UCP: Reitora lamenta a persistência de «algum poder estatista» que condiciona o desenvolvimento da universidade

Isabel Capeloa Gil refere concretamente crescimento da Faculdade Medicina e afirma que a Teologia «tem de ser nomeada» pela FCT

Foto Agência ECCLESIA/MC

Lisboa, 01 fev 2025 (Ecclesia) – A reitora da Universidade Católica Portuguesa (UCP) disse que a Teologia tem de ser “nomeada” como um saber específico, apontou para a aposta na inovação “ligada à longevidade” e lamentou a persistência de “algum poder estatista” no ensino superior.

Em entrevista à Agência ECCLESIA no contexto do Dia da Universidade Católica Portuguesa, que se assinala este domingo, Isabel Capeloa Gil referiu-se ao desenvolvimento da Faculdade de Medina da UCP, que “tem tido resultados absolutamente extraordinários”, mas está impedida de admitir mais do que 50 alunos em cada ano.

Temos apenas uma limitação incompreensível, mas que demonstra algum poder estatista: a faculdade está a laborar muito abaixo da sua capacidade, porque só podemos admitir 50 estudantes por ano”, afirmou.

Isabel Capeloa Gil lembra que há “mais candidaturas, mais capacidade, o país necessita, a Europa necessita”, mas continua “uma certa persistência no condicionamento do desenvolvimento” da Faculdade de Medicina, que iniciou há quatro anos, em Sintra.

“Creio que será uma questão de tempo”, aponta a reitora da UCP, esperando que a situação seja ultrapassada a respeito de uma faculdade que é entendida como “faculdade de missão”, que tem no centro “os valores do cristianismo e dada dignidade humana” e a “ética de cuidado da Igreja Católica”.

Isabel Capeloa Gil, reitora da UCP desde 2016, iniciou este ano o terceiro mandato, afirmando aposta na “inovação e na longevidade”, criando um pelouro novo para esta área na equipa reitoral.

“Tínhamos o pelouro de ‘Investigação e Inovação’ no anterior mandato, neste momento os dois pelouros estão autonomizados e isso permite que cada um deles possa aprofundar mais aquilo que são as suas atividades, competências e a sua missão”, afirmou, acrescentando que o pelouro da inovação está ligado à aposta no empreendedorismo e também à longevidade.

Não são só os jovens, mas há toda uma área de inovação em pessoas que vão iniciar uma segunda ou terceira fase da sua vida, em que nós queremos também estar presentes”, apontou

A reitora da UCP referiu-se ao “Campus Veritate” como um dos “maiores projetos de investimento em infraestruturas de ciência e de ensino superior em Portugal”, afirmando que deve iniciar as obras, em Lisboa, este ano.

“São dois edifícios com 55 mil metros quadrados de área que vão transformar a face do campus de Lisboa da instituição”, referiu.

Isabel Capeloa Gil lembrou que a UCP “tem crescido muito” (desde 2017 aumentou 32% em número de estudantes”, “76% no número de estudantes internacionais” e tem nos vários campus 118 nacionalidades) e o último edifício construído em Lisboa, onde a “carga de ocupação” triplicou, acabou de ser construído em 1991.

Em entrevista à Agência ECCLESIA, Isabel Capeloa Gil valorizou o diálogo entre saberes e referiu-se ao ensino da Teologia como uma área própria do saber, lamentando que não ser  “nomeada” como tal pela Fundação para a Ciência e tecnologia (FCT).

Em Portugal, a Teologia, enquanto estrutura organizada de conhecimento e quando é avaliada externamente sobretudo pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, é aglutinada à Filosofia, o que é verdadeiramente uma pena porque não é reconhecida como uma área própria”, afirmou.

A reitora da UCP disse que “é fundamental que o país tenha a capacidade de formar teólogos e teólogos com qualidade, que sirvam a Igreja, que sirvam a sociedade” e que a área de avaliação na FCT da Teologia deixe de estar incluída na Filosofia.

“Era particularmente importante que a área de avaliação da Filosofia fosse ‘Filosofia e Teologia’. Que fosse nomeada”, afirmou.

A reitora da UCP defendeu que universidade “ensina a suspeita”, ensina a “suspeitar que nem tudo aquilo que dizem, nem tudo aquilo que se escreve, tem uma evidência por trás”.

“Uma educação para a suspeita não é uma educação para a desinformação, é uma educação para um olhar crítico baseada em valores sólidos. E por isso é que a educação baseada em valores é tão importante”, sublinhou, lembrando que “a educação não é neutra”.

“Temos que apostar naquilo que é a dignidade das pessoas, aquilo que são os valores que gerem as nossas sociedades, o direito dos indivíduos para a lei, o Estado de Direito, a democracia, o respeito, a civilidade, o conceito de verdade, de bem e de belo”, sustentou.

Isabel Capeloa Gil referiu-se ao perigo da desinformação e à manipulação da opinião pública para fins comerciais ou políticos, alertando para a incerteza de “um mundo extraordinário ou um mundo ameaçador”.

“O que me parece perturbador é a enorme proximidade de plataformas tecnológicas que têm um poder não controlado pelos Estados junto ao poder político. Seja nos Estados Unidos, seja na Rússia, seja na Hungria, na China, na Coreia do Norte, onde for”, alertou.

Em cada ano, o primeiro domingo do mês de fevereiro assinala o Dia da Universidade Católica Portuguesa, que este ano tem por tema “Saber como esperança”.

A entrevista à reitora da UCP, Isabel Capeloa Gil, é emitida este domingo, no programa 70×7, na RTP2, pelas 7h30.

PR

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