Ucrânia/Rússia: «Devem exigir-se condições para uma paz justa, uma paz digna» – Mendo Castro Henriques

Antigo diretor de departamento no Ministério da Defesa Nacional considera que «guerra não acabará enquanto Putin for o dirigente da Federação Russa»

Lisboa, 20 fev 2023 (Ecclesia) – Mendo Castro Henriques disse hoje que se “devem exigir condições para uma paz justa, uma paz digna, que é respeitar a Ucrânia”, numa análise à guerra no leste da Europa que faz um ano que começou na sexta-feira.

“Devem-se exigir condições para uma paz justa, uma paz digna, que, neste caso, é respeitar a Ucrânia; Incluindo todos os territórios que foram contratados em 1991 com a Rússia, disse o professor universitário, em entrevista à Agência ECCLESIA.

A ofensiva militar da Rússia, que começou o conflito armado na Ucrânia, foi lançada a 24 de fevereiro de 2022, vai fazer um ano que começou esta sexta-feira, “um assalto fortíssimo” que tem sido “rechaçado pelo povo ucraniano, quer pelos seus governantes, que se têm mantido unidos”, considerando “extraordinária” a resiliência dos ucranianos, que vivem “uma economia de guerra”, num país que “perdeu qualquer coisa como 35 milhões % do PIB”.

“É um povo que está a ser absolutamente violado. Falamos da violência doméstica, se aqui o doméstico for a nação, eles estão em situação de violação. Perante tudo isto, desde a primeira hora têm resistido, o que é um exemplo para a Europa toda.”

Mendo Castro Henriques assinala que “é uma situação de guerra como a Europa não via sem fim à vista”, contextualizando que as guerras da Jugoslávia, nos anos 90 do século XX, “que eram conflitos civis internos”, e percebia-se que tinham “como que um fio que depois se ia extinguir”.

“Aqui há uma novidade, é que, como dizem todos os grandes analistas russos da oposição, o conflito externo é uma continuação da repressão interna e não haverá fim do conflito enquanto não terminar a repressão interna na Rússia, o próprio regime de Putin”, realça o professor da Universidade Católica Portuguesa (UCP).

O antigo diretor do Departamento de Defesa do Ministério da Defesa Nacional salientou que há muitos estudos, há muitas sondagens, “uma mais fiáveis do que outras”, que indicam que “60 a 65% da população russa é indiferente” a esta guerra e “segue o poder”, o acontece “em muitos países mas nos regimes autoritários é mais grave”.

Foto: Vatican Media

O presidente dos EUA, Joe Biden, fez esta segunda-feira, 20 de fevereiro, uma visita surpresa à Ucrânia, esteve mais de cinco horas na capital Kiev, onde anunciou a entrega de armamento e que “o mundo está ao lado” do país.

Mendo Castro Henriques explica que o Ocidente dar “as armas quase a conta-gotas”, “embora cause preocupação” a todos os que querem “apoiar mais os ucranianos”, é para mostrar ao regime russo que não quer provocar.

“As armas têm sido dadas devagarinho de modo a mostrar claramente ao Kremlin que não se quer provocar de uma vez por todas, mas isto tem um preço muito grande porque se as armas tivessem sido dadas antes, eventualmente, a guerra tinha tido uma solução a favor a Ucrânia”, referiu o antigo diretor do Departamento de Defesa do Ministério da Defesa Nacional.

Segundo o convidado do Programa ECCLESIA, emitido esta segunda-feira na RTP2, a Terceira Guerra Mundial Nuclear “não está nos planos do Kremlin”, que quer “sobreviver a todo o custo, com o poder e as riquezas que têm”, lembrando que Vladimir Putin “não alcançou nenhum dos objetivos” definidos para esta guerra que começou a 24 de fevereiro de 2022.

O professor universitário Mendo Castro Henriques referiu também a Doutrina Social da Igreja e que a Igreja Católica “tem uma tradição que está a ser abandonada corretamente, a chamada ‘justificação da guerra’, que vem desde Santo Agostinho, e desde o CVII está posta em causa e o Papa Francisco tem sido muito determinante”, assinalou que “o conjunto das religiões tem um papel complexo nesta guerra”, e que a hierarquia da Igreja Ortodoxa Russa “é subserviente do Kremlin, em particular o principal hierarca, o metropolita Cirilo”, lembrando o afastamento do metropolita Hilário, o “número 2” do Patriarcado de Moscovo, em junho de 2022.

PR/CB

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Agência ECCLESIA

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