Ucrânia: Fim da guerra passa pela «afirmação do Direito e da liberdade das pessoas» – General Valença Pinto (c/vídeo)

Antigo chefe do Estado Maior General das Forças Armadas de Portugal comenta mensagem do Papa

Lisboa, 23 fev 2023 (Ecclesia) – O general Luís Valença Pinto disse à Agência ECCLESIA que o fim da guerra na Ucrânia passa pela “afirmação do Direito e da liberdade das pessoas”, sublinhando a importância do apoio do Ocidente ao governo de Kiev.

“Quando se fala em paz, pressupõe-se negociação e a negociação implica cedência. Aqui não me parece, sinceramente, que haja algo que se possa esperar, muito menos pedir, à Ucrânia que ceda”, assinala o especialista, para quem “a Ucrânia não pode ceder o seu território”.

O general português admite que a Ucrânia venha a “conceder”, no futuro, a “necessidade e o interesse da preservação da identidade cultural das populações russófonas, nomeadamente na Crimeia e no Dombas”.

O reforço militar de Kiev, pelo Ocidente, é considerado pelo antigo chefe do Estado Maior General das Forças Armadas de Portugal como “obrigatório”, para que a contraofensiva possa ser “eficaz”.

“Não estamos, de todo, numa situação de impasse, mas numa situação de expectativa estratégica, de um lado e doutro”, sustenta.

Valença Pinto entende que a chave para a paz está “em Moscovo”, sobretudo “numa pessoa”, o presidente russo Vladimir Putin, e passa por uma “alteração ao quadro governativo”.

O entrevistado desta quinta-feira no Programa ECCLESIA (RTP2) fala num regime “distorcido”, de perfil “autocrático”, que acusa o Ocidente de ter começado a guerra.

No mundo dele [Putin], todos os mundos são possíveis, mas não têm tradução na realidade. O Ocidente não começou a guerra, a Ucrânia não começou a guerra, por mais erros que possa ter havido”.

O general alude às fragilidades internas do Governo russo e ao desgaste da sua imagem, no plano externo, sublinhando o impacto da saída de 500 mil jovens do país, em contestação e em fuga da guerra, num esforço militar atualmente dependente de “milícias” e de entidades como o Grupo Wagner, “a mão suja do Kremlin”.

“A paz tem de ser encontrada dentro da sociedade russa, eventualmente pelas Forças Armadas russas e pela juventude do país”, acrescenta.

O Papa Francisco assinalou esta quarta-feira o primeiro aniversário da guerra “absurda e cruel” na Ucrânia, iniciada a 24 de fevereiro de 2022, após a invasão russa, apelando a negociações de paz e a um cessar-fogo.

Foto: Lusa/EPA

“Poderá o Senhor perdoar tantos crimes e tanta violência? Ele é Deus da Paz. Permaneçamos próximos do martirizado povo ucraniano, que continua a sofrer e perguntemo-nos: foi feito tudo o que era possível para travar a guerra?”, questionou.

O general Luís Valença Pinto quis saudar os “sucessivos apelos” do Papa, destacando que a Igreja é precursora de uma “leitura nova, moderna, de paz”, desde os anos 60 do último século.

O especialista admite, no entanto, que a ideia de paz, no contexto do conflito na Ucrânia, é “muito particular”.

“Vivemos uma situação em que um país, a Rússia, invadiu com o propósito de conquista territorial outro país que, legitimamente, aliás, no exercício do direito de legítima defesa, está a defender-se”, precisa.

Na semana em que o presidente dos EUA, Joe Biden, visitou Kiev, Luís Valença Pinto sublinha que a Ucrânia “tem consigo o Ocidente, a larga maioria dos Estados do mundo, as vozes da consciência universal”.

“Está em causa o princípio da observância da liberdade de os povos escolherem o seu caminho”, adverte o entrevistado.

PR/OC

Vladimir Putin anunciou esta terça-feira que Moscovo vai suspender a sua participação no último tratado de controlo de armas entre as duas principais potências nucleares do mundo, a Rússia e os Estados Unidos da América, o ‘New Start’.

Para o general Valença Pinto, este anúncio terá pouco impacto no cenário internacional, dado que este tratado se encontrava no “limbo”, e destaca que as armas nucleares são “armas políticas”, com efeito de “dissuasão”.

“A escala dos seus efeitos é de tal maneira tremenda que são insuscetíveis de ser usadas”, precisa.

Estima-se que EUA e Rússia estejam numa situação “paritária”, com cerca de 6500 ogivas.

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