Turquia: Papa condena «pecado gravíssimo» da guerra

Francisco disse que a Igreja Católica está pronta para unidade «plena» com Igreja Ortodoxa

Istambul, Turquia, 30 nov 2014 (Ecclesia) – O Papa condenou hoje na Turquia o “pecado gravíssimo” da guerra, recordando as vítimas dos países vizinhos, numa alusão indireta à ação dos jihadistas do Daesh, o autoproclamado Estado Islâmico.

“Algumas nações vizinhas estão marcadas por uma guerra atroz e desumana” declarou, perante o patriarca ecuménico de Constantinopla (Igreja Ortodoxa), Bartolomeu I, em Istambul.

“Perturbar a paz de um povo, cometer ou consentir qualquer género de violência, especialmente contra pessoas frágeis e indefesas, é um pecado gravíssimo contra Deus, porque significa não respeitar a imagem de Deus que está no homem”, acrescentou.

O Papa manifestou, a este respeito, “profunda dor” pelas vítimas do “atentado sem sentido” numa mesquita em Kano, no norte da Nigéria, que provocou pelo menos 120 mortos.

Francisco falava durante a Divina Liturgia que decorreu na igreja de São Jorge, por ocasião do Apóstolo Santo André, irmão de São Pedro, patrono do Patriarcado Ecuménico.

“A voz das vítimas dos conflitos impele-nos a avançar apressadamente no caminho de reconciliação e comunhão entre católicos e ortodoxos”, sublinhou, após defender que católicos e ortodoxos se encontram a “caminho para a plena comunhão”, após 960 anos de separação.

O Papa sublinhou por isso que há “sinais eloquentes” de uma unidade “real, embora ainda parcial”.

“A Igreja Católica não tem intenção de impor qualquer exigência, exceto a da profissão da fé comum, e estamos prontos a buscar juntos, à luz do ensinamento da Escritura e da experiência do primeiro milénio, as modalidades pelas quais garantir a necessária unidade da Igreja nas circunstâncias atuais”, disse.

A intervenção precisou, neste contexto, que o autêntico diálogo é sempre “um encontro entre pessoas com um nome, um rosto, uma história, e não apenas um confronto de ideias”.

“Encontrar-nos, olhar o rosto um do outro, trocar o abraço de paz, rezar um pelo outro são dimensões essenciais do caminho para o restabelecimento da plena comunhão para a qual tendemos”, assinalou o Papa.

Esta unidade é essencial para acolher os apelos dos “pobres”, dos que “sofrem por uma grave desnutrição, pelo desemprego crescente, pela alta percentagem de jovens sem trabalho e pelo aumento da exclusão social, que pode induzir a atividades criminosas e até mesmo ao recrutamento de terroristas”.

Católicos e ortodoxos têm de estar juntos para superar as “causas estruturais da pobreza, a desigualdade, a falta de um trabalho digno, da terra e da casa, a negação dos direitos sociais e laborais”.

“Como cristãos, somos chamados a vencer, juntos, a globalização da indiferença – que, hoje, parece deter a supremacia – e a construir uma nova civilização do amor e da solidariedade”, acrescentou o Papa.

Francisco recordou o 50.º aniversário do encontro entre o patriarca ecuménico Atenágoras e o Papa Paulo VI, em Jerusalém, um gesto que o atual pontífice e Bartolomeu I repetiram, em maio.

Esta visita à Turquia, iniciada na sexta-feira, acontece poucos dias depois da celebração dos cinquenta anos da promulgação do decreto do Concílio Vaticano II sobre o ecumenismo, ‘Unitatis redintegratio’.

“Trata-se de um documento fundamental com que foi aberta uma nova estrada para o encontro entre os católicos e os irmãos de outras Igrejas e Comunidades eclesiais”, declarou Francisco.

“São os jovens – penso, por exemplo, nas multidões de jovens ortodoxos, católicos e protestantes que se reúnem nos encontros internacionais organizados pela comunidade de Taizé – que hoje nos pedem para avançar rumo à plena comunhão”, disse ainda.

O Papa elogiou o “riquíssimo património das Igrejas do Oriente”, observando que o restabelecimento da plena comunhão “não significa submissão de um ao outro nem absorção, mas sim acolhimento de todos os dons que Deus deu a cada um”.

“A única coisa que a Igreja Católica deseja e que eu procuro como bispo de Roma, ‘a Igreja que preside na caridade’, é a comunhão com as Igrejas ortodoxas”, prosseguiu.

O discurso do patriarca ecuménico realçou, por sua vez, os desafios levantados às Igrejas cristãs pelas guerras, “muitas vezes até em nome de Deus”, da distribuição injusta dos recursos e da crise ecológica.

OC

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