Ucrânia: Presidente da Cáritas Portuguesa alerta para risco de descoordenação na «avalanche solidária» (c/vídeo)

«Temos de fazer que essa solidariedade tenha um propósito, que seja organizada, que as coisas não se desperdicem» – Rita Valadas

Lisboa, 14 mar 2022 (Ecclesia) – Rita Valadas, presidente da Cáritas Portuguesa, alertou para a “descoordenação” que pode existir na “avalanche solidária” de resposta à guerra na Ucrânia, apelando a um trabalho em rede.

“Esse é o esforço que a Cáritas faz: que esta explosão solidária que aconteceu não seja desperdiçada, sem chegar a quem mais precisa”, assinalou a responsável, em entrevista à Agência ECCLESIA a respeito da Semana Nacional da Cáritas, que decorre desde domingo.

Segundo Rita Valadas, existe “uma certa descoordenação” nas várias iniciativas de quem, a título pessoal ou coletivo, “se coloca a caminho, para a Polonia, a Moldávia, para deixar ficar bens e trazer pessoas”.

“Chamo a atenção para que, quando tiverem essas iniciativas, o façam apenas com alguém para os receber”, realça.

A presidente da Cáritas Portuguesa sublinha que o impacto da guerra se vai prolongar durante muito tempo, bem como a resposta solidária, “absolutamente necessária”

É um orgulho imenso que isto aconteça em Portugal, somos solidários por natureza, isso é fantástico. Temos de fazer que essa solidariedade tenha um propósito, que seja organizada, que as coisas não se desperdicem”.

Rita Valadas destaca a rede internacional da Cáritas e o conhecimento que é possível ter, através da organização católica, da situação na Ucrânia e nos países limítrofes.

“Já vimos imagens de caixotes abertos, de pessoas a abrir caixotes à chuva, o que não parece digno e significa que grande parte dessas coisas se vai desperdiçar”, advertiu.

A responsável sublinha que, de acordo com as indicações recebidas desde o leste europeu, o pedido é para que se enviem donativos em dinheiro e não em géneros, “porque quem está a receber pessoas não consegue fazer a logística de caixotes”.

“Quem for, quem levar, veja a quem entrega e o que é preciso, senão vamos criar mais problemas do que soluções”, acrescenta.

Rita Valadas destaca que a guerra vai provocar “uma crise social em cima de outra crise social”, que tinha sido provocada pela pandemia.

“Vamos receber muitas pessoas que vêm de uma situação de grande crise humanitária”, indica.

A Cáritas Portuguesa lançou uma campanha de angariação de fundos para apoiar a Ucrânia, que decorre até 30 de março, e que, num segundo momento, vai ajudar os refugiados que saíram para outros países.

Em Portugal, os que fogem da “catástrofe humanitária” da guerra vão encontrar um país ainda a braços com a crise social provocada pela Covid-19.

“A Cáritas continua no terreno como sempre esteve, nunca fechou a porta, vai continuar a acorrer a todas as famílias que, no nosso território, precisam de apoio, independentemente da sua nacionalidade”, indica a presidente da organização, em entrevista emitida hoje no Programa ECCLESIA (RTP2).

A Semana Nacional da Cáritas, com o lema ‘O Amor que Transforma’, decorre até 20 de março e inclui o peditório público nacional – nas ruas e em formato online –, que tem como objetivo reforçar a capacidade de resposta da Cáritas.

“A Cáritas, em Portugal, depende em muito do apoio, da solidariedade, dos donativos que aparecem”, realça Rita Valadas.

A rede nacional Cáritas apoiou, durante o período da pandemia, perto de 120 mil pessoas em atendimento social, para além de todos os que estão integrados nas respostas sociais e projetos promovidos localmente em todo o país.

“É assumidamente caridade e as pessoas fazem-no com o amor que transforma, o nosso lema já há dois anos”, observa a presidente da instituição.

Através do programa nacional de resposta à Covid-19, em particular, foram apoiadas 18 mil pessoas.

“Esse programa ainda está ativo e estará, porque a situação ainda não se alterou”, precisa Rita Valadas.

Foto: Cáritas Portuguesa

Para a responsável, esta é uma semana também de reflexão e de comunicar o que a Cáritas faz, através de voluntários que atendem, na “primeira linha”, as situações de dificuldade nas paróquias e dioceses portuguesas, procurando “fazer a diferença na vida dos mais frágeis”.

Na próxima quinta-feira, a Cáritas Portuguesa promove em Oeiras a apresentação do relatório europeu “Mercados de Trabalho Inclusivos”

A informação sobre as várias iniciativas desta semana estão disponíveis online.

HM/OC

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