Ucrânia: Papa fala em III Guerra Mundial e assegura empenho para Santa Sé para procurar soluções de paz

Francisco culpa indústria do armamento e pede que jornalistas sejam «pacifistas»

Foto: Lusa/EPA

Cidade do Vaticano, 06 nov 2022 (Ecclesia) – O Papa disse hoje que o mundo vive a III Guerra Mundial, depois dos conflitos do século XX, e assumiu que a diplomacia da Santa Sé está a “procurar soluções” para a Ucrânia.

“Num século, três guerras mundiais! A de 1914-1918, a de 1939-1945, e esta! Esta é uma guerra mundial, porque é verdade que quando os impérios, seja de um lado, seja do outro, se enfraquecem, precisam de fazer uma guerra para se sentirem fortes e também para vender armas”, acusou, em declarações aos jornalistas, no voo de regresso a Roma, desde o Barém, onde concluiu esta manhã uma visita de quatro dias.

Francisco considerou a indústria do armamento como “a maior calamidade” da humanidade atual, lamentando o investimento neste campo, num mundo que sofre com a fome.

O Iémen: mais de dez anos de guerra. As crianças do Iémen não têm o que comer. Os Rohingya, transferindo-se de um lado a outro porque foram expulsos, sempre em guerra. Em Myanmar, é terrível o que está a acontecer… Agora, espero que hoje na Etiópia algo pare, com um tratado… Mas estamos em guerra em todos os lugares e não entendemos isso. Agora, toca-nos de perto, na Europa, a guerra russo-ucraniana, mas está em todos os lugares, há anos. Na Síria, 12-13 anos de guerra, e ninguém sabe se há prisioneiros e o que acontece ali”.

Francisco convidou os jornalistas a ser “pacifistas”.

“Falem contra as guerras, lutem contra a guerra. Peço-lhes isto, como um irmão”, declarou.

Questionado sobre a ação da Santa Sé, relativamente à invasão da Ucrânia pela Rússia, e à possibilidade de falar com o presidente russo, Vladimir Putin, o Papa sublinhou que “o Vaticano está continuamente atento, a Secretaria de Estado trabalha e trabalha bem, trabalha bem”.

“Estou entre dois povos dos quais gosto. Mas não só eu, a Santa Sé fez muitos encontros reservados, muitas coisas com êxito positivo”, adiantou.

A intervenção recordou a série de gestos levados a cabo desde a invasão russa, a 24 de fevereiro, a começar, no dia seguinte, pela visita do próprio Papa à Embaixada da Rússia junto da Santa Sé, considerando que o representante diplomático de Moscovo é “um humanista”.

“Disse-lhe que estava disposto a ir a Moscovo para falar com Putin, caso fosse necessário. Mas Lavrov (ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, ndr) respondeu-me muito educadamente): obrigado, (mas) naquele momento não era necessário”, relatou.

Francisco elencou ainda as conversas telefónicas com o presidente Zelensky e o embaixador da Ucrânia junto da Santa Sé.

“Faz-se um trabalho de trabalho de aproximação, para procurar soluções. Também a Santa Sé faz o que deve fazer em relação aos prisioneiros, tudo isso… são coisas que se fazem e a Santa Sé sempre as fez, sempre”, exemplificou.

O Papa destacou a importância da oração pela paz e explicou o uso da palavra “martirizada” com que se refere regularmente à Ucrânia, como vítima da “crueldade” da guerra.

Francisco distinguiu, a este respeito, os russos dos “mercenários, dos soldados que vão fazer a guerra como fazem uma aventura”, assumindo “um grande afeto pelo povo russo e também um grande afeto pelo povo ucraniano”.

Durante a visita ao Barém, o Papa repetiu alertas contra os “ventos de guerra” que ameaçam a humanidade e assumiu a sua preocupação perante conflitos alimentados por “populismos, extremismos e imperialismos”.

“Rejeitemos a lógica das armas e invertamos o rumo, transformando as enormes despesas militares em investimentos para combater a fome, a falta de cuidados sanitários e de instrução”, apelou.

OC

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Agência ECCLESIA

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