Ucrânia: Líderes ortodoxos e católicos multiplicam apelos à paz, mas divergem na responsabilidade do conflito

Arcebispo católico de Kiev sublinha direito de defender o próprio país

Lisboa, 25 fev 2022 (Ecclesia) – O patriarca ecuménico de Constantinopla (Igreja Ortodoxa), Bartolomeu, enviou uma mensagem de solidariedade à Igreja na Ucrânia e apelou ao fim da invasão russa, alertando para as “as trágicas consequências da decisões e ações” de Moscovo.

O responsável, considerado ‘primus inter pares’ no mundo ortodoxo, alerta para um possível “conflito militar global”.

“Chocado com a invasão do território da República Ucraniana pelas forças armadas da Federação Russa na madrugada desta quinta-feira, o patriarca ecuménico Bartolomeu contactou por telefone o Primaz da Igreja Ortodoxa da Ucrânia, metropolita Epifânio, expressando a sua profunda dor por esta flagrante violação de qualquer noção de direito internacional e legalidade, bem como o seu apoio ao povo ucraniano, que luta ‘por Deus e pelo país’, e às famílias de vítimas inocentes”, refere uma nota do Patriarcado de Constantinopla (atual Istambul, na Turquia).

Bartolomeu condena o ataque da Rússia contra “um Estado independente e soberano da Europa”, pedindo “uma solução pacífica para esta situação crítica por meio do diálogo sincero, única forma de resolver qualquer problema”.

Mais de metade dos 45 milhões de ucranianos fazem parte da Igreja Ortodoxa, onde também é visível o confronto entre Kiev e Moscovo, com a existência de dois patriarcados no território.

Em janeiro de 2019, Bartolomeu reconheceu nova Igreja na Ucrânia como “autocéfala” (independente), decisão rejeitada por Moscovo.

A Rússia lançou, na madrugada de quinta-feira, uma ofensiva militar em território da Ucrânia, com forças terrestres e bombardeamento de alvos em várias cidades.

Vladimir Putin disse que a “operação militar especial” na Ucrânia visava “desmilitarizar e ‘desnazificar'” o país vizinho; o ataque foi condenado pela generalidade da comunidade internacional.

Em Portugal, o presidente da República, em consonância com o Governo, condenou “veementemente a flagrante violação do Direito Internacional pela Federação Russa” e apoiou a declaração do secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, “expressando total solidariedade com o Estado e o Povo da Ucrânia”.

Moscovo tinha reconhecido esta semana a independência das regiões separatistas de Donetsk e de Lugansk, no leste da Ucrânia, acusando Kiev de crimes contra a humanidade e crimes de guerra.

O patriarca de Moscovo, Cirilo, dirigiu uma mensagem às comunidades da Igreja Ortodoxa “na Rússia, Ucrânia e outros países”, apelando às partes em conflito a “fazer todos os possíveis para evitar baixas entre civis”.

O responsável russo pediu aos bispos, pastores, monges e leigos que ofereçam “dar toda a assistência possível às vítimas, incluindo refugiados, pessoas desalojadas e sem meios de subsistência”.

A mensagem destaca a “história em comum de séculos” entre a Rússia e a Ucrânia, que considera unidas espiritualmente pelo Patriarcado de Moscovo.

Já o arcebispo-maior da Igreja grego-católica na Ucrânia, D. Sviatoslav Shevchuk, deixou várias mensagens nas últimas horas contra a invasão russa, os cidadãos do país a “defender a sua dignidade perante Deus e a humanidade, os seus direitos à existência e o direito de escolher o próprio futuro”.

“É nosso direito natural e dever sagrado defender a nossa terra e o nosso povo, o nosso Estado e tudo o que nos é mais caro: família, língua e cultura, história e o mundo espiritual”, sustenta.

A Conferência dos Bispos Católicos da Ucrânia convidou a renovar o ato de dedicação do país ao Imaculado Coração de Maria.

Na Polónia, a Conferência Episcopal manifestou a sua solidariedade ao povo da Ucrânia e a disponibilidade para receber os que fogem do conflito.

D. Stanislaw Gadecki, presidente do episcopado polaco, anunciou que, neste domingo e na Quarta-feira de Cinzas (2 de março), após cada Missa, vão ser organizadas coletas para arrecadar fundos destinados a ajudar os refugiados de guerra na Ucrânia, através da Cáritas.

OC

O jornal do Vaticano apresenta hoje um relato da cidade ucraniana de Jitomir, a 150 km da fronteira com a Bielorrússia, onde as irmãs beneditinas tiveram de procurar refúgio na parte inferior do mosteiro, para se proteger dos ataques russos; mesmo à luz de velas, as religiosas continuaram a cantar o Ofício Divino

“Além de nós as dez, duas famílias de refugiados entraram no mosteiro. Dentro Mosteiro de Lviv, perto da fronteira polaca, há muitos mais refugiados em trânsito”, refere ao ‘Osservatore Romano’ a madre Klara, a abadessa do mosteiro.

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