Agitação do «brexit» na Europa poderia ter sido evitada com um «enquadramento teórico decente», exemplifica o professor Américo Pereira
Lisboa, 04 jul 2016 (Ecclesia) – O contributo das várias áreas do saber para a paz foi o mote para a edição 2016 da Summer School, iniciativa da Universidade Católica Portuguesa que envolveu especialistas em Teologia, Filosofia, Sociologia, Serviço Social e também Física Nuclear.
Em entrevista à Agência ECCLESIA, o diretor deste projeto salientou que “o entendimento global”, presente no tema principal da Summer School, “joga-se” não só no “tabuleiro do relacionamento entre culturas” mas também no do “debate teórico e académico”.
“Veja-se o pânico que a impreparação cultural a nível teórico nesta coisa estranha do ‘brexit’ está a promover na Europa, que acordou depois de ter o problema entre as mãos, quando um tratamento teórico devidamente feito o teria evitado”, apontou o professor Américo Pereira.
Para aquele responsável, a agitação que está a acontecer, após o referendo popular que ditou a saída do Reino Unido da União Europeia, é apenas um exemplo de algo que poderia ter sido prevenido com o recurso a um “enquadramento teórico decente”.
Subordinado ao tema ‘Entendimento Global e compromisso com as periferias’, a Summer School 2016 teve como pano de fundo precisamente o Ano Internacional para o Entendimento Global que está a ser assinalado pela UNESCO, a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura.
O evento, que decorreu na UCP em Lisboa, contou com oradores como a vice-reitora da Universidade Católica Portuguesa, Inês Gil; o diretor do Secretariado Nacional da Pastoral Social, padre José Manuel Pereira de Almeida, o presidente da Cáritas Portuguesa, Eugénio Fonseca; e um especialista em Física Nuclear, António Marques de Carvalho.
A questão das “periferias” foi chamada para debate “porque trata-se de um dos grandes problemas” que afetam a humanidade “hoje em dia”, frisou o professor Américo Pereira.
“O mundo organizou-se basicamente a partir de tiranos e oligarcas, o resto são periferias, e portanto nós para podermos trabalhar a questão do entendimento temos de trazer para a persuasão do entendimento aquilo que é o grosso da população, que são as periferias”, acrescentou.
Partindo de temas atuais, como a pobreza e o ambiente, o desenvolvimento sustentável e o diálogo intercultural, a Summer School debruçou-se também sobre o papel dos media para a paz.
“Erradamente hoje pensa-se que a comunicação é apenas uma espécie de grande divulgadora dos conflitos e das guerras”, referiu Américo Pereira.
Aberta a pessoas dos mais diferentes saberes, a Summer School procurou selecionar o seu público “pela diversidade e não pela especialidade”.
Segundo o professor Juan Ambrósio, da comissão científica e executiva do projeto, “a ideia foi “criar um tempo e um espaço em que a universidade se pudesse abrir para fora e chamar gente de outras áreas para partilhar preocupações e reflexões”.
“Uma das notas que foi surgindo da reflexão é que a diversidade de perspetivas, de maneiras de refletir, é muito importante para esta questão do entendimento. Aliás, só há entendimento a partir desta partida plural, de diferentes pontos de vista que procuram construir algo em comum”, sustentou.
O professor da Faculdade de Teologia da UCP destacou o importante papel que a Teologia também pode desempenhar para esta problemática do “entendimento global”.
“Se bem que a Teologia tenha essencialmente a ver com uma reflexão acerca de Deus, ela também inclui uma reflexão sobre o ser humano, daquilo que nós julgamos ser o horizonte, o desejo, o sonho de Deus para o ser humano, e o que aí vemos é que é a dignificação da condição humana, a dignificação do mundo”, completou.
JCP