Padre Miguel Lopes Neto, Pastoral do Turismo – Portugal
Numa época onde a polarização e as atrocidades imorais, cometidas por alguns dos seus membros, afastam, cada vez mais, os cristãos da Igreja Católica, a Santa Sé deu, esta semana, um sinal de que o Turismo e a sua Pastoral é vista, por Francisco, como uma das ponte para o primeiro anúncio da Fé.
Há muito que esta indústria, pelos contactos diretos, espontâneos e não mediatizados que permite, entre homens e mulheres de culturas e modos de vida diferentes, representa uma força viva ao serviço da paz, bem como um fator de amizade e compreensão entre os povos do mundo[1]. E de evangelização.
Por isso, desde o dia 1 de outubro, a Pastoral do Turismo passou a integrar as áreas temáticas ligadas ao novo Dicastério para a Evangelização[2], criado pela Constituição Apostólica Praedicate Evangelium, de março de 2022. O Turismo é mesmo apelidado como a “Indústria da Paz”, dado que permite o contato e o convívio entre seres humanos de diferentes culturas, etnias e formas de viver e a aquisição de conhecimento do outro e do diferente, fatores que diminuem/eliminam a discriminação, ou a rejeição do que nos é (ou era) estranho. É, pois, uma atividade altamente inclusiva, já que, criando muito emprego para pessoas com diferentes níveis de qualificação, permite que todos possam ser integrados no mercado de trabalho. E, como ponto central das preocupações de quem trabalha estas questões, há uma outra potencialidade na atividade turística: aproximar todos do amor universal de Deus pelo mundo que ele criou.
Hoje, as necessidades, anseios e procuras do turista tendem, em algumas circunstâncias, a ser diferentes. A realidade aponta para uma procura de bem-estar mais integral, uma maior segurança, uma busca pela natureza, pelo original ou pela simplicidade, uma necessidade do espiritual e do religioso. Neste sentido, importa encarar o Turismo Religioso como uma possibilidade de responder a uma incerteza e a uma demanda de segurança emocional, que todos sentimos, sendo este produto turístico algo que acrescenta ao turista, que se consubstancia numa séria proposta de atribuição de sentido a muitas questões da sociedade contemporânea.
A Santa Sé, consciente de todas estas linhas de força, quer promover uma Pastoral do Turismo que acolhe todas as visões e não mais vive cerrada em ideias limitadas e contidas, caminhando no sentido de vencer os conflitos e as diferenças. Essa “nova Pastoral”, já não somente preocupada com o peregrino, mas com todos os turistas, uma Pastoral que assenta a sua ação na ligação e disponibilidade para estar ao lado de quem trabalha neste sector, tornar-se-á verdadeiramente útil e visível a todos, servindo o povo de Deus na sua totalidade.
Isso significa utilizar o património cultural da humanidade no sentido em que este possa contribuir para o enriquecimento dos seres humanos e a preservação do meio ambiente, sendo «uma atividade vantajosa para os países e comunidades anfitriões». Turistas e anfitriões, todos os agentes relacionados com atividades desta área e, sobretudo, aqueles que trabalham na Pastoral do Turismo, são elementos fundamentais para a construção da fraternidade e da amizade social e, assim, descobrirem e transmitirem a salvação vinda através de Cristo. Ou seja: todos, criando sinergias e trabalhando em cooperação, estaremos a ser sinal vivo de que é possível, estabelecendo uma aliança entre todas as mulheres e homens de boa vontade, sermos mais fraternos e respeitadores. A arte do discernimento e a capacidade coletiva de alcançar novas sínteses representam desafios de época, dos quais depende um futuro em escala humana para todos.
Estas perspetivas serão objeto de novas reflexões durante os trabalhos do VIII Congresso Mundial da Pastoral do Turismo, dedicadas ao tema “Turismo e Peregrinações: caminhos de Esperança”. A Conferencia Episcopal Portuguesa estará representada pelo Bispo, D. Manuel Quintas e pela direção da Pastoral do Turismo – Portugal, que vai expor os seus projetos e dar a conhecer a sua equipa de trabalho.
De facto, olhamos com esperança para a vivacidade do setor, para todas as pessoas envolvidas e responsáveis por ele, para a recuperação que se vê neste ano pós pandemia. Retomando as palavras do Papa Francisco, convidamos todos a «manter acesa a tocha da esperança» e «fazer todo o possível para que todos recuperem a força e a certeza de olhar para o futuro com a mente aberta, o coração confiante e com visão».
[1]OMT/UNWTO, Código Mundial de Ética do Turismo, 1 de outubro de 1999, https://www.unwto.org/global-code-of-ethics-for-tourism.
[2]https://www.vatican.va/content/francesco/it/motu_proprio/documents/20220930-rescriptum-pastoraleturismo.html