Mais de 84 anos depois, o mausoléu de S. Martinho de Dume vai regressar à freguesia de onde foi roubado em 1918, num período politicamente conturbado de Portugal. A história do túmulo foi contada pelo padre Armindo Alves, pároco da Mausoléu regressa mais de 80 anos depois freguesia e um dos que mais lutou para que este regresso seja, brevemente, uma realidade. O túmulo é um sarcófago em pedra de ançã, com trabalho em relevo. Tem dois metros e cinco de cumprimento e 0,39 de altura. Na cabeceira tem 0,67 metros e 0,57 nos pés. Esteve durante vários séculos na capela-mor da Igreja Paroquial de Dume. Em 1911, depois da implantação da República e da separação da Igreja do Estado, o sarcófago foi arrolado como pertença da Igreja, assim como todos os objectos que então nela se encontravam. E foi em 1918 que foi «arrebatado» da igreja pela calada da noite e levado para o Museu D. Diogo de Sousa, onde ficou arrumado numa arrecadação, no meio do lixo e utensílios de limpeza, tendo sofrido fracturas que levaram anos a restaurar. O pedido de devolução foi oficializado há 25 anos, num processo longo e difícil. Há sete anos foi intensificado pela Comissão Fabriqueira que contactou o então director do Museu D. Diogo de Sousa, Rigar de Sousa, que demonstrou sensibilizado com o pedido e se prontificou a colaborar para que as diligências tivessem um bom fim. «A dita batalha parece estar a chegar ao fim. Oxalá que o acontecimento de hoje seja a última etapa, antes da chegada do dito mausoléu. Quando isto acontecer, todos lucraremos: a paróquia e a freguesia ficarão mais enriquecidas e ficará a cultura em geral mais ao alcance de todos os residentes e dos que nos venham visitar, nacionais e estrangeiros», disse o padre Armindo Ribeiro Alves. A população juntou-se, ontem, às autoridades civis e religiosas da freguesia de Dume e do concelho de Braga para participar na cerimónia de bênção da primeira pedra para a construção de um edifício que vai acolher o Túmulo de S. Martinho de Dume. Todos estão convencidos de que com o regresso do túmulo e com a musealização das ruínas, Dume vai entrar na rota dos monumentos nacionais de visita obrigatória. No entanto, ao contrário do que foi previamente anunciado, a cerimónia não teve as presenças esperadas, nomeadamente de um representante do IPAAR, de Luís Fontes, da Unidade de Arqueologia da Universidade do Minho, nem da directora do Museu D. Diogo de Sousa, Isabel Silva. Esta enviou, ainda assim, uma mensagem, onde reafirma o compromisso assumido no protocolo assinado, deste que sejam respeitadas as condições estabelecidas. Mesmo o presidente da Câmara Municipal de Braga, Mesquita Machado não se fez acompanhar de nenhum vereador, como foi feito crer. O período pré-eleitoral terá inibido algumas presenças no lançamento de uma obra de inegável valia patrimonial e histórica em termos locais regional e nacional. A cerimónia foi presidida por D. Carlos Pinheiro, Bispo Titular de Dume, ele que simbolicamente ocupa a cadeira do bispo S. Martinho de Dume. A obra é a primeira fase de uma intervenção de grande envergadura na freguesia. Além do edifício onde vai estar o túmulo de S. Martinho, cuja primeira pedra foi benzida ontem; vai ser construída uma galeria de cerca de dois mil e quinhentos metros quadrados, interligando as várias secções das ruínas romanas, com destaque para um balneário romano e para a Basílica do santo, considerado um dos mais antigos mosteiros construídos no ocidente. Estas duas estruturas estão classificadas como Património Nacional. O projecto prevê ainda a reconversão da casa da Quinta da D. Rita, num espaço museológico para acolher todo o espólio encontrado, bem como os achados que possam ser descobertos nos trabalhos de prospecção. Problema processual adia arranque da obra A data da inauguração da obra continua marcada para o dia 6 de Agosto de 2006, dia da Festa de S. Martinho. No entanto, as obras já não vão ter início no dia 16, nem tem dia para começar. Embora o presidente da Junta de freguesia de Dume esteja confiante que elas arranquem dentro de oito a 15 dias, o certo é que uma das empresas alegou irregularidades no processo e tudo está parado à espera da decisão judicial. Das cinco construtoras previamente convidadas a apresentar propostas, foram escolhidas duas, a Construbracara e a Construtora da Loureira. Uma delas vai executar a empreitada. No seu discurso, Mesquita Machado declarou-se satisfeito por estar a partilhar a alegria da população de Dume por verem que, proximamente, podem ter de volta o túmulo de S. Martinho na freguesia. O autarca não esqueceu a longa demora até o processo estar desbloqueado. «Quando se trata de património há sempre muitos obstáculos burocráticos. Mas finalmente vai chegar ao fim. Trata-se de um projecto de qualidade que vai valorizar o património visível e o escondido. Acredito que Dume vai entrar na rota turística dos monumentos. Será motivo de orgulho para os dumienses e uma mais valia para Braga para o País», disse. O presidente da edilidade bracarense prometeu apoiar financeiramente a obra. «A Câmara sente na obrigação de fazer esta obra que vai custar umas centenas de milhares de contos. Mas as principais carências de Dume estão resolvidas, por isso, não será por falta de dinheiro que esta obra não estará pronta em breve». Por sua vez, Constantino Caldas, presidente da Junta de freguesia de Dume, realçou o papel de muita gente para que, 25 anos depois, o sonho esteja prestes a tornar uma realidade. Daí ter considerado que a cerimónia foi um momento histórico. «Em termos históricos, religioso e cultural é a maior obra que alguma vez se irá fazer na nossa freguesia », acredita. O Bispo Titular de Dume também estava satisfeito pelo arranque das obras. Além do calor que se fazia sentir, sentiu também o «calor da alma das pessoas», por verem restituído um bem que lhes tinha sido retirado «abusivamente em 1919. A arquidiocese de Braga, especialmente os seus paroquianos, regozijam- se com esta iniciativa», afirmou. D. Carlos Pinheiro aplaude também as autoridades e todos aqueles que estão a contribuir para o regresso do sarcófago que tem as relíquias de S. Martinho de Dume. O padre Armindo Ribeiro Alves, pároco de Dume, e o presidente da Assembleia de freguesia também se pronunciaram sobre a obra, regozijando-se com a bênção da primeira pedra, que significa o começo dos trabalhos.