não precisamos de gostar de todos, mas podemos tratar-nos com a dignidade que todos nós merecemos”, conclui Eugénia Quaresma.
CB/OC