UCP: Nova Cátedra de Estudos Bíblicos Judaicos e Cristãos quer lançar pontes para a paz, superando preconceitos

Responsáveis falam em projeto «inovador», que promove diálogo científico e inter-religioso

Foto: Agência ECCLESIA/HM

Lisboa, 30 mar 2022 (Ecclesia) – A Universidade Católica Portuguesa (UCP) lançou a nova Cátedra de Estudos Bíblicos Judaicos e Cristãos, ‘Isaac Abravanel – Damião de Góis’, que assume o objetivo de passar de uma visão “exclusivista” para um “paradigma do diálogo e aprendizagem mútua” entre as duas tradições religiosas.

Luísa Almendra, professora da UCP na área de Estudos Bíblicos e diretora do novo projeto, assumiu esta terça-feira, em Lisboa, que a cátedra quer “representar um passo em frente crucial no aprofundamento e enriquecimento” na investigação da Bíblia, referência fundamental para as civilizações do Ocidente, superando “preconceitos, desentendidos e distorções”.

A especialista disse aos presentes na cerimónia de apresentação que o projeto vai privilegiar um diálogo científico e inter-religioso, dando corpo a uma “proposta inovadora”, que parte da experiência que várias instituições têm levado a cabo, nos últimos anos.

Luísa Almendra afirmou estar consciente da “necessidade de fortalecer o diálogo inter-religioso como um contributo para a paz” e do “papel decisivo da formação e investigação teológicas”.

A docente da UCP sublinhou, na sua intervenção, que o estudo conjunto por académicos cristãos e judeus é uma experiência “recente”, dado que os textos da Bíblia foram vistos, durante muitos séculos, como “fonte de divisão”.

A sessão pública de apresentação da nova cátedra do Centro de Investigação em Teologia e Estudos de Religião (CITER-UCP) foi presidida pelo magno chanceler da UCP, D. Manuel Clemente, e pela reitora da universidade, Isabel Capeloa Gil.

O cardeal-patriarca de Lisboa disse à Agência ECCLESIA que este é um projeto “importante, útil”, destacando a necessidade de conhecer o “melhor possível” a tradição de Israel.

“Para nós, cristãos, Jesus não vem abolir a Lei nem os profetas, veio dar-lhes pleno cumprimento”, precisou.

Alexandre Palma, diretor do CITER-UCP, explicou por sua vez que a Cátedra é “um corpo dentro deste organismo” e vem ao encontro do desafio do Papa, que convida as instituições teológicas a pensar-se “a partir da categoria do diálogo”.

“Esta cátedra é uma expressão, uma plataforma onde procuramos dar corpo a essa expressão”, acrescentou.

O padre César Silva, religioso verbita e professor de Escritos Paulinos na UCP, considerou que a nova cátedra vai “incentivar o diálogo”, a partir da Bíblia, que “interessa à generalidade dos crentes” das tradições judaica e cristã.

“Não vamos eliminar as diferenças, mas aprendemos a conhecer melhor o outro, a dialogar”, referiu, destacando a importância de “escutar dos judeus a forma como leem o Novo Testamento”.

A sessão contou uma mensagem do cardeal D. José Tolentino Mendonça, arquivista e bibliotecário da Santa Sé, que saudou o “encontro entre a tradição judaica e a tradição cristã no comentário e no amor pela Escritura”.

O cardeal, especialista no estudo da Bíblia, apresentou Isaac Abravanel e Damião de Góis como figuras “extraordinárias do humanismo português e europeu”, desejando que Estudos Bíblicos sejam “um lugar de fronteira”, abertos ao debate com as outras ciências.

A apresentação da nova cátedra contou ainda com intervenções da professora Amy Jill Levine (Hartford International University for Religion and Peace), e do professor Etienne Vetö (Universidade Pontifícia Gregoriana).

HM/OC

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