Faculdade promoveu jornadas anuais, com olhar centrado no conflito que atinge a Ucrânia
Porto, 09 fev 2023 (Ecclesia) – O coordenador das Jornadas de Teologia no Porto, que se concluíram hoje, afirmou que a “guerra está na Europa” e merece ser refletida, justificando o tema da iniciativa deste ano.
“É necessário pensar, refletir sobre a questão da Teologia da Paz perante os fenómenos da violência e da guerra, e este pensamento deve abranger a história, a política e também como cristãos”, disse António Abel Canavarro, docente na Universidade Católica Portuguesa (UCP)
A Faculdade de Teologia do Centro Regional do Porto da UCP promoveu desde segunda-feira as suas jornadas anuais, subordinadas ao tema ‘Teologia da Paz perante os fenómenos da violência e da guerra’.
Para o coordenador da iniciativa, esta foi uma forma de refletir sobre “uma guerra que vai continuando e que de alguma forma ameaça a Europa”.
“É fundamental fazer um exercício de memória para que nas gerações próximas não se cai no mesmo erro”, acrescenta, visto que a “paz é um desejo, mas sabe-se mais o que é a guerra”.
Para o docente universitário, os valores cristãos “devem ser superiores aos nacionalismos”.
A utopia da paz “é possível e é desejável”, mas se a religião “não consegue trazer esse substrato de humanismo cristão e não consegue ajudar a ultrapassar aquilo que nos divide, ela pode ser sempre uma utopia”, frisou Abel Canavarro.
Se os muros que os homens vão levantando que janelas os cristãos estão a abrir para a paz? Só cada um, a partir de si e não estar à espera dos outros na abertura das janelas, se pode viver a paz”.
Jorge Teixeira da Cunha, professor de Teologia, apresentou uma reflexão sobre o tema ‘Novas armas para a paz’, na qual sublinhou é “fundamental mudar a Teologia moral da guerra”.
“Este processo de mudança começou com o Papa Bento XV, na I Guerra Mundial, que afirmou que não há maneira de admitir moralmente a guerra”, recordou.
A questão da guerra e da paz “necessita de uma mentalidade nova”, acrescentou.
Para o docente da UCP, o caminho da não-violência é “a única maneira de se pacificar a sociedade”.
Ao olhar para a guerra entre a Rússia e a Ucrânia, Jorge Teixeira da Cunha aponta à necessidade de “criar movimentos populares e de opinião, tanto na Ucrânia como na Rússia, que possam contradizer a ideia de que é pela beligerância que se consegue melhorar a vida dos povos e se consegue a paz”.
“Em vez de mandarmos ‘Leopards’ [tanques de guerra] e armas, para a Ucrânia devia-se mandar boas razões para alcançar a paz”, salienta.
No âmbito das jornadas de Teologia, realizou-se esta quarta-feira uma mesa-redonda sobre o tema ‘A Ucrânia entre a realidade e a esperança’, que contou com a presença de dois sacerdotes da Igreja Ortodoxa Ucraniana.
O padre Ivan Buhakov disse que o povo ucraniano “tem medo” de uma grande investida russa “por ocasião do primeiro aniversário da invasão” a 24 de fevereiro.
O sacerdote agradeceu “as ajudas dos países do Ocidente” ao povo ucraniano, mas não acredita que a guerra termine “tão cedo”.
LFS/OC