«O meu povo é um povo de fé, e essa é a base, o fundamento, da resiliência», afirmou sacerdote do Patriarcado de Lisboa

Lisboa, 23 ago 2025 (Ecclesia) – O padre ucraniano Natanael Harasym, incardinado no Patriarcado de Lisboa, afirmou que o convite para um dia de jejum e oração pela paz, convocado pelo Papa Leão XIV para última sexta-feira, foi “simples, mas a urgência é enorme”.
“O convite é simples, mas a urgência é enorme, é só olhar para a situação atual, começando pela nossa Europa, a minha pátria, a nossa Ucrânia, a Terra Santa, e tantos outros lugares do mundo. Citava o site do Vaticano: 56 lugares onde há guerras, conflitos maiores e menores, na África, na Ásia, na América”, disse o sacerdote da Igreja Ucraniana Greco-Católica, em declarações à Agência ECCLESIA.
A Igreja Católica viveu esta sexta-feira, dia 22, uma jornada de oração e jejum pela paz, convocada pelo Papa, dia da memória litúrgica da Bem-Aventurada Virgem Maria, Rainha.
Leão XIV, destacou o padre Natanael Harasym citando o Papa, assinalou esta jornada mundial com uma publicação na rede social X, onde pediu: “#RezemosJuntos para que os corações sejam libertados do ódio, para sair das lógicas da divisão e da retaliação, e que prevaleça uma visão de conjunto inspirada pelo bem comum”.
O sacerdote ucraniano, em Portugal desde 2001, explica que, com a sua mãe de 89 anos de idade, que veio em 2022, viveu esta jornada de jejum e oração “na simplicidade do convite tão urgente”.
“Estamos no ano da esperança, a esperança que não engana, que não ilude, a esperança que não é só o último a morrer, como diz o povo, mas a nossa esperança é Cristo, é Jesus, é a nossa paz. Essa é a paz verdadeira, e não acordos de paz que são violados no mesmo dia, na mesma hora, poucos minutos depois até.”
O padre Natanael Harasym, vigário paroquial das freguesias de Ameixoeira e da Charneca (Lisboa), lamentou que o presidente da Rússia, Vladimir Putin, o “‘Herodes do Kremlin’ continua a atacar” o seu país, e não “quer desistir, porque só tem esta ideia diabólica de dividir para governar, para expandir o seu império, com algumas fachadas de democracia e religião”.
“Ainda ontem a minha cidade foi atacada, mais um morto, pelo menos, e três feridos”, acrescentou, recordando que, também em Lviv, no início de setembro de 2024, “foram mortas sete pessoas, quatro pessoas da mesma família, da família Bazylevych”, quando um “míssil supersónico atingiu” um prédio.

A Rússia invadiu e lançou um ataque militar ao território ucraniano, a 24 de fevereiro de 2022; após a revolução pró-ocidental de 2014, em Kiev, capital da Ucrânia, Moscovo anexou a região da Crimeia, e apoiou movimentos separatistas nas províncias de Donetsk e Luhansk.
“Não dormi mais, desde a noite de 23 para 24 de fevereiro, quando foi bombardeada a capital, e, até hoje, acompanham-me duas frases em forma de oração: ‘Até quando, Senhor?’, e quando rezo a clamar a Deus – ‘até quando, isso vai acontecer na minha terra, na terra onde Jesus andou, na Faixa de Gaza, e tantos outros lugares do mundo’ -, vem outro, do Salmo, ‘mas o nosso auxílio vem do Senhor’”, partilhou o padre Natanael Harasym.
Segundo o sacerdote da Igreja Ucraniana Greco-Católica, a resiliência do seu povo “não é de ontem, nem de hoje”, mas “já está no sangue, já está na fita genética porque foi forjada, essa resiliência, ao longo dos séculos”, e os ucranianos não desistem porque têm “todo o direito de viver em paz na sua própria terra, que Deus concedeu”, uma terra “tão cobiçada historicamente”.
“Nós, hoje, temos que pensar e repensar as lições da história para que sejam aprendidas, mas podemos constatar que isso, muitas vezes, não acontece. Dá a impressão que os homens deste mundo, os de hoje, depois de tanta evolução, não querem aprender as lições da história. É uma pena”, acrescentou, contando que acompanha as várias negociações para a paz “com muita angústia, indignação também”, porque os ucranianos parecem “moedas de troca”.
A Ucrânia comemora o Dia Nacional da Bandeira – “tão simples e tão grande que descreve a riqueza toda, a faixa azul, é o azul, é a paz, e o amarelo é o cereal, o trigo, e outros cereais”, salienta o padre ucraniano -, e o 34.º aniversário da restauração da independência, este sábado e domingo, dias 23 e 24 de agosto, respetivamente.
“Acredito que sairemos vencedores. É bom ganhar a guerra, é possível ter meios para ganhar a guerra, mas sairemos vencedores com aquele que venceu o mundo. O meu povo é um povo de fé, e essa é a base, o fundamento, da resiliência”, salientou, citando a poetisa Lesya Ukrainka – ‘eu estou viva e eu viverei. Eu tenho no meu coração aquilo que não morre’ -, e “aquilo que não morre é o Senhor”
O padre Natanael Harasym desde o dia 3 de abril deste ano de 2025, data do decreto do patriarca D. Rui Valério, é sacerdote incardinado no Patriarcado de Lisboa, mas continua a ser “sacerdote efetivo, da Igreja Ucrânia Greco-Católica”, e também está “ligado” à sua diocese da Ucrânia, “isso não se aniquila”.
“Sinto-me como São Paulo, com os ucranianos ucraniano, mas com os portugueses, português. E posso cantar Portugal no coração: Acredito que tenho Portugal no coração e considero Portugal não a segunda Ucrânia, mas Portugal também é a nossa pátria”, salientou. |
CB/PR