A Faculdade de Teologia de Braga apresentou esta passada sexta-feira o livro “Orósio de Braga, Comonitório & Livro Apologético”, de José Carlos Miranda, e conseguiu transformar a cerimónia numa verdadeira acção de resgate da auto-estima regional. O autor da obra salientou a íntima relação desta «personalidade brilhante» do século V com a cidade bracarense, que, naquela época, ainda fazia parte de uma das províncias do Império Romano, e recordou que «ainda hoje se pode encontrar a sua presença na toponímia de Braga, no Largo Paulo Orósio». Este pensador cristão da Igreja primitiva estudou no Seminário de Braga e, devido à sua sólida formação científica, interveio nas grandes questões culturais e religiosas da época. A propósito, o cónego Pio Alves de Sousa contou que «Orósio foi um dos primeiros bracarenses universais, pelas suas ligações às duas grandes referências religiosas e culturais da época: Santo Agostinho e São Jerónimo». «Pela sua obra também passam as grandes preocupações do seu tempo, relacionadas com a crise social desta região», disse o director da Faculdade de Teologia de Braga, numa alusão à tão propalada crise contemporânea. Por sua vez, Frei Isidro Lamelas enquadrou o lançamento da obra no âmbito da importância da Colecção Philokalia, que pretende «dar a conhecer as pérolas da nossa cultura, ou seja, as bases da nossa identidade, não só como cristãos, mas também como cidadãos da Europa e do povo português, que tanto deve a estes predecessores que inspiraram a nossa cultura e o nosso humanismo». «Foram estes textos que formataram a mentalidade europeia», realçou o director da Colecção da Alcalá, que já publicou as obras “Clemente Romano, Carta aos Coríntios”, “A Diogneto”, “Tertuliano, Apologético”, “Hermas, O Pastor” e “Didaché”. Para o franciscano, o lançamento deste livro pretende minorar «a lacuna do desconhecimento generalizado dos autores cristãos [Padres da Igreja] que escreveram num território posteriormente considerado português». O responsável da Colecção Philokalia asseverou que «uma cultura de indiferença em relação à nossa história pode levar ao esvaziamento da nossa própria identidade… podemos começar a ter alguma dificuldade em perceber para onde vamos». Na apresentação da obra, o director da Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa, padre Peter Stilwell, colocou a hipótese de se promover uma cerimónia de lançamento da Colecção numa livraria em Roma. Refira-se que na cerimónia também estiveram presentes, entre outros, o presidente da Comissão instaladora do Centro Regional de Braga da UCP, padre José da Silva Lima, e o Arcebispo emérito bracarense, D. Eurico Dias Nogueira.