Ucrânia: Cáritas da Guarda destaca «resposta extraordinária» no acolhimento de refugiados (c/fotos)

Experiência no apoio à integração de migrantes potencia papel da organização católica

Guarda, 15 mar 2022 (Ecclesia) – O presidente da Cáritas Diocesana da Guarda disse à Agência ECCLESIA que a região tem oferecido uma resposta “extraordinária” aos refugiados que fogem da guerra na Ucrânia.

“A nossa gente, aqui da Beira é hospitaleira, por si. Não temos meios, mas com os recursos que temos, respondemos de uma forma extraordinária”, refere João Inácio Monteiro.

O responsável evoca a experiência da organização católica na gestão do Centro Local de Apoio à Integração de Migrantes (CLAIM) da Guarda, esperando que mais pessoas queiram permanecer na região.

“Preocupamo-nos em dar-lhes as melhores condições possíveis, em termos de assistência, saúde, alimentação”, elenca, apontando já às necessidades da educação, com a preparação de um protocolo com professores reformados que se disponibilizaram para o ensino de português ou de música.

“É preciso preparar estas pessoas para a vida, integrá-las”, indica João Inácio Monteiro, que recorda também as necessidades do próprio Interior, desertificado e envelhecido.

“Esta poderá ser uma oportunidade”, assume.

A Cáritas respondeu à solicitação do município local para integrar o gabinete de crise, na resposta à guerra na Ucrânia, num trabalho ser coordenado com as várias instituições envolvidas.

“Todos somos poucos para trabalhar nisso”, destaca o presidente da organização católica.

Foto: C. M. Guarda

Na madrugada de 9 de março, chegaram à Guarda os primeiros 43 refugiados vindos da Ucrânia, alojados na Pousada da Juventude; um novo grupo já contou com o acolhimento no Centro Apostólico D. João Oliveira Matos, da diocese local.

Sérgio Costa, presidente da Câmara Municipal da Guarda, sublinhou que “o povo português tem de ser solidário” com quem sofre.

A primeira resposta passou pela recolha de bens, seguindo-se o envio de um autocarro para Varsóvia

Numa fase seguinte, diz o autarca à Agência ECCLESIA, o objetivo é procurar a “estabilização pessoal” da situação dos refugiados, na vida pessoal e profissional, perante a incerteza do atual cenário de guerra.

Isabel Rabaça, mediadora cultural do CLAIM, trabalha na instituição desde que abriu portas, em 2008, e sublinha, que neste momento, a prioridade é “encontrar uma habitação”.

Foto: Agência ECCLESIA/HM

Vivaldo Pedro e Alina Kvitchasta, que se uniram pela dança na Ucrânia, chegaram a Portugal em fuga da guerra; ele é angolano e viajou com a filha, a mulher, a sogra e a sua mãe, quatro gerações ucranianas que deixaram para trás tudo o que tinham construído.

O refugiado evoca o dia 24 de fevereiro, em que a guerra começou, em Kharkiv.

“Acordamos com bombardeamentos”, relata, admitindo, que, inicialmente, pensou que este seria um “pequeno conflito na fronteira” com a Rússia.

“A cada hora que passava, ia piorando”, acrescenta Vivaldo Pedro.

Alina Kvitchasta diz nunca ter pensado que a situação “chegasse a este ponto”, sublinhando que a decisão de sair foi “difícil”, mas “não houve outra opção”, sobretudo pensando nas crianças.

O casal já tinha passado férias em Portugal e havia a perspetiva de um dia viver no país.

“O nosso objetivo foi sempre viver em Portugal, mas claro que ninguém quer vir nestas condições, de guerra”, confessa Vivaldo Pedro.

“Graças a Deus, fomos recebidos de braços abertos, muito bem”, acrescenta.

Oleksandra Kharytonova e a sua filha fugiram da Ucrânia, mas gostariam de regressar o “mais depressa possível” ao seu país.

“Espero que a guerra acabe depressa e que possamos voltar”, refere à Agência ECCLESIA.

A refugiada está em Portugal pela primeira vez e espera poder começar a aprender a língua.

“Estamos muito gratas ao povo português, que nos ajudou muito”, disse, em inglês.

A decisão de deixar Kiev, perante o avanço russo, é vista como um aviso para o resto da Europa: “Se a Ucrânia perder esta guerra, não sabemos o que vem a seguir, porque ninguém sabe o que Putin está a planear”.

O número de pessoas que fugiram da Ucrânia, devido à invasão russa atingiu os três milhões, incluindo mais de 1,4 milhões de crianças, anunciou hoje um porta-voz da Organização Internacional para as Migrações (OIM).

HM/OC

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