D. Stepan Sus, de visita a Portugal, alerta para necessidades humanitárias, agravadas em cenário de novo avanço russos sobre Kiev

Lisboa, 12 mar 2024 (Ecclesia) – D. Stepan Sus, bispo responsável pelo Departamento da Pastoral da Migração da Igreja Greco-Católica na Ucrânia, alertou para a ameaça de um avanço russo para outros territórios e o recurso a armas nucleares.
“No século XXI, há um país que começou a falar sobre a forma como pode utilizar armas nucleares. Isso é muito mau e penso que não se trata apenas da questão da Ucrânia, porque muitos países podem ser envenenados por esta ideologia russa”, disse hoje, em entrevista à Agência ECCLESIA.
O bispo ucraniano está em Portugal, a convite da Fundação AIS para dar o seu testemunho sobre a vida no seu país, em guerra desde que se iniciou a invasão a 24 de fevereiro de 2022.
Para o entrevistado, “não é possível” pedir diálogo com a Rússia enquanto se mantiver a agressão armada, falando em legítima defesa, por parte da Ucrânia.
“O ensinamento católico diz-nos que, quando falamos de guerra e falamos daqueles que se estão a defender, há situações em que o uso de armas e do exército é a única forma de parar a agressão”, realça.
“Esta é uma situação em que estamos a parar a agressão da Rússia”, acrescentou.
Segundo D. Stepan Sus, os ucranianos estão a preparar-se para uma “nova incursão” russa a Kiev, nos próximos meses.
“Não vejo esperança nesta situação porque não vemos verdadeiros líderes neste mundo. Estamos a viver num mundo onde existe uma crise de liderança e de líderes”, lamentou.
O responsável pelo Departamento da Pastoral da Migração da Igreja Greco-Católica na Ucrânia sublinhou a liderança espiritual do Papa, para os católicos, mas destacou que no plano político há desafios diferentes.
“Ele quer a paz, mas essa paz tem de ser estabelecida da forma correta. Não podemos dialogar com o mal. Aqueles que começaram a guerra podem parar esta guerra”, declarou.
O responsável lamenta o discurso de Moscovo, para quem “todos os ucranianos e também a Ucrânia são um erro da história”.
O povo ucraniano reza, defende-se e vive com esperança de que esta guerra termine em breve e que possamos voltar a viver num país pacífico, um país que faz parte da Europa, um país que é cristão e que quer respeitar a dignidade e os direitos humanos de todos”.
Questionado sobre eventuais negociações com os líderes russos, D. Stepan Sus pede que as armas se calem primeiro.
“Quando alguém quer falar-nos de paz, não pode, ao mesmo tempo, estar a matar as nossas famílias, os nossos parentes, as pessoas que precisam de proteção especial”, realçou.

O bispo fala de um quotidiano marcado por sirenes e alerta contra ataques de mísseis e drones, no telemóvel, que não deixam espaço ao silêncio.
“Penso que agora o mundo inteiro começou a compreender melhor a situação na Ucrânia. E sentimos que as pessoas querem ajudar-nos, mas por vezes não sabem como o podem fazer”, refere.
O entrevistado lamenta o falhanço das instituições internacionais responsáveis pela paz e fala numa crise de largas dimensões, na Ucrânia, que se tornou “um campo humanitário”.
“Abrimos todos os mosteiros e igrejas para as pessoas que se tornaram deslocadas internas. Mais de 6 milhões de pessoas migraram da parte oriental da Ucrânia para a parte central ou ocidental”, relatou.
Precisamos de apoio para responder às primeiras necessidades dessas pessoas. Também para ajudar na educação das crianças, bem como nalgumas necessidades de despesas diárias”.
Nesta crise, acrescenta D. Stepan Sus, muitas pessoas descobriram a Igreja numa “perspetiva totalmente diferente”, pela sua dimensão social, aberta a todos.
O bispo agradece o apoio da Função Ajuda à Igreja que Sofre (AIS), desde o primeiro momento e “em todos os dias, todas as horas, todos os minutos desta guerra”, sublinhando também o acolhimento reservado aos ucranianos em Portugal.
Quanto ao futuro, o responsável pelo Departamento da Pastoral da Migração da Igreja Greco-Católica na Ucrânia fala na necessidade de reconstruir edifícios e locais de culto, de projetos sociais e de distribuição de alimentos.
“Há muitas crianças órfãs cujos pais foram mortos durante os ataques russos. Temos 60 mil pessoas com próteses, que perderam membros durante a guerra”, acrescenta.
Outra prioridade será a recuperação das feridas psicológicas deste conflito.
“Começamos a falar nas conferências episcopais sobre a forma como nós, enquanto Igreja, podemos curar as feridas da guerra”, adianta D. Stepan Sus.
LS/OC
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