Ucrânia: Movimento de Trabalhadores Cristãos da Europa preocupado com «empobrecimento das pessoas»

Olinda Marques, em final de um mandato marcado pela pandemia, deixa alertas para consequências das atuais crises

Foto: Lusa/EPA

Mealhada, 09 jul 2022 (Ecclesia) – A presidente do Movimento de Trabalhadores Cristãos da Europa (MTCE) alertou para os impactos negativos da guerra na Ucrânia, que “condiciona a vida” das populações em todo o continente.

“Quando falamos da guerra a Ucrânia, falamos do empobrecimento de uma parte das pessoas, pelo aumento do custo de vida”, refere Olinda Marques, em declarações à Agência ECCLESIA.

A responsável portuguesa, da Diocese de Coimbra, realça que os salários não aumentaram, mas aumentou “o custo do combustível, o custo do pão”, dos bens essenciais, e são “dificuldades comuns a todos os países”.

A entrevistada acrescenta que há países onde se sente mais este aumento e outros onde “a luta pelo salário mínimo tem mais impacto”.

“Notamos estas diferenças quando partilhamos as experiências dos diferentes movimentos da Europa, percebemos que os salários são muito desiguais, as condições de acesso à educação também, aos bens essenciais, mas percebemos que existe um caminho comum”, desenvolveu Olinda Marques.

A presidente do MTCE destacou como outras preocupações do movimento “a luta pelo trabalho digno”, relacionada com a questão ambiental, e a “defesa do domingo livre”, que estão “a tentar alagar para Portugal e para a Espanha”.

Há preocupações muito grandes na Alemanha, na Áustria, Itália, sobre a questão do ‘domingo livre’, uma das preocupações que Portugal está a tentar agarrar também. Nestes países apenas trabalham ao domingo as pessoas, as profissões, que são fundamentais para a sociedade, e a larga maioria tem o domingo livre para a família”.

Outra preocupação é “a luta pelo trabalho digno”, que “é comum” ao Movimento de Trabalhadores Cristãos da Europa, como a nível mundial.

A responsável portuguesa assinala que existem diferenças entre continentes e quando juntam os testemunhos da luta do trabalho digno encontram “realidades muito diferentes”.

“Aqui falamos de salários, de condições de trabalho, de tempo livre para a família, de conciliação de horários. Eles estão noutra dimensão, mais da dignidade no sentido de condições de trabalho”, exemplifica.

A questão ambiental é “outra preocupação comum” e, segundo Olinda Marques, está longe o tempo em que se achava que “o ambiente não tinha nada a ver com o trabalho”.

“É evidente que a causa ambiental tem de estar relacionada com o trabalho digno. A partilha de experiências concretas faz-nos perceber que temos um percurso e que podemos fazer muito mais: Existem em cada um a possibilidade de contribuir para um mundo melhor, em coisas muito concretas”, desenvolveu.

O MTCE tem dois tipos de movimentos: os movimentos de revisão de vida, como a LOC/MTC Portugal, e movimentos que “trabalham mais na dimensão social” com os trabalhadores, sobretudo na Europa ocidental.

Os movimentos de revisão de vida, trabalham sobretudo em pequenos grupos, e existe sempre uma organização diocesana e uma nacional; nos movimentos sociais fazem “atividades de massas, com maior número de participantes e um impacto também diferente”.

CB/OC

Foto: Agência ECCLESIA/CB

Olinda Marques foi eleita para um mandato de dois anos como presidente do Movimento de Trabalhadores Cristãos Europeus, “por unanimidade”, a 16 de outubro de 2020, numa assembleia geral realizada online.

“É claro que estes dois anos fizemos quase tudo online, é muito difícil fazer encontros com pessoas de vários pontos da Europa porque o risco em termos pandémicos era elevado”, explicou.

A equipa executiva do MTCE é constituída por dois espanhóis e um suíço, e só se encontrou presencialmente em janeiro deste ano, face à pandemia.

“Aprendemos que era possível, utilizando as novas tecnologias, organizar o trabalho mensalmente. Provavelmente, encontramo-nos mais vezes do que aquilo que seria possível se fosse presencialmente”, assinalando, referindo ainda a “diminuição de custos”.

O mandato termina em setembro e Olinda Marques fica com a “sensação que podia ter feito muito mais”, por isso, sente uma “certa insatisfação”, mas o objetivo é continuar a fazer o melhor possível.

Neste contexto, adianta que no online reduziram “ao essencial”, como as assembleias anuais, as eleições para cargos, e exemplifica que estava prevista “uma assembleia mundial em Lisboa”, em outubro de 2021, para coordenar o trabalho para os quatro anos seguintes, mas “ainda não aconteceu”.

“A desigualdade ao acesso à vacinação, por exemplo, é tão significativa, que não permite ainda que seja possível encontrar presencialmente pessoas de todos estes países. E isto constitui um desafio”, indica.

A presidente do Movimento de Trabalhadores Cristãos Europeus indica que, em países “onde é necessário fazer um acompanhamento maior é mais difícil”, como na República Checa.

A pandemia condicionou também um seminário europeu de formação que fazem para “militantes de todos os países”, no qual incluem países como a Hungria, “onde existem contactos e o movimento está a começar”, ou a Estónia.

 

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