Ucrânia: Cáritas mobiliza recursos e parceiros para atender população vítima do conflito

Organização de ação social está em preparação desde o final do verão e dá conta do «stress» da população marcada ainda pelas memórias de há oito anos

Lusa

Lisboa, 24 fev 2022 (Ecclesia) – A Cáritas Ucrânia está a mobilizar todos os recursos e forças disponíveis e prepara-se para o auxílio à população decorrente da declaração de guerra do presidente russo a este país do leste europeu.

“A escalada do conflito do lado russo levará inevitavelmente a uma colossal catástrofe humanitária e social”, afirma a organização de ação social da Igreja católica, num comunicado a que a Agência ECCLESIA teve acesso.

A organização explica que esta operação de “mobilização de todos os recursos” decorre desde o final do verão de 2021, reconhecendo a situação instável que o país vive.

“Durante os oito anos da guerra, quase todos os recursos possíveis foram esgotados. A pandemia do COVID-19 e a deterioração da situação económica aumentaram significativamente a pobreza, principalmente ao longo da linha de contato de 420 quilómetros, onde a vida quotidiana dos moradores é a luta pela sobrevivência”, informa.

A Caritas Ucrânia iniciou os preparativos para a possível escalada do conflito junto de “parceiros” para “fortalecer a rede e aumentar sua capacidade”.

“Nos últimos dois meses, com o auxílio de nossos, foram intensificados os treinamentos dos colaboradores e os preparativos para uma possível emergência complexa, em especial escritórios locais da Caritas, particularmente no leste da Ucrânia”, destacam.

Os preparativos implicam “treino sobre a implantação de cozinhas de campo, abertura de abrigos temporários e, se necessário, assistência a pessoas forçadas a deixar suas casas devido às hostilidades”, numa operação que, indica, resulta de uma “estreita colaboração com as estruturas da igreja e as autoridades locais”.

A organização prepara-se também para receber “potenciais deslocados internos em Dnipro, Poltava, Zaporizhzhia, bem como na Ucrânia Ocidental, em Khmelnytsky, Ivano-Frankivsk, Ternopil e Lviv.

“Estamos a fazer tudo para poder prestar assistência e apoio às pessoas necessitadas, mesmo em caso de emergência, como fazemos no leste da Ucrânia desde 2014”, explicou Tetiana Stawnychy, presidente da Caritas Ucrânia.

A Rússia declarou guerra à Ucrânia nesta quinta-feira de madrugada, tendo invadido e bombardeado o país vizinho pelas 3h00, hora de Lisboa, alegando a proteção das zonas separatistas.

Esta segunda-feira, Vladimir Putin havia reconhecido os regimes separatistas de Lugansk e Donetsk no leste da Ucrânia, avançando com a colocação de tropas russas nestes territórios, justificando a decisão com a necessidade de “manutenção da paz”.

As primeiras horas da invasão registam pelo menos oito mortos e 11 feridos, segundo informações do Ministério do Interior ucraniano.

A Cáritas Europa lamentou a declaração de guerra e afirmou o seu trabalho junto das pessoas mais necessitadas.

“Estamos arrasados pelo ataque militar na Ucrânia. O pessoal local da Cáritas está seguro e trabalha incansavelmente para responder de imediato às necessidades das pessoas. Estamos profundamente preocupados com a escalada. Qualquer sofrimento humano adicional para os ucranianos e na região deve ser evitado”, manifestou-se a organização na rede social Twitter.

As deslocações das equipas da Cáritas Ucrânia estão suspensas, até 2 de março, mantendo-se o trabalho nos “locais regulares”, e o apoio online que, desde que os bombardeiros tiveram início, fizeram já aumentar os pedidos de ajuda.

A organização equaciona a possibilidade de “realocar os centros locais perto da linha de frente”, oferecendo a possibilidade de “assistência adicional às pessoas necessitadas”, atendendo os grupos com maior vulnerabilidade, incluindo crianças, idosos e pessoas com deficiência.

“As pessoas estão preocupadas, especialmente aqueles que sobreviveram durante os eventos de 2014-2015, porque recordam a experiência terrível e acima de tudo não querem experimentar a perda de entes queridos, da casa, a perda da vida a que estão acostumados”, manifesta a Cáritas.

A tensão aumenta e as memórias de há “oito anos atrás” reaparecem.

“Desde 2014, a Caritas Ucrânia tem ajudado vítimas da guerra no leste da Ucrânia, incluindo deslocados internos e moradores de assentamentos isolados ao longo da linha de frente. A assistência é abrangente para atender às necessidades complexas das pessoas e inclui distribuição de alimentos, água potável, kits de higiene, materiais para reconstrução de moradias, assistência médica e apoio psicossocial, assistência financeira para o desenvolvimento e apoio a pequenos negócios e agricultura”, pode ler-se.

LS

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