Alocução do Arcebispo de Braga, na Sessão Solene de Entrega de Diplomas da Universidade Católica Portuguesa A cidade de Braga viveu, há semanas, a experiência reconfortante da Semana Social. Tendo como pano de fundo a problemática do trabalho e a preocupante realidade do desemprego, ouviram-se mestres, oriundos de todos os quadrantes políticos e do saber, e uma ideia foi percorrendo todas as intervenções assim como o diálogo que suscitaram. O problema do desemprego é alarmante e só com a inovação e criatividade, aliadas a uma séria investigação científica, podem tornar-se caminho de solução numa sociedade post-industrial e, simultaneamente, condição indispensável para o desenvolvimento do país e das regiões. Creio que a Universidade Católica se deve situar neste contexto e ambiente do saber humano. São novos os desafios e devem ser novas as responsabilidades. A Populorum Progressio recordava-nos que não poderá acontecer um verdadeiro desenvolvimento integral se não é capaz de tornar o homem mais homem. Ou, como dizem os franceses: aprender a aprender para aprender a ser. Também Paul Riçoeur refere um pensamento curioso: “A ausência de projectos colectivos na nossa sociedade conjuga-se com o desaparecimento das normas. A experiência dramática do nosso tempo é esta convicção confusa e crescente que, pela primeira vez, a nossa herança cultural não parece capaz duma reinterpretação criativa, duma projecção em direcção ao futuro”. Este projectar o futuro, salvando o presente, reconhece-se na formação que muitos interpretam como meramente profissional desconsiderando a humana. Aqui situo a grande responsabilidade duma Universidade Católica: formar homens e mulheres, dotados duma competência técnica acrescida com a capacidade de reflectir sobre os problemas humanos e de indigitar propostas de solução. A sociedade moderna não necessita somente de pessoas competentes na dimensão científica, técnica e económica, elaborando um esquema mental de tipo mais ou menos liberal, socialista ou capitalista. Importa poder contar com realizadores que guiam a sociedade para um mundo mais humano (homo faber, homo sapiens, homo ludens, homo religiosus). Num dia de entrega de diplomas é sempre oportuno pensar na razão de ser duma Universidade Católica num confronto com a formação recebida e na responsabilidade que dela se espera por parte da Igreja e da Sociedade. Nunca devemos ter medo de associar, numa unidade intrínseca, a realidade da universidade com o adjectivo católica que a qualifica. Se não está na vanguarda dos objectivos duma universidade perde o seu enquadramento cultural e histórico; se desconhece o adjectivo católica desvirtua-se e perde a verdadeira identidade. Só uma tensão harmónica entre os dois termos a justifica. Que importa possuir técnicos competentes sem a paixão pelo Evangelho a colocar no coração da cultura e das instâncias laborais ou governamentais? Serão úteis à Igreja aqueles católicos sem competência e credibilidade junto das pessoas e do domínio do saber e agir humano? Quando, como bispo da Igreja Católica, me empenho nos destinos da Universidade Católica e quando, como Arcebispo de Braga, despendo energias e dinheiro para possuir um Centro Regional na cidade é para que a sua influência se sinta na construção desta sociedade que nos rodeia nas suas riquezas maravilhosas e nos seus problemas cuja solução não permite adiamentos. O Cardeal Poupard referia que a Igreja não pode deixar de incarnar-se na história, não como estátua de sal a dissolver-se no mar mas como fermento evangélico capaz de levantar todo o contexto social e humano. Com os vossos diplomas rezo para que encontreis emprego e para que com a vossa competência e capacidade de inovação, crieis iniciativas a proporcionar novos lugares de trabalho. Dou graças a Deus por este ano e continuo na esperança dum Centro Regional atento aos desafios e empenhado no discernir as melhores soluções. Continuamos todos comprometidos, pois o trabalho não é de alguns mas é da Igreja. + Jorge Ferreira da Costa Ortiga, Arcebispo Primaz