Documentário recorda poeta, político e jornalista da República que foi «escondido e esquecido»
Lisboa, 15 nov 2011 (Ecclesia) – O centro regional do Porto da Universidade Católica Portuguesa (UCP) estreia hoje um documentário sobre o “escondido e esquecido” Guerra Junqueiro (1850-1923), que inclui material de arquivo fílmico, fotográfico e sonoro.
Em declarações ao Programa Ecclesia (RTP2), Henrique Manuel Pereira, professor da Escola das Artes da UCP-Porto, refere que o documentário assinala um ponto “de confluência”, defendendo que “Guerra Junqueiro estava escondido, esquecido e torcido” por “questiúnculas, essencialmente, religiosas e políticas”.
Com a ‘A velhice do Padre Eterno’ (publicada em 1885), Guerra Junqueiro começa “a escrever a primeira parte do seu epitáfio, dentro da linha do torcido”, no entanto o mesmo autor assume uma posição “muito crítica”, mas de defesa da Igreja em relação à Lei de Separação da Igreja do Estado (1911).
O filme é uma “longa-metragem” sobre Guerra Junqueiro e é um documentário de “confluência, arquivo e redondo”, frisou Henrique Manuel, procurando “retratar as várias facetas de Junqueiro enquanto poeta, político, diplomata, homem de arte e pensador”.
Nesta abordagem – onde se recuperaram imagens de arquivo, “algumas delas absolutamente desconhecidas” – as “polémicas” não são esquecidas e “não é por acaso que foi dado o título ‘nome de Guerra’”, refere o docente.
Para enriquecer o documentário, Henrique Manuel sublinha que foi feita também “uma recolha exaustiva” de todas as composições que “vestiram de música os versos do Guerra Junqueiro” e nasceu a banda sonora ‘A música de Junqueiro’ também editada por aquela instituição.
O trabalho é de “confluência e redondo” dado que foram ouvidas cerca de 50 personalidades e duas cenas se impuseram desde na sua elaboração: “Abre com os funerais do Guerra Junqueiro e fecha com a última viagem”.
O autor abordado estudou Teologia em Coimbra e necessita de ser “contextualizado na sua época”, caso contrário, corre-se “o risco de dizer uma série de asneiras e fazer leituras ao lado”, disse Henrique Manuel.
O anticlericalismo de Junqueiro é, segundo o professor da UCP, “um anticlericalismo de um cristão” que “tenta destruir caricaturas de Deus”.
O trabalho ‘Nome de Guerra, a Viagem de Junqueiro’, resultante “de 100 horas de filmagens e dezenas de horas de entrevistas”, percorre “a vida, obra, pensamento e legado cultural do Poeta da República, constituindo ainda uma leitura polifónica da sua personalidade”, refere uma nota enviada à Agência ECCLESIA.
Eunice Muñoz, Rui de Carvalho, Manoel de Oliveira, Eduardo Lourenço e Mário Soares são algumas das personalidades que depõem na longa-metragem realizada por Henrique Manuel Pereira e produzida pelo departamento de Som e Imagem da Escola das Artes da UCP do Porto.
A obra, que divulga material em “grande medida” desconhecido até agora, é “o culminar do projeto ‘Revisitar/Descobrir Guerra Junqueiro’, que visa homenagear o histórico republicano”.
O documentário é exibido nas instalações do Porto da Universidade Católica (pólo da Foz), às 21h30, no auditório Ilídio Pinho.
PTE/LFS/RJM/OC