Ucrânia: Presidente da Cáritas alerta para vítimas de tráfico humano entre prisioneiros de guerra

Tetiana Stawnychy diz que visita do Papa seria sinal de «esperança» e agradece solidariedade dos portugueses

Foto: Lusa/EPA

Lisboa, 02 jun 2025 (Ecclesia) – A presidente da Cáritas Ucrânia alertou hoje para a presença de vítimas de tráfico humano, da população civil, entre os prisioneiros de guerra que se encontram na Rússia.

“Vimos, nos últimos tempos, desde que a invasão em grande escala começou, um aumento no número de vítimas de tráfico humano”, disse Tetiana Stawnychy, em entrevista à Agência ECCLESIA e ao jornal digital 7MARGENS.

De passagem por Lisboa, a responsável precisa que a Caritas também trabalha na reintegração destas vítimas de tráfico.

“Muitas das pessoas que estão a ser devolvidas da detenção na Rússia também foram usadas no tráfico humano. Portanto, há um aumento no número dos casos que estamos a receber, relacionado com a guerra”, indica.

Tetiana Stawnychy precisa que na mais recente troca de prisioneiros entre a Ucrânia e a Rússia, a maior desde o início da guerra, há três anos, havia “120 civis”, pessoas que passaram pelo “trauma da detenção”.

A Rússia e a Ucrânia concluíram a 25 de maio a troca de mil prisioneiros de guerra, com a entrega dos últimos 303 cativos.

“A maioria das vítimas voltou e há histórias de tortura, níveis extremos de tortura física e mental que aconteceram quando estavam detidas”, denuncia a presidente da Cáritas Ucrânia.

Volodymyr Zelensky adiantou hoje que a Ucrânia e a Rússia estão a trabalhar numa nova troca de prisioneiros de guerra, falando depois da reunião de paz entre as delegações de ambas as partes em Istambul.

O presidente ucraniano fez este anúncio na capital da Lituânia, onde está a participar numa reunião dos países europeus e nórdicos.

Tetiana Stawnychy abordou ainda o tema do regresso das crianças levadas à força para a Rússia.

“A Cáritas apoiou e trabalhou também na segunda etapa desse processo, ajudando crianças e famílias que foram devolvidas à Ucrânia”, relatou.

Para a responsável, a guerra poderia terminar se “houvesse uma paragem nos ataques”.

“Seria um bom primeiro passo para o cessar-fogo que foi proposto, um cessar-fogo de 30 dias”, acrescenta.

Questionada sobre uma possível visita de Leão XIV à Ucrânia, a presidente da Cáritas considera que este seria um sinal de “esperança”.

“Estamos à espera dele. Temos ótimas lembranças da visita do Papa João Paulo II à Ucrânia”, refere, evocando a viagem apostólica de 2001.

Estamos todos à espera [de Leão XIV] e seria um grande sinal de solidariedade, também de esperança. Podemos pensar no que acontece quando um pai chega a casa, a confiança e a alegria que ele traz quando entra.”

Foto: Agência ECCLESIA/OC

Tetiana Stawnychy diz que a guerra entrou numa “nova fase prolongada”, na qual ainda se verificam “necessidades humanitárias extremas”, especialmente nas pessoas que ficaram para trás em áreas mais próximas da linha de frente, na zona oriental da Ucrânia.

“Há uma espécie de política de terra queimada. Eles realmente destroem muito à medida que avançam. Por isso, temos pontos de trânsito onde essas pessoas muito vulneráveis são levadas por alguns dias. É preciso estabilizá-las e, em seguida, encontrar um lugar novamente para as pessoas mais vulneráveis”, refere.

Noutras áreas do país, a Cáritas procura ajudar as pessoas deslocadas a “integrar-se nas comunidades locais, a encontrar empregos, a recuperar”.

“O objetivo da ajuda humanitária é sempre ajudar as pessoas a sair da crise”, precisa.

Depois de mais de três anos de guerra, indica a responsável, “ainda há ataques aéreos contínuos em todo o país”, com drones e mísseis, mas descarta a hipótese de deixar o país.

“Temos uma missão a cumprir. Temos pessoas para ajudar”, sublinha a presidente da Cáritas.

A organização católica tem cerca de 2500 funcionários e de 2500 voluntários ativos, numa rede que trabalha diretamente com cerca de 300 paróquias.

Perante uma crise “prolongada”, o financiamento é hoje menor do que no início do conflito, pelo que Tetiana Stawnychy assume a urgência de “procurar soluções inovadoras e duradouras”.

“Também estamos cansados na Ucrânia, mas os pontos principais do que está a acontecer não mudaram realmente desde 2022. Continua a ser a mesma coisa: a Ucrânia está a ser atacada, continua a haver necessidades humanitárias”, adverte.

A responsável diz ainda que a solidariedade “expressa materialmente, como também através do apoio em oração, é extremamente, extremamente apreciada”.

Gostaria de expressar o nosso agradecimento por todo o apoio que tem sido prestado pela Cáritas de Portugal como, em geral, pelo povo português. Tanto por ajudar os ucranianos que estão em Portugal como por ajudar nos países vizinhos e dentro da Ucrânia. Essa solidariedade é realmente valiosa para nós.”

Foto: Agência ECCLESIA/OC

A entrevistada abordou ainda a importância de programas de apoio à comunidade escolar, lembrando que na parte oriental da Ucrânia há crianças que estudam online há mais de cinco anos, devido à Covid-19 e à guerra.

“Tive pais que vieram ter comigo e me disseram o quanto estão gratos pelo espaço amigo da criança, porque é o único lugar onde os seus filhos podem vir e socializar”, explica.

Tetiana Stawnychy lembra dois funcionários da Cáritas que foram mortos no conflito e diz que a “guerra toca todos, na Ucrânia”.

“Quando há uma guerra como esta, quando as pessoas estão a reagir, isso também revela a profunda humanidade que todos temos. Toca algo muito profundo dentro de cada um de nós, essa necessidade de relacionamento, essa necessidade de comunidade, essa necessidade de ser humano”, conclui.

OC

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